No dia 4 de Fevereiro de 1883, a Guarda Civil encontrou um cadáver em avançado estado de descomposição no campo do Algarrobillo, no território municipal de Jerez de la Frontera. O falecido era o jovem trabalhador à jorna Bartolomé Gago Campos, conhecido como Blanco de Benaocaz. A autópsia determinou que morrera dois meses antes, devido a vários disparos. As investigações rapidamente apontaram para o lavrador Francisco Corbacho como autor do crime.
À primeira vista, tratava-se de um crime como tantos outros. Disse-se que a causa estava relacionada com dívidas, pois a família Corbacho devia uma soma avultada a Gago. Outros afirmaram que Gago tentara seduzir várias mulheres, entre elas uma sobrinha dos Corbacho. No entanto, as pesquisas e os interrogatórios da Guarda Civil chegaram a uma conclusão surpreendente: o assassínio fora ordenado por uma organização política criminosa, a Mano Negra.
Patíbulo em Jerez
Dizia-se que este grupo organizava todo o tipo de sabotagens e atentados contra os proprietários agrícolas da Andaluzia, com o intuito de provocar uma revolução social e instaurar o comunismo. Organizados de forma clandestina, não hesitavam em exercer represálias contra qualquer delator para manterem a disciplina. Foi assim que, segundo a Guarda Civil, Pedro Corbacho, chefe da organização em Jerez de la Frontera, deu a ordem de execução de Gago. No dia 5 de Junho, iniciou-se o julgamento no Palácio de Justiça de Jerez, perante uma audiência numerosa. Durante os interrogatórios, os acusados negaram fazer parte de uma associação secreta, embora admitissem pertencer a grupos socialistas dedicados à assistência mútua. O tribunal condenou sete dos acusados à morte e outros oito a 17 anos de prisão. Em Abril de 1884, o Tribunal Supremo aumentou as condenações à morte para 13, embora os indultos dogoverno tenham reduzido novamente o número para sete. Os réus foram executados em Jerez de la Frontera, dois meses mais tarde.
Jerez de la Frontera. Vista da Catedral de São Salvador, construída no século XVII.
Nesses mesmos meses, ocorreu outro crime perto de El Puerto de Santa María. A 2 de Abril de 1883, no interior da estalagem Venta del Empalme, foi encontrado o cadáver seminu do seu proprietário, Antonio Vázquez, numa poça de sangue. Na noite anterior, um grupo de quatro homens entrara no mísero local para beber. Depois de consumirem alguns copos de vinho, ameaçaram o taberneiro com uma pistola e uma navalha para o roubarem. Apesar da miséria em que o tendeiro vivia, os ladrões tinham descoberto que ele entesourava uma importante soma de dinheiro. Perante as súplicas e recusas do taberneiro, um dos ladrões, chamado Antonio Roldán, perdeu a cabeça, lançou-se ao pobre homem e cortou-lhe o pescoço. Os delinquentes só obtiveram duas pesetas e alguns barris de vinho.
Pouco depois, os criminosos foram detidos pela Guarda Civil. Eram trabalhadores rurais, a maioria dos quais na casa dos 20 anos, embora o mais velho, Antonio Roldán, tivesse 42 anos. Quase nenhum tinha antecedentes criminosos e possuíam pouca ou nenhuma formação.
No entanto, a polícia apressou-se a relacioná-los com a Mano Negra. O julgamento realizou-se a 26 de Maio de 1883, em El Puerto de Santa María, e, dois dias depois, quatro acusados foram condenados à morte por roubo e homicídio. Das três condenações à morte, o governo