Vanda Santos, investigadora do Departamento de Geologia da Universidade de Lisboa, e Guadalupe Jácome, professora na Escola Secundária Gil Eanes, em Lagos, reflectiram sobre a dificuldade de ensinar geociências no contexto da sala de aula.

Lembraram-se de chamar a atenção para as obras de arte como recurso didáctico para explicar fenómenos difíceis de entender como a erosão costeira, a formação de montanhas ou a diversidade de paleoambientes. “Praia Grande”, um óleo de 1880 do pintor Alfredo Keil, constituiu um bom estudo de caso de informação geológica que se pode extrair de uma pintura com mais de um século.

Keil

Cortesia: Museu Nacional de Arte Contemporânea. Fonte: “Praia Grande By Alfredo Keil (1880), A Didactic Resource For Teaching Geosciences” de Vanda Santos e Guadalupe Jácome

1.  Paleoambientes

Esta falésia conta uma história com 120 milhões de anos que o próprio Keil não imaginaria. Mais de um século depois da criação da obra, dois geólogos identificaram trilhos de dinossauro nesta parede, que no Cretácico era o fundo lamacento de uma planície de maré.

2.   Estratos verticais

Neste ponto da rocha, reside um velho capítulo da história geológica de Sintra. Estes estratos que se formaram na horizontal foram empurrados e verticalizados pela ascensão do material magmático que deu origem à serra de Sintra.

3.   Leixões

Sugerem a força da erosão costeira diferenciada que deixa pináculos isolados que acabam por desaparecer.

4.   A areia

A areia de duas praias nunca é igual, apesar de, à primeira vista, as semelhanças serem inegáveis. Em areias como a da Praia Grande, ficam provas da alteração das rochas, de contributos de rios, de deriva litoral e, naturalmente, da força erosiva do mar.

5.   Blocos na base da falésia

A erosão costeira é um processo longo e desigual que pode desmontar uma falésia maré a maré. Os blocos documentam a desagregação da parede rochosa cuja base o mar vai escavando. As derrocadas, frequentes e perigosas, são responsáveis pelo recuo das falésias.