A existência da mais recente, Sandy (Arenosa), em frente da costa da Austrália, foi desmistificada em 2012. Para os primeiros marinheiros, o oceano era um lugar de brumas e de desembarques arriscados. Quem poderia adivinhar o que iriam encontrar? Os mapas do Atlântico, em particular, mostravam ilhas fantásticas que tentavam os exploradores com promessas de criaturas exóticas e civilizações perdidas.

1. A Atlântida

A grande ilha de Atlântida era um paraíso terrestre, segundo o diálogo Crítias de Platão. Situada para lá dos Pilares de Hércules (o actual estreito de Gibraltar), era o lar de um povo divino “famoso pela sua beleza corporal e perfeição da sua virtude”. A cidade interior, com um templo central de ouro, prata e cobre, era uma circunferência perfeita rodeada de canais. Os reis da Atlântida governavam a partir do palácio protegido por uma tripla muralha de latão, estanho e cobre. “Ao recebê-lo do seu predecessor, cada rei acrescentava-lhe melhoramentos”, escreveu Platão. “E fazia os maiores esforços para superar o rei que o antecedia até o converter num castelo maravilhoso pela magnitude e beleza da sua construção.”

Atlântida

Segundo a lenda, Posídon criou a Atlântida.

Nas terras férteis da ilha, segundo a lenda, haveria abundância de tudo – de fruta a elefantes. Todavia, com o tempo, os poderosos habitantes da Atlântida, “incapazes de suportar a carga das suas possessões”, tornaram-se beligerantes e gananciosos. Zeus decidiu castigá-los com um golpe devastador. Durante um dia e uma noite, “portentosos sismos e inundações” sacudiram a ilha até esta desaparecer sob as ondas.

Timeu e Crítias, as duas obras escritas por Platão no século IV a.C. onde surge a Atlântida, não pretendiam ser relatos históricos, mas sim fábulas sobre a governação ideal e a corrupção do poder. De todo o modo, a narração do afundamento de uma civilização teve tal eco que se converteu num dos temas lendários mais famosos. Escritores e académicos de todos os tempos, incluindo Sir Francis Bacon e William Blake, procuraram-na ou invocaram-na. No entanto, foi um escritor do século XIX quem recuperou a Atlântida para o imaginário moderno. Em Atlantis, The Antediluvian World, o político norte-americano Ignatius Donnelly apresentava uma mistura de supostas provas geológicas, botânicas, linguísticas e de arte antiga para sustentar que a Atlântida existira realmente e que os sobreviventes se tinham dispersado pelo mundo antigo. O livro foi um best-seller mundial.

Atlântida

A capital da Atlântida segundo Platão, que dizia que a ilha era maior do que a Líbia (o Norte de África) e a Ásia juntas.

Platão assegurou que a capital da ilha era composta por três círculos concêntricos de terra alternados por outros três círculos de água. No círculo de terra exterior, encontrava-se o grande porto e existiam ginásios, um estádio para corridas de cavalos, as residências dos guardiões e os jardins. O círculo de terra seguinte estava protegido por uma muralha coberta de estanho e nele existiam mais casas de guardiões. No círculo de terra interior, defendido por uma muralha de oricalco (metal valioso, mas imaginário), encontrava-se a acrópole, com o palácio real rodeado por uma muralha de pedras negras e brancas, o templo de Cleito e Posídon, rodeado por uma muralha de ouro, e o Templo de Posídon, coberto de ouro, prata e oricalco.

A Atlântida foi um lugar real? Tal como a descreveu Platão, certamente não. Contudo, muitos historiadores e arqueólogos acreditam que uma grande catástrofe (um terramoto, um maremoto ou uma grande inundação) terá inspirado a história de Platão. O episódio por norma mencionado é o da ilha de Santorini. Este antigo núcleo comercial, conhecido como Tera, foi devastado há cerca de 3.600 anos por uma enorme erupção vulcânica que também terá provocado um maremoto. A recordação desse cataclismo talvez tenha sido a semente do relato de Platão. No entanto, também se pensou que a verdadeira Atlântida poderia estar em Espanha, nas Bahamas ou na Índia, entre outros locais. Apesar dos fracassos, há quem continue a procurar a Atlântida, ou a terra que inspirou o mito platónico, em lugares submersos de todo o planeta.

2. Thule

A lendária Ilha Atlântica de Thule foi descrita pela primeira vez pelos antigos gregos. Com o passar dos séculos, o seu nome adquiriu um significado mais abrangente: qualquer lugar remoto do mundo podia ser conhecido como “Última Thule”. O explorador grego Pítias escreveu acerca de Thule no seu livro Sobre o Oceano. Pítias foi um viajante intrépido que, no século IV a.C., visitou e descreveu o Noroeste da actual Europa.

Segundo contou, Thule encontrava-se a seis dias de navegação rumo ao Norte das Ilhas Britânicas, já no círculo polar árctico. A sua costa seria uma mistura de terra, mar e ar (numa alusão à névoa) que designa como pneumon thalattios, o nome das medusas, pela semelhança dos blocos de gelo flutuantes com esses seres marinhos. Este território remoto começou a surgir nos mapas. Durante séculos, os geógrafos relacionaram-no com a Islândia, a Gronelândia, a Noruega ou a Nova Escócia (porque Pítias descrevia marés espectaculares). O nome de Thule continua vivo na Gronelândia, na base aérea de Thule; nas ilhas Sandwich, uma das quais se chama Thule do Sul, e no 69.º elemento da tabela periódica, o túlio. Os historiadores actuais não sabem com certeza se aquele território remoto de Pítias se baseava num lugar real ou se só representava qualquer lugar “Do Espaço e do Tempo liberto”, como o descreveu Edgar Allan Poe no seu poema O país dos sonhos.

3. Antília

Invulgarmente rectangular, a ilha de Antília surgiu em muitos mapas do século XV em plenos Descobrimentos, quando os navios europeus procuravam novas rotas por todo o globo. Segundo a lenda espanhola e portuguesa, esta ilha, situada a oeste da Península Ibérica, foi fundada pelos bispos fugidos após a conquista muçulmana do ano de 711.

Um texto escrito pelo geógrafo Martin Behaim acerca do globo terrestre que construiu em 1492 afirma que “a ilha de Antília, conhecida como a ilha das Sete Cidades, era habitada por um arcebispo do Porto, seis bispos e homens e mulheres cristãos que fugiram de barco a partir de Espanha juntamente com o seu gado e bens”. Surgiram rumores de que naquelas cidades havia prata e até mesmo ouro.

Antília

Dizia-se que os colonos portugueses e espanhóis tinham fugido para a ilha de Antília.

Estas histórias tentadoras incentivaram Dom Afonso V e Dom João II a autorizar expedições para encontrar e colonizar a ilha, que terminaram em fracasso. Como acontecia com outras ilhas atlânticas ilusórias, dizia-se que Antília desaparecia quando os navios se aproximavam dela.

A lenda de Antília talvez se tenha inspirado nos Açores ou nas Canárias, embora estas fossem sobejamente conhecidas. Alguns historiadores especulam que Antília talvez tenha sido um primeiro vislumbre do continente americano. A ilha de Antília nunca foi descoberta, mas deu nome ao arquipélago das Antilhas, nas Caraíbas.

4. Ilha Brasil

A Ilha Brasil, ou Hy Brazil, surgiu em muitos mapas europeus do século XIV ao século XIX. Nunca encontrada, mas frequentemente procurada, era usualmente localizada a oeste da Irlanda. A ilha Brasil teve a sua origem nos mitos célticos das ilhas encantadas ocidentais. Estava escondida por bruma, mas surgia a cada sete anos. Esta nebulosa lenda incitou vários marinheiros a zarpar à sua procura. Os registos de Bristol do século XV indicam que um tal Thomas Croft partiu equipado com dois navios “sem intenção de comerciar, mas sim de explorar e encontrar uma ilha conhecida como a ilha de Brasil”.

Ilha Brasil

O marinheiro genovês Giovanni Caboto (em inglês, John Cabot).

Aparentemente também o navegador Giovanni Caboto pensava na ilha Brasil quando navegou rumo à América do Norte em 1498. No entanto, os seus cinco navios perderam-se e não se conhecem pormenores sobre a sua viagem. É possível que a ilha misteriosa se inspirasse em grandes bancos de peixe a oeste da Irlanda ou que as suas aparições ocasionais fossem fruto de uma inversão térmica que leva a tomar os objectos distantes como se flutuassem no horizonte. A ilha foi desaparecendo progressivamente de todos os registos históricos.

5. Ilha de São Brandão

À primeira vista, os relatos medievais sobre a ilha de São Brandão parecem fazer parte das histórias míticas sobre as ilhas encantadas. Todavia, alguns aspectos da sua história parecem correctos: São Brandão foi uma personagem real e algumas descrições dos lugares que descobriu encaixam em pontos do Atlântico.

Ilha de São Brandão

São Brandão e os seus monges celebram uma missa sobre o dorso de uma baleia.

Brandão foi um monge irlandês nascido em finais do século V d.C. Conhecido como Brandão, o Navegador, tornou-se conhecido graças a uma viagem épica às ilhas dos Bem-Aventurados. A Viagem de São Brandão, o Navegador, do século IX, descreve como o clérigo idoso construiu um curragh, uma embarcação tradicional irlandesa, e zarpou com outros monges numa aventura em que atravessou colunas de cristal (talvez icebergues) e ferozes tormentas de pedras (talvez erupções vulcânicas nas proximidades da Islândia). As falésias e o local de desembarque noutro dos pontos que visitou são consistentes com a linha costeira do arquipélago de Saint Kilda, nas ilhas Hébridas Ocidentais da Escócia. Por fim, Brandão chegou a terra numa ilha exuberante repleta de frutos e pedras preciosas, levando inclusivamente algumas para a Irlanda.

A ilha de São Brandão apareceu durante séculos nos mapas do Atlântico. Alguns autores propuseram que Brandão poderia ter acostado em algum ponto da América do Norte, muito antes da chegada dos primeiros europeus.

6. A ilha dos Demónios

Na década de 1500, o frade escritor francês André Thévet escreveu que os marinheiros que se aproximavam da costa da Terra Nova tinham encontrado uma ilha particularmente terrível mas invisível: “Escutaram no ar, sobre os mastros ou em volta deles, um grande clamor de vozes de homem confusas e incompreensíveis, como o rumor da multidão que se pode ouvir nos mercados ou nas feiras, e nesse momento souberam com certeza que estavam perto da ilha dos Demónios.”

ilha dos demónios

Este mapa, do século XVI, situa a ilha dos Demónios a norte da Terra Nova.

A ilha dos Demónios surge nos mapas já em 1508. Pareceria uma lenda marinheira, não fosse a acção de uma nobre francesa muito real: Marguerite de la Rocque explicou que o seu tio a abandonara ali em 1542 pela sua imoralidade com um oficial do navio (ou porque quis ficar com os bens da sobrinha). Resgatada e levada de volta a França anos mais tarde, descreveu os tormentos infligidos pelos demónios nocturnos e o perigo suscitado por ursos “brancos como ovos”. Abateu estes presumíveis ursos-polares usando as armas que o tio lhe deixara.

Os historiadores não identificaram a ilha com segurança, mas poderia tratar-se de uma das ilhas Quirpon, Caribou, Fichot ou Funk, no Canadá. E os ruidosos demónios? Possivelmente as vozes seriam a cacofonia dos bandos de aves marinhas que nidificavam nas margens.

7. Lemúria

O continente perdido de Lemúria nasceu como uma teoria científica legítima. Depois da publicação, em 1859, de A Origem das Espécies de Darwin, mas antes de surgirem os conceitos de tectónica de placas e deriva dos continentes, os investigadores tentavam explicar por que razão algumas espécies de animais, como os lémures, habitavam territórios tão distantes entre si. A teoria sustentava que poderia ter existido uma ponte terrestre entre a África e a Índia.

Lemúria

Tal como a Atlântida, Lemúria terá sido destruída por um cataclismo.

O zoólogo inglês Philip Sclater baptizou este território hipotético com o nome de Lemúria e cientistas prestigiados como Alfred Russell Wallace apoiaram a sua ideia. Em finais da década de 1870, Helena Blavatsky, a co-fundadora da Sociedade Teosófica, adaptou essa ideia às suas crenças sobre a origem da humanidade. Segundo Madame Blavatsky, visitantes alienígenas tinham-lhe revelado que Lemúria fora o lar de uma das “raças raiz” da humanidade: hermafroditas ovíparos com dois metros de altura dotados de poderes psíquicos.

Situada no Pacífico Sul, Lemúria ter-se-ia afundado no mar, mas os seus habitantes teriam escapado para a Ásia Central. Outros autores retomaram esta ideia e alguns afirmaram que os lemurianos eram antepassados dos atlantes. Embora a geologia já tenha explicado as razões da grande diversidade geográfica das espécies de primatas, Lemúria continua a figurar em bandas desenhadas, filmes e videojogos.