No âmbito dos trabalhos de escavação e conservação do Campo Arqueológico de Mértola (CAM) na vila alentejana, foi identificado em Julho de 2022 este extraordinário espécime de arte cristã primitiva, próximo dos dois baptistérios conhecidos desde 2013, na encosta do castelo. A figuração, a técnica construtiva e o contexto tornam-no único em Portugal.
“Mértola tem o poder de nos surpreender e de revelar novas facetas”, contava Virgílio Lopes, arqueólogo e investigador do CAM, à National Geographic aquando desta revelação. O mosaico, com cinco metros por quatro, foi projectado para um espaço interior que a equipa do CAM acredita ter sido uma capela integrada num complexo religioso paleocristão, “um mundo que se seguiu ao período romano, mas no qual Mértola manteve relevância cultural e religiosa, mesmo não dispondo de um bispo”.
Na sequência desta descoberta, já em Julho deste ano a equipa do CAM quis compreender a área entre o segundo baptistério e a eventual capela onde aparecera este achado. No penúltimo dia de escavações, não se encontrou a continuação esperada desse espaço sagrado. A parte do edifício que acolhera o baptistério fora desmantelada, mas aparecia agora uma estrutura pavimentada, com ladrilhos delicados e vários tijolos desabados sobre o pavimento. Era um banho islâmico (hammam), em condições impressionantes de conservação que, ao contrário dos banhos romanos, "teria uma função religiosa de purificação antes da oração", segundo Susana Gómez Martínez, arqueóloga e investigadora da Universidade de Évora, envolvida nesta descoberta.