Amsterdão, encontrei-me com um homem que me revelou as correntes ocultas das nossas vidas, os gigantescos fluxos de matérias-primas e produtos consumidos por 7.700 milhões de seres humanos. O nosso metabolismo partilhado, diriam alguns. Era uma manhã fresca de Outono e eu estava sentado sobre uma pilha de tijolos antigos no Oosterpark. Há um século, quando os holandeses ainda extraíam café, petróleo e borracha da sua colónia na Indonésia, este edifício foi construído como Instituto de Investigação Colonial. Actualmente, aloja organizações de bons samaritanos. A instituição para a qual Marc de Wit trabalha chama-se Circle Economy e pertence a um movimento internacional que pretende reformar a maneira como fizemos praticamente tudo nos últimos dois séculos.
Marc abriu um panfleto e desdobrou um diagrama daquilo a que chamou “uma radiografia da nossa economia global”. Ao contrário dos ecossistemas naturais, que funcionam por ciclos – as plantas crescem no solo, os animais comem as plantas, os excrementos revitalizam o solo –, a economia industrial é, em grande medida, linear. No diagrama, fluxos espessos e coloridos dos quatro tipos de matérias-primas – minerais, minérios, combustíveis fósseis e biomassa –correm da esquerda para a direita, dividindo-se e entrançando-se ao transformarem-se em produtos que satisfaziam as sete necessidades humanas. Num só ano, colhemos 22.200 milhões de toneladas de biomassa para satisfazer as nossas necessidades. Os combustíveis fósseis alimentavam todas aquelas viaturas, mantinham-nos quentes, transformavam-se em plástico e em todos os tipos de objectos. Em 2015, o fluxo total de matérias-primas na economia foi de 102.300 milhões de toneladas.
Até aqui, tudo bem. O problema está naquilo que se segue, depois de satisfeitas as nossas necessidades – aquela que é, de facto, a mãe de todos os problemas ambientais. Marc de Wit apontou para a névoa cinzenta no rebordo direito do diagrama. A névoa cinzenta são os resíduos.
Em 2015, como me explicou, cerca de dois terços dos materiais que arrancámos do planeta deslizaram-nos entre os dedos. Mais de 67 mil milhões de toneladas de material obtido com dificuldade perdeu-se, dispersando-se para sempre. O lixo de plástico escapava à deriva pelos rios e oceanos e o mesmo acontecia aos nitratos e fosfatos que escorriam dos campos adubados. Um terço da totalidade dos alimentos apodreceu, enquanto a Amazónia era desflorestada para produzir mais. Quando pensamos num problema ambiental, é bem provável que ele esteja relacionado com resíduos. Isso inclui as alterações climáticas. Estas acontecem porque queimamos combustíveis fósseis e libertamos os resíduos na atmosfera.
Aquele diagrama deformado definia o problema com uma clareza perfeita e unificadora. É certo que o diagrama ilustrava as esmagadoras ameaças que enfrentamos e que estas têm uma escala planetária, mas pareceu-me evidente que, se queremos continuar na Terra, precisaremos de não desperdiçar tanto. Marc de Wit apontou para uma seta fininha que retrocedia em círculo, da direita para a esquerda, representando todo o material que conseguimos recuperar através de reciclagem, compostagem e outros processos. São apenas 9.300 milhões de toneladas, ou seja, 9% do total.
RADIOGRAFIA DA ECONOMIA GLOBAL. Todos os anos transformamos mais de cem mil milhões de toneladas de matérias-primas em produtos. Menos de um quarto tornam-se edifícios, automóveis ou outros bens duradouros. Menos de 10% voltam a entrar na economia. O movimento da economia circular pretende aumentar esta percentagem e reduzir o enorme volume de resíduos.
A “lacuna da circularidade”, como Marc e os colegas lhe chamaram quando apresentaram o seu relatório no Fórum Económico Mundial em Davos, em 2018, é relativamente recente na história da humanidade. Começou com a utilização de combustíveis fósseis no século XVIII. Até então, a maior parte dos bens produzidos pelos seres humanos eram obtidos através da força muscular humana e animal. O cultivo de solos, o fabrico de artefactos e o transporte de bens exigia trabalho duro, o que as tornava valiosas. A nossa energia física limitada também restringia o tamanho da mossa que fazíamos no planeta. No entanto, ela mantinha a maioria dos seres humanos num estado de extrema pobreza.
A disponibilidade de energia fóssil barata alterou por completo a situação. Tornou mais fácil a extracção de matérias-primas em qualquer lugar, o seu transporte para fábricas e o envio das mercadorias para toda a parte. Os combustíveis fósseis multiplicaram as nossas possibilidades e o processo continua a intensificar-se. No último meio século, enquanto a população mundial aumentava para mais do dobro, o volume de materiais em circulação na economia mais do que triplicou.
“Estamos a atingir os limites”, disse Marc de Wit.
Durante esse mesmo meio século, os ambientalistas têm sublinhado os limites desse crescimento. O novo movimento da “economia circular” é diferente. Trata-se de um conjunto de estratégias agregadas – algumas antigas, como reduzir, reutilizar e reciclar, e outras novas, como alugar bens e serviços em vez de comprá-los – que se destinam a remodelar a economia para eliminar o desperdício. A economia circular não quer pôr fim ao crescimento: ela pretende modificar a maneira como agimos, restaurando a harmonia com a natureza, para que o crescimento possa prosseguir. “Prosperidade num mundo com recursos finitos,” como disse, em tempos, o comissário europeu para o Ambiente Janez Potočnik, no prólogo de um relatório da Fundação Ellen MacArthur.
MÁQUINAS. A reutilização da maquinaria é uma velha estratégia para reduzir os resíduos. Cerca de 3.300 aviões e helicópteros norte-americanos retirados do activo encontram-se armazenados na Base da Força Aérea de Davis-Monthan (à direita) em Tucson, no estado do Arizona, onde a atmosfera seca impede a corrosão. A sua preservação é assegurada pela aplicação de um revestimento protector removível em spray. Esta unidade, frequentemente denominada Cemitério, é a maior existente do seu tipo.
A ideia está a ser bem acolhida, sobretudo na Europa, esse pequeno continente sobrepovoado, mas rico em recursos. A União Europeia está a investir milhares de milhões de euros nessa estratégia: os Países Baixos comprometeram-se a tornar a sua economia totalmente circular até 2050. Amsterdão, Paris e Londres têm os seus próprios planos. “Tem de acontecer”, respondeu Wayne Hubbard, responsável pela Administração dos Resíduos e da Reciclagem de Londres, quando lhe perguntei se a economia circular iria concretizar-se.
O arquitecto norte-americano William McDonough é uma das personalidades cujo trabalho nesta área tem produzido epifanias para muitos. Juntamente com o químico alemão Michael Braungart, publicou em 2002 o livro visionário “Cradle to Cradle” [sem tradução portuguesa, embora o termo berço-a-berço tenha entrado no léxico], no qual defende que os produtos e os processos podem ser concebidos de maneira a transformar todos os resíduos em alimento para outra espécie qualquer. Antes de partir para a Europa, fiz uma visita ao escritório de McDonough em Charlottesville. A nossa conversa ricocheteou entre a sua infância, passada entre Tóquio, Platão, Aristóteles e Buckminster Fuller, e as novas calças de ganga compostáveis que o entusiasmam, até que, por fim, consegui fazer-lhe a pergunta incómoda: esta conversa toda sobre o fim dos resíduos é mais do que uma miragem irrealista?
“É completamente irrealista, não há a menor dúvida”, respondeu. “Precisamos de perspectivas irrealistas para andar para a frente. Porque convém que nos lembremos das palavras de Leibniz.”
Admiti os meus fracos conhecimentos sobre a obra do filósofo alemão.
“Leibniz disse: ‘Se é possível, então existe.’ Acrescento: ‘Se conseguirmos que exista, então é possível.’” Seria aquilo tautológico? Seria sensato? Teria Leibniz afirmado aquilo? Fosse como fosse, era intrigante. Pouco depois, peguei na minha velha malinha de rodas e pu-la a reparar (um gesto muito circular, comparado com a compra de uma nova), embalei as calças de ganga certificadas que William McDonough me oferecera e fui à procura de provas sobre a existência da economia circular.
Metais
Os primeiros pequenos tropeções na nossa circularidade natural aconteceram antes da revolução industrial do século XVIII. Além de deitarem cacos de ânforas por todo o lado, sem quaisquer inibições, os romanos foram pioneiros de uma invenção preocupante: os esgotos. Ou seja, canalizaram os resíduos humanos para os rios, em vez de os devolverem aos campos – o local indicado para esses resíduos, como qualquer perito em circularidade poderá explicar. Durante a sua juventude, vivida em Tóquio na década de 1950, William McDonough recorda-se de acordar durante a noite com o barulho dos agricultores a recolherem os dejectos nocturnos da família.
Os romanos, tal como os fenícios antes deles, também extraíam cobre das jazidas. Mas também reciclavam: derretiam as estátuas de bronze dos povos conquistados para fabricarem armamento. O cobre sempre foi um bem de primeira escolha para os recicladores. Comparado com os resíduos domésticos, é escasso e valioso.
ENERGIA. A substituição dos combustíveis fósseis pela energia renovável, como o calor gerado sob os campos de lava da Islândia, é uma etapa essencial para criar uma economia circular. A Central Electropro-dutora de Hellisheiði, a maior central geotérmica do país e a terceira maior do mundo, produz electricidade e calor para consumo doméstico. As cúpulas geodésicas localizadas sobre cada poço contribuem para atenuar o impacte visual na paisagem.
No pátio da Aurubis, siderurgia de cobre em Lünen, no Ruhr, na região ocidental da Alemanha, um grande busto de Lenine ergue-se num canteiro de flores, recordando os muitos Lenines de bronze fundidos nesta unidade fabril, trazidos de várias cidades da Alemanha comunista, depois de a Alemanha Oriental e a Alemanha Federal se terem reunificado em 1990. A Aurubis é a maior produtora europeia de cobre e também a maior entidade recicladora de cobre do mundo. Quando a fábrica de Lünen foi construída, em 1916, no auge da Grande Guerra, havia escassez de cobre para as munições de artilharia e os alemães já retiravam sinos de bronze dos campanários das igrejas. “Desde esse dia, esta unidade tem-se dedicado exclusivamente à reciclagem”, afirmou Detlev Laser, director-adjunto da fábrica.
Contrariamente ao plástico, o cobre pode ser indefinidamente reciclado sem perda de qualidade: é um material perfeitamente circular. A fábrica de Lünen ainda transforma cobre a granel, na maioria originário de condutas e cabos, mas teve de adaptar-se a concentrações muito mais baixas. Com a Europa a substituir os aterros por unidades municipais de incineração, tem aparecido muita escória com pedaços de metal… “porque alguém deitou fora o seu telemóvel no lixo” em vez de o depositar na reciclagem, explicou Detlev Laser.
Na companhia de Hendrik Roth, gestor da fábrica responsável pelo ambiente, vi uma escavadora despejar baldes repletos de resíduos electrónicos, incluindo computadores portáteis, sobre uma correia transmissora que os transportava até uma trituradora. Foi a primeira de mais de uma dezena de etapas no desconcertante e ensurdecedor processo de triagem. Numa estação, uma correia passava velozmente, transportando fragmentos de placas de circuito do tamanho de uma mão. Algumas precipitavam-se por um abismo, enquanto outras saltavam, como se tivessem vontade própria, para uma correia acima. Um sistema de câmaras, explicou Hendrik, decidia se cada fragmento continha ou não metal. Não o contendo, activava um jacto de ar por baixo dele nesse preciso momento.
A Aurubis vende o alumínio e o plástico que recupera a essas indústrias. O cobre e outros metais não-ferrosos vão para as suas próprias fornalhas. No pátio arrumado, a poeira é limpa todos os dias e serve para alimentar a fundição. “Aqui não há resíduos”, afirmou Detlev Laser.
A nível mundial, apenas um quinto da totalidade dos resíduos electrónicos é reciclada, segundo um relatório de 2017 da ONU. A Aurubis até recebe remessas provenientes dos Estados Unidos. “Por vezes, pergunto-me por que razão um país tão altamente industrializado prescinde de tais recursos”, disse Hendrik. “Têm ao seu dispor milhares de milhões de euros.”
Contudo, o cobre é representativo de um desafio geral: há um limite para o que uma reciclagem agressiva pode alcançar. Na Aurubis, o cobre reciclado representa apenas um terço do total da produção: o resto ainda vem das minas. A produção mundial de cobre quadruplicou no último meio século e continua a aumentar. As tecnologias de que precisamos para abandonar os combustíveis fósseis requerem grandes quantidades de cobre: uma única turbina eólica gigante consome cerca de 30 toneladas.
“A procura está a aumentar”, afirmou Detlev. “Nunca será possível satisfazê-la apenas com materiais reciclados.” A economia circular vai precisar de outras estratégias.
Vestuário
O emblema da Fundação Ellen MacArthur, um conjunto de círculos encaixados uns nos outros, via-se na camisola de capuz de Dame Ellen no dia em que me encontrei com ela na sede da fundação, na ilha de Wight. Em 2005, com 28 anos, ela terminou a sua volta ao mundo a bordo de um catamarã de 23 metros. Demorara um pouco mais de 71 dias para completar essa navegação solitária. Carregara a bordo alimentos para 72 dias. Enfrentara tempestades ao largo da Antárctida e reparara um gerador avariado. Regressara a casa, com uma consciência visceral da escassez de recursos.
VESTUÁRIO. Em Prato (Itália), onde são produzidos tecidos de lã desde o século XII, cerca de 3.500 empresas empregam quarenta mil trabalhadores no tratamento de desperdícios têxteis.
“Por que razão não havia ninguém a falar sobre o assunto?”, perguntou a si mesma. Abandonou as regatas de competição e fundou uma organização que tem feito mais do que qualquer outra para promover a economia circular, recorrendo a um leque hierarquizado de estratégias (ver diagrama na página 25). A melhor é a mais simples: gastar menos bens, mantendo-os a uso.
Essa escolha afecta muitas pessoas de forma mais aguda nos seus guarda-roupas. Entre 2000 e 2015, enquanto a população mundial crescia 20%, a produção de vestuário duplicou, devido ao crescimento explosivo da “moda rápida”. Com tanta abundância de roupa barata, cada artigo foi vestido, em média, menos um terço das vezes em 2015. Nesse ano, o mundo deitou fora mais de 410 mil milhões de euros em roupa.
Jorik Boer ganha a vida a recuperar alguma dessa roupa como responsável pelo Grupo Boer, uma empresa familiar holandesa que nasceu há um século nas ruas de Roterdão, com o seu bisavô a recolher restos de roupa, metal e papel numa carroça. Hoje em dia, a partir da sede, em Dor-
drecht, Jorik gere cinco fábricas nos Países Baixos, Bélgica, França e Alemanha. No total, procede à recolha triagem e revenda para reutilização ou reciclagem de 460 toneladas de roupa deitada fora todos os dias.
Os consumidores têm uma ideia errada sobre o que acontece quando deitam roupa fora num contentor de doação, afirmou Jorik Boer. Pensam que as roupas são directamente doadas a pessoas carenciadas. No entanto, aquilo que habitualmente sucede é empresas como a Boer comprarem as roupas doadas, fazerem a triagem e revenderem-na em todo o mundo.
“É preciso muita experiência para saber onde se pode vender e reutilizar uma peça de vestuário”, afirmou. Através da janela atrás dele, eu conseguia vislumbrar os movimentos rápidos, mas experientes, de mulheres retirando peças de roupas das correias transportadoras, examinando cada artigo por breves instantes, revirando-o e deitando-o para um de cerca de sessenta sacos. Cada mulher procede à triagem de cerca de três toneladas por dia, afirmou Jorik Boer. Na triagem, todas as operadoras precisam de ter bom olho para a moda, sobretudo porque as melhores peças representam apenas 5 a 10% do total, de onde provêm os maiores lucros da empresa. Na Rússia e na Europa de Leste, artigos valiosos como a roupa interior feminina chegam a render cinco euros por quilograma. A maior parte do material de qualidade inferior é despachada em fardos de 55 quilogramas para África, onde a venda atinge valores que podem descer a 50 cêntimos por quilograma.
A certa altura, Jorik examinou o meu casaco desportivo cinzento, em relação ao qual me sentia bastante confiante: ele não conseguia ver as manchas de tinta no bolso interior. “Não conseguiríamos vender o seu casaco em lado nenhum”, disse, com boa disposição. “Ninguém no mundo quereria comprá-lo.” Boer contou-me que teria de pagar a alguém para levar aquela minha peça de vestuário fora de moda.
Mas eles compram roupa interior usada? Senti-me incomodado.
“Isso é roupa interior usada limpa”, respondeu Boer. Por norma, as pessoas não doam roupa suja.
Actualmente, ele recebe mais vestuário do que consegue gerir, sobretudo da Alemanha, de onde provêm 75% das peças que aproveita. Não consegue contratar trabalhadores qualificados em número suficiente. A maior preocupação da família Boer é a velocidade com que o vestuário muda. Neste momento, a empresa consegue revender 60% daquilo que recolhe. As peças de vestuário que se mantêm a uso e voltam a ser usadas são melhores para o planeta (pois o material e a energia gastos no seu fabrico não têm de ser substituídos) e também para a Boer.
Os restantes 40%, as roupas que ninguém quer, são reciclados como panos de limpeza ou triturados para fabrico de material de isolamento ou enchimento de colchões. Parte é incinerada. A fracção reciclada inclui, cada vez mais, artigos baratos e gastos. O Grupo Boer perde dinheiro com quase todos estes. A moda rápida poderá contribuir para arruinar-lhe o negócio.
Há uma forma de reciclar que permite obter um lucro modesto. Durante décadas, o Grupo Boer despachou camisolas de lã e outros artigos de malha para empresas sediadas na cidade italiana de Prato que desmancham a malha através de meios mecânicos e recuperam as fibras longas que podem transformar-se em peças de vestuário praticamente novas. Os tecidos de algodão ou poliéster não podem ser reciclados dessa maneira: as fibras são demasiado curtas. Há meia dúzia de novas empresas a desenvolver tecnologia para reciclar quimicamente estas fibras. Para incentivar esse desenvolvimento, Jorik Boer entende que a União Europeia deveria exigir que as roupas novas contivessem, no mínimo, 20% de fibras recicladas. “Chegaremos a esse ponto daqui a dez anos”, disse. “Tem de ser.”
FECHO DO CÍRCULO.
Consumir menos, manter bens em uso durante mais tempo, reciclar interminavelmente: a economia circular exige diversas estratégias. Segundo a visão berço-ao-berço, todos os produtos podem ser decompostos em “nutrientes técnicos”, transformados em novos produtos, ou nutrientes biológicos, que regressam ao solo. O resíduo é uma falha conceptual. Na natureza, ele não existe.
Na Fundação Ellen MacArthur, ouvi falar com entusiasmo num modelo de negócio diferente, que poderá promover a circularidade em muitos sectores da economia. Trata-se de um modelo baseado em alugar em vez de comprar. Rent the Runway e outras empresas de aluguer de vestuário online representam actualmente menos de um décimo de 1% do mercado mundial da moda, mas estão a crescer rapidamente.
Em teoria, alugar é mais sustentável: se muitas pessoas partilharem o mesmo artigo, no total poderão ser precisas menos peças de vestuário. Na prática, isso não é garantido: os clientes podem limitar-se a acrescentar roupas de luxo alugadas ao seu roupeiro. O aluguer aumentaria certamente o embalamento, o transporte e a limpeza a seco do vestuário. Num artigo recentemente publicado na revista “Elle”, a jornalista Elizabeth Cline, autora de dois livros sobre moda rápida, tentou identificar os prós e os contras. “Vestir aquilo que já temos no nosso roupeiro é a maneira mais sustentável de nos vestirmos”, concluiu.
Géneros alimentares
As pessoas não conseguirão tornar-se circulares por si: o sistema tem de mudar, mas as escolhas individuais contam muito. “Em primeiro lugar, é importante consumir menos”, afirmou Liz Goodwin, do Instituto de Recursos Mundiais.
Em 2008, o Programa de Acção para os Resíduos e os Recursos (WRAP), então dirigido por Liz Goodwin, levou a efeito um dos principais estudos sobre o desperdício de géneros alimentares. Esta organização investigou mais de 2.100 famílias britânicas que concordaram em deixar os inspectores revistar o seu lixo e pesar cada alimento deitado fora. “Foi absolutamente escandaloso”, recordou Liz. “Encontrámos frangos inteiros dentro das embalagens.” Quase metade das saladas e um quarto da fruta terminava no caixote do lixo, bem como quase 400 mil toneladas de batata por ano. No total, os britânicos deitavam fora um em cada três sacos de fruta e legumes comprados.
ALIMENTO. As moscas-soldado-negras poderão substituir a soja como proteína nas rações para animais, poupando o uso do solo. A empresa britânica Entocycle ensaia as condições de criação destas moscas no seu laboratório londrino alimentando as larvas com resíduos das cervejeiras e borras de café.
Afinal, os britânicos não são excepção. Cerca de um terço do total dos géneros alimentares é desperdiçado em todo o mundo, com um custo anual de cerca de 900 milhões de euros, como contou o director mundial do WRAP, Richard Swannell. Richard explicou-me que, antes do estudo do WRAP, ninguém tinha noção da quantidade de alimentos e dinheiro desperdiçados na Grã-Bretanha.
O WRAP lançou uma campanha de relações públicas (“Ame a Comida, Odeie o Desperdício”).
A campanha motivou muitos grupos de mulheres a partilharem dicas sobre recuperação de alimentos. Também procurou convencer as cadeias de supermercados a adoptarem algumas medidas simples: datas mais precisas e alargadas de “consumir até”; embalagens mais pequenas e reutilizáveis; e pôr fim às vendas de produtos perecíveis com o slogan “pague um, leve dois”. A campanha resultou. Em 2012, a quantidade de comida desperdiçada na Grã-Bretanha baixou 20%. “Fizemos enormes progressos”, afirmou Richard.
Ultimamente, os progressos têm abrandado, mas ninguém pensou que o bom senso seria suficiente para acabar com o desperdício de alimentos. Na sua antiga fábrica remodelada de mobiliário vitoriano, no bairro londrino de Shoreditch, Marc Zornes, director-geral da Winnow, está a propor uma solução de tecnologia avançada que a sua empresa já instalou nas cozinhas de 1.300 restaurantes: caixotes do lixo inteligentes.
Marc demonstrou o funcionamento de um deles na sua sala de conferências, servindo-se de uma perna de frango de plástico. Sempre que um cozinheiro ou um empregado de mesa deitam fora os restos de uma panela ou de uma travessa num caixote da Winnow, uma balança mede o peso acrescentado e uma câmara tira uma fotografia. O software identifica o lixo novo e mostra o seu custo.
Segundo Marc Zornes, os seus clientes costumam reduzir para metade o desperdício de géneros alimentares ao prestarem atenção aos seus caixotes de lixo. Na sua opinião, isso é evidente nos buffets de pequeno-almoço: a maior parte dos restos é deitada fora. “Quando começamos a medir o problema, começamos a geri-lo”, afirmou. Deitamos menos fora. Ao entrar na Winnow, transpondo as portas deslizantes decoradas com graffiti, esperava encontrar um ambiente descontraído e cheio de estilo. Ao sair, sentia vontade de falar sobre a Winnow com o meu sobrinho, cozinheiro no Ritz-Carlton.
Alguns dias mais tarde, tive uma experiência semelhante em Amsterdão, no InStock, um restaurante especializado em culinária de alto nível a partir de excedentes alimentares. Numa sala decorada com simplicidade, mas com iluminação acolhedora, sentei-me sob um sinal de madeira onde se contabilizavam os “alimentos resgatados” – 780.054 quilogramas. Uma das fundadoras, Freke van Nimwegen, estava no bar a verificar a contabilidade. Sentou-se ao meu lado e contou-me a sua história, enquanto me serviam os pratos da ementa de preço fixo.
Freke terminara o curso de gestão dois anos antes e trabalhava para a Albert Heijn, a maior cadeia de mercearias holandesa, quando descobriu o problema do desperdício de géneros alimentares. Na qualidade de subgerente da loja, quis agir, mas não pôde. Os bancos alimentares talvez levassem algum pão, mas não a totalidade dos produtos. Acompanhada por dois colegas, teve a ideia do InStock em 2014 e convenceu a empresa a apoiá-la. Começou como quiosque e agora tem este restaurante e outros dois, em Utrecht e Haia: para ela, o negócio estava agora a tornar-se interessante.
“O nosso sonho não era abrir uma cadeia de restaurantes”, disse. “Nem pensar. Queríamos fazer algo para contrariar o desperdício de alimentos.”
O meu prato principal apareceu: medalhões de “Ganso frito do Kentucky”. “Cuidado, pode haver balas na carne”, avisou a empregada. O Aeroporto de Schiphol, explicou Freke, contrata caçadores para abaterem os gansos selvagens que, de outro modo, poderiam avariar as turbinas dos aviões a jacto. Antigamente as aves mortas eram incineradas: agora são trazidas para aqui. Os medalhões tinham uma textura borrachosa, mas eram saborosos e não tinham balas. Acompanhados por compota de beringela e um coulis de pimentos vermelhos, comiam-se muito bem.
No InStock, os cozinheiros improvisam com tudo o que lhes aparece. Os géneros são fornecidos pela Albert Heijn mas também por produtores, incluindo agricultores. “É fácil apontar o dedo e acusar os supermercados”, afirmou Freke van Nimwegen. “A totalidade da cadeia de abastecimento, incluindo o cliente – todos querem ter tudo disponível. Basicamente, somos todos meninos mimados. As empresas não querem vender um ‘não.’ Por isso, têm sempre um bocadinho a mais.”
Em 2018, o InStock começou a fornecer excedentes de géneros alimentares a outros restaurantes. Agora, a prioridade de Freke van Nimwegen é celebrar contratos para abastecer as cantinas das empresas. “Para nós, o mais importante é gerar volume”, disse. “Neste tipo de locais, há mil pessoas que precisam de almoçar.” Os holandeses conseguiram diminuir o desperdício de alimentos em 29% desde 2010, segundo um relatório governamental, ultrapassando até os britânicos.
A sobremesa era uma fabulosa espuma de bagas e cerejas escalfadas em vinho tinto, retirado de garrafas abertas há demasiado tempo. A conta era trazida num carrinho de compras de supermercado em miniatura, cheio de fruta deformada: um pêssego achatado e uma pêra muito magrinha. Guardei-as no bolso para suplementar os almoços que fazia tenção de resgatar do buffet do pequeno-almoço e, sentindo-me agradavelmente desperto e bem alimentado, regressei de bicicleta ao hotel entre as brumas da noite de Amsterdão.
No meu quarto, encontrei um morcego a voar em círculos frenéticos. Ao olhar para o pobre animal em busca de uma janela aberta, vislumbrei outra dádiva, desta vez sob a forma de metáfora. No entanto, inicialmente não soube o que fazer com ela.
Aberturas
Para sairmos da armadilha em que nos metemos com a economia linear e regressarmos a uma economia modelada a partir da natureza, vai ser preciso muito “pensamento divergente”, como lhe chamam os psicólogos. Em Copenhaga, fiz uma pausa para contemplar a nova incineradora municipal, que queima lixo para gerar energia e diverge, indubitavelmente, da norma: tem no telhado uma rampa de esqui para todas as estações. Mas o meu destino real era o porto vizinho de Kalundborg, uma espécie de símbolo da economia circular.
A maior quinta vertical interior do mundo, gerida pela Aerofarms na sua sede de Newark (EUA), pretende cultivar legumes sustentáveis durante todo o ano, no coração das cidades. Legumes de folha bebés são cultivados sobre um substrato reutilizável feito a partir de garrafas de plástico recicladas.
A água é aspergida sobre as raízes de baixo para cima, poupando 95% do que seria gasto no exterior. Não são utilizados pesticidas. Os nutrientes e os adubos só são aplicados quando necessário e a iluminação fornece o comprimento de onda específico requerido pelos legumes. Segundo a empresa, os seus rendimentos são 390 vezes superiores aos da agricultura praticada nos campos.
Uma vez ali chegado, sentei-me numa sala de conferências com onze gerentes de unidades industriais, todas pertencentes a empresas diferentes, que formaram uma aliança invulgar: todas utilizam os resíduos umas das outras. O presidente do grupo, Michael Hallgren, é gerente de uma fábrica da Novo Nordisk responsável por metade da produção mundial de insulina e que, juntamente com uma empresa-irmã, a Novozymes, fabrica 330 toneladas de subprodutos de levedura. Essa calda é transportada de camião até uma fábrica de bioenergia, onde é transformada em biogás suficiente para abastecer seis mil agregados familiares e adubo suficiente para fertilizar quase 21 mil hectares. Este é apenas o mais recente dos 22 intercâmbios de resíduos (água, energia ou materiais) que compõem a Kalundborg Symbiosis.
Nada estava previsto, afirmou Lisbeth Randers, uma das coordenadoras do projecto. Foi crescendo ao longo de quatro décadas, com uma sucessão de contratos bilaterais. Um fabricante de pladur instalou-se em Kalundborg em parte porque os resíduos de gás provenientes da refinaria de petróleo eram disponibilizados como fonte de energia barata. Mais tarde, adquiriu gesso à vizinha central electroprodutora alimentada a carvão, que o produzia, removendo o dióxido de enxofre dos seus fumos de escape. Nada disto aconteceu por razões ambientais, mas a Kalundborg Symbiosis reduz as emissões de dióxido de carbono em 635 toneladas por ano, ao mesmo tempo que poupa 24 milhões de euros aos seus membros.
Nos campos verdejantes da Vestefália, na Alemanha, pátria de um famoso tipo de presunto, encontrei-me com uma mulher que, sem qualquer formação em engenharia, concebeu uma solução de escala industrial para um dos maiores problemas da região: os excedentes de estrume de porco. Os nitratos que escorrem dos campos excessivamente adubados poluíram os aquíferos subterrâneos em cerca de um quarto do território da Alemanha. Um agricultor típico dos arredores da cidade de Velen, onde me encontrei com Doris Nienhaus, poderá despender 36,5 mil euros por ano para transportar quase duas mil toneladas de estrume líquido até um campo que ainda não se encontra estrumado a mais de cento e sessenta quilómetros de distância. “A certa altura, isso deixa de ser economicamente viável”, afirmou Doris.
A sua solução é uma fábrica que extrai os nutrientes básicos (fósforo, azoto e potássio) do estrume. No passado, Doris trabalhava para a federação regional dos agricultores e criava porcos. Agora, convenceu 90 agricultores a investirem 7,6 milhões de euros. O estrume das suas quintas é digerido por micróbios e o biogás resultante do processo alimenta um gerador que abastece a fábrica, produzindo excedentes de electricidade que são vendidos à rede. Centrifugadoras rápidas, um polímero patenteado e fornos quentes transformam a polpa digestora num líquido castanho, rico em azoto e potássio, e numa cinza que contém 35% de fósforo. Tudo isto será vendido. Segundo Doris Nienhaus, a fábrica não produzirá resíduos.
Noutros tempos, cada agricultor mantinha uma economia circular, criando apenas os animais que ele ou a sua terra eram capazes de alimentar e esses animais só defecavam aquilo que a terra conseguia absorver. A criação industrial de animais quebrou esse círculo. Há poucos anos, passei algum tempo numa unidade de engorda de gado no Texas. Foi ali que comecei a reflectir sobre a economia circular. Vi 110 vagões de comboio carregados de milho do Iowa entrarem, ruidosamente, em Hereford, no Texas, e vi montes de estrume na unidade de engorda, aguardando transporte para as explorações agrícolas locais. Perguntei a mim mesmo: será que aquele estrume não deveria regressar ao Iowa para adubar o milho? É demasiado dispendioso, responderam-me. Mas se lá existisse uma fábrica como a de Doris Nienhaus, só seria necessário transportar os nutrientes. Talvez seja possível fechar novamente o círculo.
Em 2006, Eben Bayer aprendera a pensar de forma divergente, e o problema sobre o qual se debruçava era o das colas tóxicas existentes em painéis de aglomerado de madeira e fibra de vidro. Tendo crescido numa quinta do estado de Vermont, Eben Bayer passara muitas horas a despejar pazadas de lascas de madeira numa fornalha para fabricar xarope de ácer. Muitas vezes, as estilhas de madeira coalesciam por terem sido colonizadas por micélio, a malha densa de fibras microscópicas que compõem as raízes dos cogumelos. Eben Bayer interrogou-se: serão os cogumelos capazes de gerar uma cola inofensiva?
O primeiro produto criado por si e pelo seu sócio, Gavin McIntyre, na empresa que fundaram, a Ecovative Design, foi uma embalagem. Eles injectavam pequenas quantidades de micélio em fibras de cânhamo ou lascas de madeira triturada, e as minúsculas raízes brancas preenchiam os espaços entre as partículas, enredando-se nelas e colando-as. Descobriram que era possível cultivar o material dentro de moldes com qualquer forma. Ele pára de crescer quando é desidratado e pode ser compostado quando deixa de ser útil. Na última década, a Ecovative fabricou mais de 450 toneladas de embalagens para clientes dispostos a pagar um preço ligeiramente superior.
Mais recentemente, dedicaram-se ao fabrico de objectos maiores, totalmente fabricados com cogumelos. No solo, o micélio cresce em camadas de malha, mas assim que entra em contacto com a atmosfera, começa a formar cogumelos.
A Ecovative descobriu uma maneira de enganar o micélio, induzindo um padrão de crescimento híbrido, no qual o micélio vai depositando microcamadas compactas, uma após outra. “Parece uma impressora 3D biológica”, afirmou Ebon Bayer.
A Ecovative está a ampliar um laboratório para descobrir como cultivar todo o tipo de artigos (solas de sapato, cabedal vegan, estruturas comestíveis para bifes artificiais) a partir de micélio. Em 2018, a estilista Stella McCartney desenhou uma carteira de senhora com este material.
Segundo a visão berço-ao-berço, os resíduos nem sequer existem enquanto conceito. Todos os materiais são “nutrientes técnicos” bem concebidos, com capacidade para serem interminavelmente reciclados, ou nutrientes biológicos, que podem ser comidos ou compostados em segurança. Ebon Bayer concorda com esse ponto de vista, mas acredita que, no futuro, a maioria dos objectos serão biológicos. “Os materiais biologicamente derivados já são compatíveis com a forma como a Terra funciona”, disse. “A Nave Espacial Terra consegue digerir este material.”
Além do bem e do mal
A enorme quantidade de lixo que produzimos não é um sinal de que somos maus. É um sinal de que somos um pouco estúpidos. Encontrei-me com Michael Braungart em Hamburgo. Ele começara a carreira como activista da Greenpeace, organizando manifestações contra empresas do sector químico e, desde então, tem trabalhado como consultor de muitas empresas. “Estamos a utilizar o modelo berço-ao-berço para combater um legado cultural que se fundamenta em crenças religiosas”, afirmou, querendo com isso referir-se às crenças monoteístas. O legado que deixámos ao ambientalismo é a ideia de que a natureza é boa e os seres humanos, devido ao efeito que produzem sobre ela, são essencialmente maus, pelo que o máximo que podemos fazer é limitar os prejuízos.
Segundo Michael Braungart, esse ponto de vista é enviesado e pouco ambicioso. Ele é um ambientalista que acredita que somos capazes de introduzir melhorias na natureza.
Nos arredores de Amsterdão, visitei um parque de escritórios com cerca de nove hectares, projectado pela empresa de William McDonough e construído com materiais que Michael Braungart ajudou a seleccionar. Chama-se Parque 20/20. Setenta e cinco por cento está construído e já é um parque de escritórios verde e agradável. Possui fachadas imaginativas, espaços soalheiros, energia totalmente renovável e efluentes líquidos reciclados no local. Em vez dos habituais pisos de placa de cimento, os destes edifícios têm placas mais finas e ocas, com vigas de aço. Isto permite que sete pisos caibam na altura habitual de seis, utilizando menos 30% de material no total.
O QUE PODE FAZER?
Auto-restrições
Ande menos de avião e de automóvel. Consuma todos os alimentos que comprar. Vista as roupas que já possui. Evite plásticos de utilização única.
Reparar e reutilizar
Compre menos produtos, com melhor qualidade, e repare-os quando se avariarem. Doe as roupas que já não vestir.
Reciclar tudo
Composte os resíduos alimentares (ou dê-os ao seu porco!). Recicle tudo o que puder e faça pressão para aumentar os esforços de reciclagem.
Durante o Inverno, a água quente do canal vizinho, armazenada no subsolo desde o Verão anterior, corre pela canalização instalada sob cada piso, aquecendo o espaço acima. No Verão, a água fria do canal, guardada no Inverno anterior, corre pelas condutas de cada tecto, arrefecendo o espaço imediatamente abaixo. E, ao contrário das placas de betão, as secções prefabricadas de soalho e tecto foram concebidas para serem desmontadas e reutilizadas, caso venha a ser necessário remodelar ou demolir o edifício. Os edifícios do Parque 20/20 são “bancos de materiais”, enquanto, noutros sítios, os materiais de construção dos edifícios representam o maior fluxo de resíduos que é encaminhado para os aterros.
A economia circular inspira muitos indivíduos, mas não está a acontecer. Se nos fixarmos na crueza dos números, a “lacuna da circularidade” está a aumentar. O nosso consumo de recursos naturais poderá duplicar até 2050. As emissões de carbono continuam a crescer. “Todos os indicadores ainda estão no vermelho”, admite Marc.
À semelhança de outros optimistas com quem falei, Marc está a contar com o tempo. Para construir uma economia circular, terá de haver uma enorme mudança cultural, de escala idêntica à da revolução industrial. “Precisamos de vigor”, afirmou. “Diz-me o bom senso que não podemos fazê-lo com a geração actual no poder. Vai ser necessária uma geração para que o processo arranque.” Era a minha geração que ele estava a empurrar para fora do palco. Não levei aquilo a peito. Estaremos debaixo de terra, muito antes de a economia circular aparecer, mas é assim que estaremos a dar o nosso pequeno contributo.