O stress é uma parte normal da vida que, estranhamente, nos ajuda a evitar o perigo e a desempenhar tarefas o melhor possível.

Existe, porém, uma diferença entre o stress agudo que sentimos antes de apresentar um projecto de trabalho e o stress crónico, mais prolongado, que sentimos quando estamos numa relação tóxica – e ambos podem afectar a nossa saúde e bem-estar a curto e a longo prazo.

Para algumas pessoas, pode significar palmas das mãos transpiradas e batimento cardíaco rápido. Outras podem ter dores de barriga ou depressão. Embora as reacções ao stress variem de pessoa para pessoa, saber como reagimos aos diferentes tipos pode ajudar-nos a superar melhor uma crise de stress, dizem os especialistas em saúde mental.

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BRIAN FINKE

Come compulsivamente em momentos de stress? Muitas pessoas refugiam-se na comida quando estão stressadas, mas os especialistas dizem que o stress pode desencadear uma cascata de ameaças graves para a sua saúde e que é importante conhecer os sinais de aviso para que possa tomar medidas para evitá-los.

“Todos experienciamos crises de stress agudo quando os nossos recursos não conseguem acompanhar as exigências da nossa vida”, diz Lynn Bufka, psicóloga e chefe associada de transformação de práticas da American Psychological Association (APA). “Porém, quando o nosso organismo está a ser constantemente activado para responder a factores de stress, um após o outro, isso torna-se mais problemático para a saúde a longo prazo”.

O que é o stress agudo?

O stress agudo é entendido como qualquer acontecimento de curta duração “que pode parecer difícil de gerir no momento, mas que se resolverá de uma maneira ou de outra”, como tarefas domésticas por fazer ou um bebé a chorar, diz Bufka.

Segundo o American Institute of Stress, existem dois tipos de stress agudo. Um é a “angústia”, experiências negativas como discutir com o seu companheiro ou passarem à sua frente no trânsito. O outro chama-se “eustress”, uma espécie de euforia com conotações mais positivas, como planear um casamento ou receber uma promoção no emprego.

Contudo, qualquer factor de stress agudo desencadeará as mesmas reacções físicas no nosso organismo, disse Bufka, porque o nosso cérebro não distingue entre o medo (evacuar um local antes da chegada de um furacão) e a excitação (andar de montanha-russa).

Em qualquer destas situações, a nossa respiração pode tornar-se mais rápida, os músculos mais tensos e o ritmo cardíaco pode aumentar à medida que uma descarga das hormonas cortisol e adrenalina enche a nossa corrente sanguínea.

Esta reacção do sistema nervoso simpático, mais conhecida como “lutar ou fugir”, melhora a nossa capacidade de resolução de problemas naquele instante, aumentando o nosso nível de energia e estado de alerta, diz Bufka. As boas notícias são que, pouco depois de os factores de stress desaparecerem, estes sintomas costumam desvanecer-se.

O que é o stress crónico?

O stress crónico é quando os problemas persistem ao longo de vários meses ou anos, ou até uma vida inteira para algumas pessoas, segundo Annette Stanton, professora catedrática com distinção e directora do departamento de psicologia da UCLA.

As situações que conduzem ao stress crónico tendem a ter maior impacto na qualidade de vida e são frequentemente percepcionadas como incontroláveis, disse Stanton, como racismo, pobreza, infertilidade ou diagnósticos de doenças terminais.

Por vezes, o stress agudo pode tornar-se crónico, diz Stanton. Uma discussão com o seu companheiro, por exemplo, pode juntar-se a várias que acontecem todos os dias e acabar por conduzir a um divórcio, que poderá ter uma cascata de efeitos nas suas finanças e na sua vida social, entre outras áreas.

Walter Reed National Military Medical Center, Luke E. Wielechowski
BRIAN FINKE

No centro clínico Walter Reed National Military Medical Center, Luke E. Wielechowski demonstra um MEG, um dispositivo capaz de monitorizar como diferentes partes do cérebro comunicam em tempo real, que poderá ajudar os médicos a descobrir formas de melhorar a assistência dada aos soldados regressados da guerra.

Factores de stress agudo como acidentes de viação também podem ser tão traumáticos que se tornam factores de stress crónico, diz Tanya Spruill, psicóloga clínica e professora associada de saúde pública da Faculdade de Medicina NYU Grossman.

Algumas pessoas podem desenvolver perturbação de stress agudo e sofrer de ansiedade, sentimentos de impotência, flashbacks e pesadelos durante cerca de um mês. Caso os sintomas persistam, poderão corresponder aos critérios de uma condição mais grave: a perturbação de stress pós-traumático.

O stress crónico é mais fácil de ignorar porque os sintomas podem manifestar-se lentamente ao longo do tempo, diz Stanton. Isto acontece porque o nosso sistema nervoso permanece no modo de lutar ou fugir, libertando cortisol e outras hormonas estimulantes a um ritmo constante.

Podemos sentir-nos irritados, exaustos, deprimidos, ter dores, dificuldades de concentração ou em dormir, entre outros sintomas.

Como pode o stress afectar a sua saúde?

O stress, sobretudo o crónico, causa uma série de problemas de saúde porque o organismo está a concentrar toda a sua energia para lidar com os problemas que enfrenta. Tal como um carro sem travões, ficamos exaustos.

“Em termos evolutivos, o nosso sistema de stress foi concebido para confrontar situações agudas, ameaças à nossa vida, e não as situações crónicas que enfrentamos hoje”, diz Stanton. “Por isso, ficamos presos num estado de excitação que causa muito desgaste no organismo a longo prazo.”

Ansiedade, insónia e tensão arterial alta são sintomas comuns de stress a longo prazo e todos aumentam os riscos de doenças crónicas como doença cardíaca, diabetes, depressão e obesidade. Segundo a APA, o stress crónico também pode causar obstipação ou diarreia, dores musculares, acne, diminuição da pulsão sexual, menstruações dolorosas ou irregulares e complicações na gravidez.

O stress não só enfraquece o nosso sistema imunitário, aumentando as probabilidades de adoecermos, como afecta os nossos comportamentos de formas que podem aumentar os riscos para a nossa saúde. Podemos comer demais ou de menos e faltar-nos motivação para fazer exercício físico. Podemos não dormir o suficiente ou esquecermo-nos de manter o contacto com a nossa família e amigos. Podemos procurar conforto no álcool e em drogas.

“Quando enfrentamos situações stressantes, tendemos a concentrar toda a nossa energia nelas e negligenciamos as coisas que mantêm a nossa saúde a longo prazo, ficando com menos energia para recarregar ou enfrentar aquilo que nos estressa”, diz Bufka. “Torna-se um desafio cíclico.”

Como pode gerir o stress agudo?

Se souber que tem pela frente algo stressante, como discutir presencialmente o seu pedido de demissão, é fundamental que se prepare e esteja concentrado no momento.

“Lembre-se de que aquele momento vai acabar, que já fez coisas parecidas no passado e que conseguirá superá-las novamente”, diz Stanton.

Observe como reage normalmente a factores de stress agudo. Caso se esqueça de comer, programe alarmes no seu telefone para se lembrar de petiscar qualquer coisa, acrescenta Stanton. Se costuma roer as unhas, arrancar cabelo ou ter outros comportamentos repetitivos focados no corpo, tenha um brinquedo por perto para o ajudar a não perder o controlo.

Como pode gerir o stress crónico?

No que diz respeito ao stress crónico, primeiro deve ver o que pode controlar, diz Bufka. Algumas situações, como ser alvo de racismo, podem não ser “resolúveis”, mas poderá eliminar outros factores de stress crónico da sua vida fazendo alterações de maior envergadura, como mudar de casa ou demitir-se.

Dizer a si próprio coisas como “isto é a pior coisa que já me aconteceu” também pode ampliar desnecessariamente o seu factor de stress, diz Bufka: “Quanto mais dizemos estas coisas a nós próprios, mais agravamos a nossa experiência do stress.”

As reacções pouco saudáveis tendem a ser subconscientes. Por isso exercitar a atenção plena através de meditação em casa ou com um profissional de saúde mental poderá ajudá-lo a “ganhar consciência dos seus padrões comportamentais, de modo a poder escolher uma resposta mais saudável”, diz Spruill.

“É uma questão de aceitar o desconforto e o facto de que os sentimentos negativos fazem parte da vida e não algo a evitar”, diz Spruill. “O treino da atenção plena elimina alguma da dor. Ainda terá as experiências, mas não vão doer-lhe da mesma forma.”

Em alguns casos, poderão ser necessários medicamentos como inibidores selectivos da recaptação de serotonina (ISRS) para tratar um espectro de sintomas associados ao stress crónico.

De resto, os especialistas recomendam que alinhe os seus hábitos de vida com os seus objectivos: consuma alimentos nutritivos, durma o suficiente, pratique exercício físico e acarinhe as relações com as pessoas em quem pode confiar quando as coisas se tornam stressantes.

Artigo publicado originalmente em inglês em nationalgeographic.com. A sua leitura não substitui a consulta de um especialista.