A nossa visão depende do Sol, mas os nossos olhos também podem sofrer lesões irreversíveis em poucos minutos. A maior parte daquilo que vemos no mundo natural é revelado pelo facto de este reflectir a luz solar. Isto acontece até à noite, pois o brilho da Lua é simplesmente o reflexo do Sol. Alguns estudos sugerem que a luz solar até ajuda os olhos a desenvolverem-se correctamente e que a falta de luz solar na infância pode causar miopia.

Contudo, o Sol brilha com tal intensidade que, até a 150 milhões de quilómetros, pode causar lesões permanentes nos nossos olhos – e é por isso que nunca deve olhar para ele directamente. Da mesma forma que uma lupa pode focar a luz num ponto sobre uma folha de papel com intensidade suficiente para lhe pegar fogo, o olho foca a luz na mácula, uma zona minúscula da retina, situada na parte de trás do olho. Ali, um conjunto de células foto-receptoras (essenciais para a visão a cores e para o foco da visão central) pode ser incendiado por um excesso de radiação solar. Estas células não são literalmente queimadas, mas são sujeitas a reacções fotoquímicas que podem danificá-las – por vezes, de forma permanente.

O Sol produz a maior parte da luz ultravioleta (UV) existente na Terra, embora as máquinas de bronzeamento dos solários e algumas luzes artificiais também possam emitir UV. A pele humana usa esta radiação electromagnética para criar a benéfica vitamina D. Em excesso, porém, a radiação UV pode lesionar ou matar as células dos organismos vivos, danificando o seu ADN e causando condições de pele desde queimaduras solares a cancro. A radiação UV também tem um forte impacto nos olhos.

Ao longo do tempo, o excesso de luz solar pode provocar condições comopterígio, um aumento da membrana protectora transparente do olho, ou problemas mais graves, como cataratas e até tipos raros de cancro. Estas consequências da exposição à luz solar são a razão pela qual os especialistas recomendam a utilização de chapéus com abas e óculos de sol que ofereçam 99 a 100 por cento de protecção UV.

A retina não tem receptores de dor, por isso as pessoas não costumam saber se estão a olhar para o Sol durante tempo suficiente para sofrer lesões. Com efeito, muitas não se apercebem até algumas horas mais tarde ou até no dia seguinte. Os foto-receptores da retina, mesmo quando totalmente sobrecarregados, podem funcionar durante horas até ficarem incapacitados.

No entanto, uma vez desactivados, as pessoas cujos olhos foram lesionados pelo Sol podem ficar com a visão turva e distorcida, ter dificuldades em focarem um rosto ou uma página impressa, ou desenvolver uma mancha no centro da visão conhecida como escotoma. Infelizmente, não há tratamento para as pessoas que sofrem estes danos – tudo o que há a fazer é esperar. Muitas melhoram com o tempo, enquanto outras, infelizmente, não.

Não é preciso muito tempo de exposição para correr riscos. Olhar directamente para o Sol pode causar danos permanentes nos olhos em menos de um minuto. Isto acontece com mais frequência durante um eclipse solar, em parte porque o Sol obscurecido parece menos perigoso. Na maioria dos dias, o Sol brilha no céu e muito poucas pessoas olham directamente para ele porque é extremamente desconfortável fazê-lo.

Proteger os olhos durante um eclipse solar

Um eclipse solar é um evento raro que leva muitas pessoas a olharem para onde normalmente não olhariam e, como a luz bloqueia grande parte do Sol, também é possível fazê-lo com menos desconforto. No entanto, isso não significa que seja seguro. Assim que a primeira nesga de sol emerge, brilha com intensidade suficiente para danificar o olho e afectará de forma ainda mais intensa as pupilas dilatadas pela escuridão, que permitem a entrada de mais luz.

Há muito que as pessoas reconhecem os riscos. Há quase 2.500 anos, Platão descreveu o perigo: “As pessoas podem ferir o seu olho corpóreo ao observar e olhar para o Sol durante um eclipse, a não ser que tomem a precaução de olhar apenas para a imagem reflectida na água ou noutro meio semelhante.” Actualmente, os especialistas advertem que até o reflexo do Sol é suficientemente forte para provocar lesões oculares.

Estudos avançados de imagiologia forneceram mais informações sobre a lesão, denominada retinopatia solar, por ser causada por excesso de exposição à radiação solar – que se sofre frequentemente ao ver um eclipse. Num estudo, uma mulher que observou o eclipse solar de 2017 através de óculos não-seguros desenvolveu uma lesão em forma de crescente nas células da retina danificadas, correspondente à aparência do Sol durante o período de 20 segundos em que olhou para o eclipse. Infelizmente, a lesão também criou uma mancha escura em forma de crescente que lhe prejudicou a visão.

Estes riscos não significam que tenha de prescindir de ver um eclipse solar – afinal, podem passar-se vários séculos numa determinada localização até o evento voltar a acontecer. As pessoas inventam formas criativas de ver eclipses desde há muito tempo.Aristóteles documentou o uso de um método estenopeico (pinhole) para ver um eclipse em segurança no século IV a.C.

Protecção UV Eclipse
AGUNG KUNCAHYA B. / XINHUA / REDUX

É importante usar equipamento protector durante um eclipse solar, como estas pessoas fizeram em Abril. Tenha cuidado com as falsificações e versões pouco seguras, que não oferecem a protecção adequada.

Hoje em dia, os óculos para eclipses, milhares de vezes mais escuros do que um par de óculos de sol convencional, são o meio de observação preferido, mas acarretam as suas próprias preocupações com a segurança. Infelizmente, existem falsificações e versões pouco seguras oferecidas como recordações ou à venda online. Antes de observar um eclipse solar, as pessoas devem adquirir óculos numa fonte de confiança. É uma forma de testemunhar um acontecimento verdadeiramente memorável sem que o Sol cause danos duradouros aos seus olhos.

Artigo publicado originalmente em inglês em nationalgeographic.com.