As emoções de deslumbramento envolvem frequentemente uma “transgressão das expectativas” – quando encontramos algo inesperado ou que nos deixa perplexos ou sem palavras. Esta “ignorância” pode acarretar grandes benefícios intelectuais.

Alguns especialistas, como Robert Fuller, professor de estudos religiosos da Universidade de Bradley, acha que estas emoções são o motor por detrás de algumas das maiores mentes do nosso mundo. O assombro e curiosidade pelo mundo físico levaram Isaac Newton a estudar e descobrir as leis que governam o nosso universo. O deslumbramento pela exploração espacial inspirou o trabalho pioneiro da engenheira Yvonne Brill sobre os sistemas de propulsão de foguetes.

Em seguida, examinamos mais de perto as emoções maravilhosas que enriquecem as nossas vidas.

Surpresa

A surpresa e o choque existem no mesmo espectro: embora o choque possa ser acompanhado por medo, a surpresa desperta o interesse e melhora a memória, a capacidade de aprendizagem e o foco.

A surpresa pode ser transformadora, levando-nos a mudar as nossas crenças e comportamentos. Alguns psicólogos dizem que a surpresa também pode aumentar qualquer emoção antecipada que sintamos em simultâneo. Podemos sentir-nos felizes no dia do nosso aniversário ao pensar no jantar que vamos ter com os nossos amigos, mas a nossa felicidade será aumentada quando formos surpreendidos por uma enorme festa (se gostarmos de festas surpresa). Os especialistas distinguem a surpresa de emoções como o assombro, em parte, porque a “surpresa” é frequentemente fácil de explicar. Já o assombro pode não ter uma explicação tão óbvia.

O hipocampo, conhecido como o detector de novidades do cérebro, está envolvido na surpresa. Esta região compara conhecimentos novos com informação previamente armazenada (memória) e liberta o químico do prazer e de recompensa, a dopamina, juntamente com norepinefrina (noradrenalina) quando identifica a novidade. Estudos mostram que o cérebro gosta desta sensação: os macacos que esperam uma recompensa têm os neurónios de dopamina a disparar, mas, quando não estão à espera de qualquer recompensa e recebem uma, estes disparam ainda mais.

 

 

Crianças observam com espanto um lagarto
STACY GOLD, NAT GEO IMAGE COLLECTION

Crianças observam com espanto um lagarto ao lado de uma piscina. A emoção pode promover as ligações humanas e provocar reacções positivas no organismo.

Interesse

Na opinião de alguns especialistas, o interesse é a primeira emoção que sentimos, tal como é possível observar nos olhos arregalados com que um recém-nascido olha para o rosto de um progenitor. Estudos realizados nos Países Baixos revelaram que a curiosidade pode ter duas “faces”: uma face positiva, um desejo que antecipa o prazer de descobrir o desconhecido; e uma negativa, uma sede de conhecimento que nunca é saciada (como as crianças que esperam impacientemente para abrir os presentes de Natal que as aguardam há semanas).

 

Um dos benefícios do interesse é conduzir à aprendizagem (sobretudo quando seguido pela surpresa). Os estudantes curiosos participam mais nas aulas, gostam de aprender mais e têm melhores notas e o mesmo se aplica aos adultos no local de trabalho.

Outros estudos também revelam que as pessoas que sentem mais interesse têm mais possibilidades de relatar níveis mais elevados de emoções positivas: mais avaliações positivas de si próprias, do mundo e do futuro, maior satisfação com a vida e menores níveis de ansiedade e depressão. O interesse também está ligado à empatia e as pessoas empáticas têm mais probabilidades de ser curiosas acerca dos outros e procurar estabelecer ligações interpessoais.

O interesse está enraizado no nosso cérebro através dos sistemas de procura e recompensa: a novidade activa a dopamina, um neuroquímico do desejo-recompensa, que nos impele a procurar respostas. Quando descobrimos a resposta, sentimos satisfação e queremos, frequentemente, descobrir mais coisas, de modo a manter o ciclo.

Sorrir quando estamos divertidos
LYNSEY ADDARIO, NAT GEO IMAGE COLLECTION

Sorrir quando estamos divertidos pode aumentar a pressão arterial e baixar a frequência cardíaca.

 

Divertimento

O divertimento, geralmente definido como uma emoção feliz invocada pelo humor ajuda-nos a socializar (criamos ligações ao partilhar gargalhadas), aprender (origina interesse, sobretudo nas crianças, que aprendem enquanto brincam) e a acalmarmo-nos a nós próprios. O divertimento também tem a sua própria expressão facial – cabeça inclinada para trás, lábios abertos num sorriso – que é diferente do contentamento e da felicidade. E tem o seu próprio perfil fisiológico: um ligeiro aumento da pressão arterial – que reflecte a tensão por detrás do humor e da brincadeira – e diminuição da frequência cardíaca, possivelmente porque activa o nosso sistema calmante.

Curiosamente, o riso não se restringe ao humor. Estudos concluíram que nos rimos 30 vezes mais com os outros do que quando estamos sozinhos e isso não se deve apenas ao facto de estarmos a partilhar piadas. Os cientistas teorizam que o riso é um sinal que comunica concordância, afiliação e afecto – emoções ligadas à criação de laços sociais.

Rimo-nos como reacção a afirmações sem graça dos nossos interlocutores e ao riso de outras pessoas – um fenómeno conhecido como riso antifonal. E a vontade de rir com os outros pode envolver neurónios-espelho (o processo de espelhamento acontece tão frequentemente com o riso como com os bocejos). Também nos rimos enquanto conversamos – com efeito, é mais provável que as pessoas se riam enquanto falam do que enquanto ouvem.

A capacidade de criar e sentir divertimento pode ajudar-nos a controlar uma emoção negativa, funcionando, por isso, como uma espécie de regulação emocional. Se nos concentrarmos naquilo que pode ser divertido numa situação inquietante, poderemos alterar o nosso ponto de vista e aliviar o stress. O riso é mesmo um bom remédio: está associado a melhor saúde cardiovascular, alívio da dor e um bom funcionamento do sistema imunitário.

Rir é o melhor remédio

A frase rir é o melhor remédio pode ter fundamentos científicos: pode melhorar a saúde cardiovascular e imunitária.

Assombro

Conhecemos o assombro quando o sentimos: a ver o pôr-do-sol, assistindo a um evento desportivo com 10.000 outros fãs ou participando num ritual espiritual. Cientistas como Dacher Keltner, investigador do assombro e co-director do Greater Good Science Center na Universidade da Califórnia, em Berkeley, definem o assombro como a emoção que ocorre quando as nossas expectativas são superadas.

O assombro transcende a compreensão e costuma envolver prazer, embora possa envolver medo, como quando assistimos a um tornado. Podemos senti-lo quando estamos sozinhos, mas é uma emoção mais frequentemente sentida em grupo. O estudo relativamente recente desta emoção produziu conclusões impressionantes. Está associada a relações mais fortes – faz as pessoas virarem a sua atenção para o exterior e sentirem-se mais ligadas umas às outras. O assombro também tem uma função de sobrevivência, ligando os indivíduos ao grupo, seja este de ideologia (um partido político), objectivos (uma equipa), identidade cultural ou circunstâncias (sobreviventes de uma cheia). No entanto, esta faceta social pode ter um lado sombrio, levando as pessoas a juntarem-se a grupos marginais ou cultos.

O assombro também faz bem à saúde: um estudo realizado em 2015 descobriu que, de sete emoções positivas, o assombro é a mais fortemente ligada a níveis baixos de citocinas pró-inflamatórias, uma resposta inflamatória envolvida em doenças crónicas como doença cardíaca e depressão. As citocinas pró-inflamatórias podem ser benéficas se estivermos feridos, mas podem causar danos quando libertadas cronicamente devido a emoções negativas.

Sentir assombro quando estamos sozinhos
BABAK TAFRESHI, NAT GEO IMAGE COLLECTION

Podemos sentir assombro quando estamos sozinhos, mas a emoção surge com mais frequência quando estamos em grupo.

Estratégia de sobrevivência

As emoções são muito complexas e operam a diversos níveis: através dos nossos movimentos faciais e corporais, do nosso sistema nervoso autónomo (que controla funções involuntárias como os batimentos cardíacos e a respiração), do nosso sistema nervoso somático (que envolve os cinco sentidos e os movimentos musculares voluntários) e das nossas mentes conscientes e subconscientes. Mas uma coisa é certa: as emoções ajudam-nos a desfrutar, compreender e sobreviver a este mundo.

Artigo publicado originalmente em inglês em nationalgeographic.com.