O transtorno obsessivo-compulsivo (TOC) é uma doença mental que afecta mais de 100 milhões de pessoas em todo o mundo, ou seja, 3% da população mundial. Em Portugal, segundo um estudo do Instituto de Investigação em Ciências da Vida e Saúde da Universidade do Minho publicado em 2017, 4,4% pessoas padeciam desta doença crónica

Caracterizado por comportamentos repetitivos e compulsivos, como a necessidade constante de verificar, lavar ou arrumar objectos, o TOC pode ter um impacto significativo na vida quotidiana das pessoas que dela sofrem.

O TOC pode ser causado por um desequilíbrio entre os neurotransmissores glutamato e ácido gama-aminobutírico.

Embora estes comportamentos compulsivos sejam há muito conhecidos dos profissionais de saúde mental, os cientistas nunca compreenderam totalmente a sua base bioquímica nem a sua relação com os níveis de determinados neurotransmissores no cérebro.

No entanto, uma equipa liderada pelos investigadores da Universidade de Cambridge, Marjan Biria e Trevor Robbins, poderá ter descoberto um dos mecanismos neuroquímicos subjacentes a esta perturbação. Os resultados do seu estudo, intitulado "Cortical glutamate and GABA are related to compulsive behaviour in individuals with obsessive compulsive disorder and healthy controls", foram publicados esta semana na revista "Nature Communications"


A QUÍMICA POR DETRÁS DA IMPULSIVIDADE E DA OBSESSÃO 

Para tentar esclarecer esta questão, os cientistas utilizaram um método de scanning cerebral para medir os níveis de vários neurotransmissores em duas regiões específicas do cérebro: o córtex cingulado anterior e a área motora suplementar, duas áreas intimamente relacionadas com o comportamento compulsivo e a regulação do movimento.
Os investigadores compararam então os exames cerebrais e outras medidas psicológicas de comportamento compulsivo entre um grupo de 31 participantes diagnosticados com TOC e um grupo de controlo de 30 indivíduos sem a doença.

Os resultados do estudo revelaram que, em todos os participantes, os níveis do neurotransmissor glutamato, conhecido pela sua função excitatória no cérebro, e a sua relação com o neurotransmissor GABA (ou ácido gama-aminobutírico), um inibidor do sistema nervoso central, estavam fortemente relacionados com o comportamento compulsivo habitual. 
Os resultados sugerem que os desequilíbrios na transmissão destes neurotransmissores excitatórios e inibitórios podem estar na base do comportamento compulsivo na TOC. De facto, ao encontrar provas comuns deste desequilíbrio em todos os voluntários do estudo, o trabalho de Biria e Robbins assenta na ideia de que a compulsividade pode ser um fenómeno inequivocamente associado às regiões frontais do cérebro.

Os autores esperam que esta descoberta possa abrir caminho para o desenvolvimento de novos tratamentos neuromoduladores destinados a reequilibrar os níveis de neurotransmissores, neste caso o glutamato e o GABA, nos circuitos cerebrais afectados, e que, à medida que se aprofunde a compreensão da base neuroquímica do TOC, possam ser desenvolvidos novos tratamentos para ajudar as pessoas que sofrem deste distúrbio e melhorar a sua qualidade de vida, cerca de 3% da população mundial.