O anúncio foi feito esta manhã na página oficial da rede X do Prémio Nobel: "O Prémio Nobel 2023 em Fisiologia ou Medicina foi atribuído a Katalin Karikó e Drew Weissman pelas suas descobertas relativas às modificações das bases nucleósidas que permitiram o desenvolvimento de vacinas eficazes de mRNA contra a COVID-19".
Em comunicado de imprensa, a Assembleia Nobel do Instituto Karolinska justifica assim a sua escolha: Karikó e Weissman foram galardoados "pelas suas descobertas inovadoras, que alteraram fundamentalmente a nossa compreensão da forma como o mRNA interage com o nosso sistema imunitário". No seu parecer, acrescentam que os laureados contribuíram para "o ritmo sem precedentes para a taxa sem precedentes de desenvolvimento de vacinas durante uma das maiores ameaças à saúde humana nos tempos modernos".
vacinas tradicionais vs vacinas mrna
Se quisermos olhar com olhos de ver para a história da vacinação, constataremos que esta percorreu um longo caminho desde que o médico Edward Jenner usou o pus de uma bolha infectada para criar a primeira vacina contra a varíola em 1796. A partir desse momento inaugural, as vacinas quase sempre usaram uma parte do próprio patógeno, ou seja, o agente infeccioso que pode provocar uma doença.
Até que a COVID-19 trouxe para a ribalta uma tecnologia emergente baseada no RNA mensageiro, uma molécula que carrega o código genético. Criadas separadamente pela Moderna e por uma colaboração entre a Pfizer e a BioNTech, duas das vacinas mais eficazes no combate ao vírus foram desenvolvidas em poucos dias e ambas demonstraram ser altamente protectoras em testes clínicos.
As vacinas tradicionais usam vírus enfraquecidos ou fragmentos de proteínas virais para ensinar o sistema imunológico a reconhecer e combater um invasor.
Os cientistas apostaram que o mRNA poderia ensinar a mesma lição, se ao menos conseguissem fazer com que ele permanecesse no organismo. Quando usado numa vacina, o mRNA é uma molécula móvel que fornece instruções ao nosso organismo para produzir os componentes de um vírus que desencadearão uma resposta imunológica. Mas é uma mensagem temporária: o corpo degrada rapidamente o mRNA após a sua leitura – um problema para os cientistas que queriam usá-lo em vacinas.
Alguns especialistas vêem as vacinas de mRNA como a chave para programas de vacinação mais rápidos ou mais eficazes, combatendo vários vírus com uma única injecção ou fornecendo protecção contra doenças difíceis.
As vacinas de mRNA podem ensinar o nosso organismo a produzir e a combater uma proteína viral sem nunca encontrar o patógeno.
"A tecnologia é comprovadamente segura e eficaz, e todo mundo no planeta Terra sabe disso, excepto os antivaxxers", dizia no primeiro ano da pandemia Derrick Rossi, biólogo e empresário de biotecnologia que foi co-fundador da Moderna.
Em Janeiro de 2021, por exemplo, a Moderna prometia novos programas para desenvolver vacinas de mRNA contra o vírus Nipah, o HIV e a gripe, acrescentando à sua linha de vacinas que já incluía mais de 20 esforços de mRNA.
No entanto, embora seja tentador ver a tecnologia como uma espécie de salvador científico, alguns especialistas alertam que o sucesso das vacinas contra a COVID-19 não pode ser extrapolado e que o mRNA não atenderá a todas as preces sobre vacinas.
O que descobriram os laureados do prémio nobel da medicina de 2023?
Drew Weissman, professor de medicina da Universidade da Pensilvânia, e Katalin Karikó, bioquímica responsável pela vacina contra a COVID-19 da Pfizer e da BioNTech, descobriram, em 2015, que envolver o mRNA num revestimento de nanopartículas lipídicas não apenas transmitia a mensagem, mas também produzia um adjuvante de vacina, uma substância que promove a produção de anticorpos.
Alguns especialistas vêem as vacinas de mRNA como a chave para programas de vacinação mais rápidos ou mais eficazes, combatendo vários vírus com uma única injecção ou fornecendo protecção contra doenças difíceis.
Com este sistema, as vacinas de mRNA podem ensinar o nosso organismo a produzir e combater uma proteína viral sem nunca encontrar o patógeno. Al��m disso, os mesmos ingredientes básicos podem ser usados todas as vezes, adicionando apenas um componente exclusivo – uma sequência de mRNA – para produzir a proteína necessária.
As vacinas de mRNA podem ensinar o nosso organismo a produzir e combater uma proteína viral sem nunca encontrar o patógeno.
Nas vacinas da Moderna e da Pfizer-BioNTech contra a COVID-19, esse ingrediente é a sequência que codifica a proteína spike do coronavírus, que é o que permite que o vírus entre nas células humanas. Em teoria, seria possível trocar essa sequência da proteína spike por outra que produz um antígeno do HIV e teríamos uma vacina contra o HIV, dizia em 2021 Weissman, um dos laureados do Prémio Nobel da Medicina. Encontrar a proteína certa é o desafio, mas o método é sempre o mesmo. "É por isso que lhe chamam 'plug and play'", concluía.
Adaptação e actualização de artigo publicado originalmente em inglês em nationalgeographic.com em Janeiro de 2021.