Em média um norte-americano produz quase 2,5 kg de resíduos por dia. Saiba como evitar que os resíduos acabem no aterro sanitário.
Um saco de plástico, uma caixa de pizza suja, talheres de plástico, guardanapos de papel e uma lata de refrigerante - uma única refeição de take-away pode parecer um teste aos nossos conhecimentos sobre reciclagem.
Que itens podem ser reciclados? Que tipos de plástico vão para o lixo? E se a caixa tiver gordura?
Reciclar pode ser complicado e as regras que dizem como o fazer variam de cidade para cidade, o que pode ser uma razão para apenas 32% do lixo ser reciclado nos E.U.A.
Segundo um relatório da Greenpeace, apenas cerca de 6% do plástico - que inclui tudo desde garrafas de plástico a sacos de soro intravenoso - produzidos nos E.U.A. em 2021 foi reciclado. Alguns itens de plástico são concebidos de formas que dificultam a sua reciclagem ou as empresas de reciclagem têm dificuldade em encontrar quem queira comprar materiais reciclados.
Isto é um problema para o ambiente e para a saúde humana, uma vez que todo esse plástico se decompõe em pedaços microscópicos e contamina tudo, desde o oceano aos nossos organismos.
Conseguimos fazer muito melhor com o papel, 68% do qual é reciclado. No entanto, os especialistas dizem que podemos fazer mudanças para melhorar a reciclagem em casa, na nossa comunidade e com o nosso voto.
Que plásticos pode reciclar?
Quer separar melhor o lixo para reciclagem? Não se deixe enganar pelo triângulo feito de setas impresso no plástico. Estes triângulos não significam necessariamente que um item é reciclável - indicam apenas o seu “código de identificação de resina”, uma de sete categorias que indicam o tipo de plástico. Apenas algumas destas categorias são adequadas para reciclagem.
“O plástico é extraordinariamente complicado”, diz Darby Hoover, especialista em reciclagem do Conselho Nacional de Defesa dos Recursos Naturais dos EUA “Quando se produz uma embalagem ou um objecto em plástico, acrescentam-se tintas e aditivos que alteram as suas propriedades para o tornar tão rígido ou tão flexível quanto precisa de ser. Todos esses aditivos afectam o seu ponto de fusão e a capacidade de ser reciclado”.
Os códigos de identificação de resina do plástico tinham por objectivo ajudar as empresas de reciclagem, mas um inquérito realizado em 2019 a 2000 americanos mostrou que 68% dos participantes pensava que o símbolo do triângulo significava que um produto podia ser reciclado. Estes símbolos são tão frequentemente entendidos como indicadores de reciclagem que a Califórnia promulgou recentemente uma lei restringindo o seu uso.
Os especialistas dizem que devemos investigar quais os plásticos aceites pela empresa de reciclagem local, mas, regra geral, os plásticos identificados com o número 1 ou 2 são mais provavelmente reciclados. Tratam-se de plásticos rígidos como garrafas de água e de leite e as fábricas de reciclagem têm máquinas concebidas para limpar, triturar e derreter este tipo de plástico.
Os plásticos identificados com um 5, existentes em determinados recipientes frascos de alimentos e de medicamentos podem ser reciclados na sua comunidade, mas nem todas as empresas os aceitam.
Os restantes plásticos - com os números 3, 4, 6 e 7 – apresentam maior probabilidade de serem despejados num aterro se os depositar no caixote da reciclagem. Estes tipos de itens incluem o papel-bolha, sacos de compras e embalagens alimentares flexíveis.
“Um dos maiores problemas é o chamado “wish-cycling”: desejamos que algo seja reciclado e, por isso, pomo-lo no caixote da reciclagem e fazemos figas para que tal aconteça”, diz Hoover.
Segundo ela, isso é uma perda de tempo. Na melhor das hipóteses, vai parar ao aterro. Na pior, encrava uma máquina de reciclagem e tem de ser removido à mão – um processo que atrasa as operações.
“Esses sacos de plástico ficam enrolados à volta dos ecrãs e temos de cortá-los. São uma praga da nossa existência”, diz Marti Matsch, vice-directora da Eco-Cycle, uma empresa de reciclagem de sediada em Denver, no Colorado.
Matsch diz que a Eco-Cycle deita fora, em média, cerca de 10% da reciclagem que recolhe no lixo porque os residentes depositam no caixote itens que não podem ser reciclados - desde sacos de plástico a peças de roupa.
É mesmo preciso lavar a reciclagem?
Outra mudança que pode fazer para aumentar as probabilidades da sua reciclagem ser reciclada é assegurar-se de que mantém o seu caixote livre de contaminações por alimentos, sujidade ou químicos.
O papel, por exemplo, é mais bem processado quando está limpo e quaisquer partículas de alimentos ou humidade presentes noutros itens recicláveis podem fazer com que o papel nunca seja reciclado. É por esta razão que as caixas de pizza gordurosas, por exemplo, costumam ir para o lixo doméstico.
As cidades e vilas fornecem frequentemente aos seus residentes guias que explicam exactamente aquilo que podem reciclar. Em Washington D.C., por exemplo, pode descobrir como descartar um item pesquisando a base de dados da cidade. A Recycling Partnership, uma organização dedicada a melhorar o sistema de reciclagem, tem uma base de dados nacional que ajuda a conhecer a reciclagem da sua comunidade.
Para onde vai a sua reciclagem?
Vender materiais reciclados é uma das formas de as comunidades compensarem o custo da recolha, separação e processamento da reciclagem, sendo, por isso, essencial encontrar um comprador para o material reciclado para que a reciclagem ser bem-sucedida. Contudo, a procura por esse material varia e é por isso que algumas comunidades não aceitam todos os tipos de reciclagem.
O alumínio reciclado é valioso porque o metal pode ser reciclado sucessivamente sem se degradar, ao contrário do plástico, que é frequentemente transformado em materiais de qualidade inferior e utilizado para fabricar novos produtos, como tapetes ou aglomerado.
No Colorado existe um mercado activo para os plásticos identificados com o número 5, diz Matsch, por isso a Eco-Cycle aceita essa resina.
Em termos gerais, porém, as empresas de reciclagem têm mais dificuldade em encontrar compradores para o plástico. Os mesmos aditivos e tintas que produzem diferentes formas, texturas e cores de plástico podem dificultar a produção de um material que valha a pena comprar.
“Com tantas variações é muito difícil encontrar compradores que peguem nesse material e o transformem em algo novo, porque eles estão à procura de uma receita simples e não de algo tão complicado”, diz Matsch.
Durante décadas esse comprador foi principalmente a China, que importou milhões de toneladas de plástico usado aos E.U.A. No entanto, em 2017 a China aumentou os padrões do plástico que estava disposta a comprar e deixou as empresas de reciclagem norte-americanas sem comprador.
Parte da reciclagem foi para outros países, como a Indonésia e o México, ou então despejada em aterro.
Cada vez mais, porém, algumas empresas – como a Target, por exemplo – estão empenhadas em utilizar mais materiais reciclados provenientes de empresas de reciclagem.
Como tornar a reciclagem mais eficaz
Segundo os especialistas em políticas ambientais, uma possível solução é aumentar o “valor das garrafas”. Se viver num dos dez estados dos E.U.A. onde estas leis estão em vigor poderá ter reparado que as garrafas de refrigerantes têm valores impressos nos rótulos, desde 5 a 15 cêntimos.
Isto determina o valor de uma garrafa e incentiva os consumidores a levarem-na para uma empresa de reciclagem aderente. Um relatório de 2020 sobre lixo concluiu que os estados com valores de garrafa têm metade do lixo que os outros.
Os pontos de entrega também são úteis para a recolha de sacos de plástico. Alguns supermercados dispõem de locais onde é possível entregar sacos de plástico, que têm assim maior probabilidade de serem mantidos limpos e entregues a centros de reciclagem especializados.
“Outra coisa extremamente importante é sabermos o que se passa em termos políticos e como podemos apoiar os esforços de diminuição dos resíduos”, diz Hoover. Muitas cidades estão a definir metas de “resíduos zero”, com uma maior participação da reciclagem como estratégia para manter os resíduos fora dos aterros.
No entanto, alguns especialistas ambientais dizem que temos de pensar fora a caixa de reciclagem amarela se quisermos mesmo impedir que o fluxo da poluição por plástico entre no meio ambiente.
“O melhor que podemos fazer pelos contribuintes é produzir menos lixo”, diz Judith Enck, antiga administrador regional da EPA /Agência de Protecção Ambiental dos EUA) e presidente do grupo ambiental Beyond Plastics.
Nos últimos anos, alguns estados adoptaram legislação que torna os produtores responsáveis pelo potencial de reciclagem do seu produto. Estas leis têm abordagens diferentes, mas podem exigir que um fabricante contribua financeiramente para centros de reciclagem ou que altere o design do seu produto para este ser mais facilmente reciclado.
Numa nova abordagem à reciclagem, Enck gostaria de ver mais programas que permitam que garrafas e outras embalagens sejam lavadas e reenchidas. Ela cita o anúncio recente de Coca-Cola de que irá tentar reencher ou reutilizar um quarto das suas garrafas de vidro e de plástico até 2030, como exemplo das alterações que os principais poluentes de plástico, como é o caso desta empresa de bebidas, podem fazer. Enck também refere iniciativas de menor escala, como uma startup que lava e reenche as garrafas numa máquina de venda.
“Isto é o futuro”, diz. “É disto que precisamos”.