No último ano, o Ozempic, um medicamento desenvolvido pela empresa farmacêutica dinamarquesa Novo Nordisk em 2012, fez manchetes a nível mundial. O medicamento, cujo princípio activo é o semaglutide, provou ser uma ferramenta eficaz na luta contra a obesidade, embora tenha sido inicialmente desenvolvido para tratar a diabetes de tipo 2. Em 2017, a Agência Europeia de Medicamentos (EMA) recomendou a sua aprovação para utilização na União Europeia porque concluiu "os benefícios do Ozempic observados nos estudos são superiores aos seus riscos".

COMO FUNCIONA O OZEMPIC

O semaglutido estimula a libertação de insulina pelo pâncreas, uma hormona crucial para a redução dos níveis de glucose no sangue. Também promove o crescimento das células beta pancreáticas, que são responsáveis pela produção e libertação de insulina.

O semaglutido inibe igualmente a produção de glucagon, uma hormona que promove a libertação de hidratos de carbono armazenados no fígado e a síntese de nova glucose, contribuindo assim para a regulação dos níveis de glucose no sangue. Por fim, reduz a ingestão de alimentos, diminuindo o apetite e retardando a digestão no estômago, o que, por sua vez, ajuda a reduzir a gordura corporal. Para além disso, o semaglutido demonstrou reduzir o risco de problemas cardiovasculares graves, uma descoberta que os especialistas saudaram como um avanço revolucionário no tratamento da obesidade.

Em termos de eficácia, o semaglutido apresentou resultados promissores em ensaios clínicos. Por exemplo, num ensaio de Fase III, os adultos tratados com semaglutido registaram uma redução média de 14,9% do peso corporal ao fim de 68 semanas, em comparação com uma redução de 2,4% no grupo do placebo, o que representa uma diferença de tratamento estimada em 12,4%.

Porém, o semaglutide não é o único medicamento bem-sucedido neste domínio. Em ensaios clínicos, a Tirzepatida (Mounjaro), por exemplo, demonstrou uma capacidade notável de reduzir o peso, em alguns casos até uma média de 21% do peso corporal dos participantes.

EFEITOS SECUNDÁRIOS

Enquanto o advento de medicamentos que imitam o exercício para promover a perda de peso ainda está no horizonte, Ozempic estabeleceu-se como uma opção eficaz para combater a obesidade.

No entanto, não é isento de controvérsia, uma vez que não está indicado para este fim e a sua utilização pode conduzir a efeitos secundários indesejáveis. A EMA destaca dois: problemas no sistema digestivo "de gravidade ligeira a moderada e de curta duração", como diarreia, vómitos e náuseas, e ainda o frequente "agravamento da retinopatia diabética" – lesões na retina, a membrana sensível à luz na parte posterior do olho – que pode afectar 1 em cada 10 pessoas. Também a perda de massa muscular costuma ser associada à toma deste medicamento.

MUDANÇA NOS HÁBITOS DE CONSUMO?

No entanto, a popularidade do Ozempic gerou situações inesperadas, e isto ainda agora começou, pois segundo um dossier publicado pela Axios, analistas, estrategas e associados da Morgan Stanley estimam que, na próxima década, 7% da população norte-americana poderá estar a tomar medicamentos para a obesidade. 

Por enquanto, nos EUA, onde o medicamento está disponível em farmácias e supermercados como o Walmart, observou-se uma mudança nos hábitos de compra das pessoas que compraram semaglutide, após ter sido realizada uma investigação. Verificaram que as pessoas que compraram Ozempic reduziram o número de calorias e o número total de produtos que compraram durante as suas visitas ao supermercado. Isto pode acabar por acontecer noutros supermercados e até em restaurantes de fast food. Simplesmente porque as pessoas que tomam o medicamento comem alimentos com menos calorias.