Mercúrio, o mais pequeno dos oito planetas, nem tem sequer o tamanho de algumas luas do Sistema Solar. Além disso, está a encolher: medições recentes de fendas na sua crosta sugerem que o planeta perdeu um máximo de 14 quilómetros ao longo dos seus 4.500 milhões de anos de história.
Localizar Mercúrio
O primeiro objecto a contar do Sol é visível a olho nu, mas não é o mundo mais fácil de observar. Frequentemente ocultado pelo brilho do Sol, Mercúrio é visível no horizonte cerca de seis vezes por ano. Em cada uma dessas ocasiões, é observável durante cerca de quinze dias, numa altura baixa, a poente após o pôr do Sol e a nascente antes da alvorada, mas as turbulências atmosféricas podem dificultar a sua observação.
Mercúrio, juncado de crateras, é um corpo denso com um enorme núcleo de ferro. Chris Cook/Science Source
Mistérios de Mercúrio
Baptizado com o nome do veloz deus mensageiro, Mercúrio é um planeta incrivelmente denso e pródigo em exageros. Possui um núcleo de ferro que ocupa mais de 65% da sua massa (o da Terra ocupa 32%) e apresenta uma curiosa estratificação até agora não observada em qualquer outro lugar. Embora certas regiões da sua superfície atinjam uns tórridos 4250C, os pólos mercuriais são tão frios que contêm depósitos de gelo de água.
A sonda Messenger da NASA, que orbitou Mercúrio entre 2011 e o início de 2015, revelou estranhas cavidades na superfície juncada de crateras: acidentes que a ciência ainda não conseguiu explicar por completo. Além disso, Mercúrio tem uma rotação assíncrona que cria um calendário confuso: um dia específico em Mercúrio corresponde a 58 dias terrestres, mas um ano seu equivale a 88 dias dos nossos.
O Sol, Vénus, a Lua e Júpiter surgem aproximadamente no mesmo local no horizonte e parecem seguir a elíptica. Detlev van Ravenswaay/Science Source
Vénus
No século VII a.C. os babilónios deixaram testemunho escrito das suas observações do planeta que hoje conhecemos como Vénus, realizadas ao longo de quase um milénio. Semelhante à Terra em termos de dimensão e densidade, durante muito tempo pensou-se que Vénus seria uma espécie de planeta irmão ou que talvez o tivesse sido em determinada altura. Quando os cientistas examinaram aquele mundo brilhante, verificaram que não era um irmão actualmente: Vénus é um lugar abrasador e infernal e foi destruído precisamente pelo manto tóxico que o faz brilhar tão intensamente no firmamento.
Observar Vénus
Baptizado em homenagem à deusa romana do amor, aparenta ser o objecto mais brilhante do nosso céu, depois do Sol e da Lua. Devido à sua posição entre o Sol e a Terra, Vénus será sempre “a estrela da manhã” ou “a estrela da tarde”, nunca um astro visível à meia-noite, como Marte e Júpiter.
Na sua órbita do Sol e no seu percurso relativamente à Terra, Vénus desenha sempre o mesmo padrão no céu. Os maias observaram que o planeta aparece no céu antes da alvorada 236 vezes por ano e, de seguida, desaparece durante 90 dias.
Volta a tornar-se visível ao entardecer e assim permanece durante 250 dias, para depois desaparecer durante oito dias e voltar a revelar-se de madrugada. Os gregos antigos chegaram à conclusão errada de que a estrela da manhã e a estrela da tarde eram dois corpos diferentes, enquanto os maias reconheceram os seus ciclos e usaram-nos como base para os seus calendários, a sua cosmologia e a sua arquitectura.
À semelhança da Lua, Vénus conhece diversas fases, embora seja difícil observá-las sem binóculo ou um pequeno telescópio, sobretudo quando exibe um brilho intenso num céu muito escuro. Contudo, de tempos a tempos, Vénus é visível sob a forma de crescente. Correm boatos de que, por vezes, tal como acontece com a Lua, é possível vislumbrar a parte não iluminada do disco planetário. Com os filtros adequados, os astrónomos amadores podem distinguir alterações nas vaporosas nuvens venusianas.
Vénus passa diante do Sol num dos seus trânsitos registados. ESA © 2007 MPS para OSIRIS equipa MPS/UPD/LAM/IAA/RSSD/INTA/UPM/DASP/IDA
Um mundo de excentricidades
A translação completa de Vénus em torno do Sol dura 225 dias terrestres, mas o planeta gira a uma velocidade incrivelmente baixa. Com efeito, a sua rotação é a mais lenta de todos os planetas. Equivalente a 116 dias terrestres, um dia venusiano é mais longo do que meio ano venusiano. Mas esta não é, de todo, a única peculiaridade deste planeta incandescente. A sua atmosfera gira sobre a superfície numas vertiginosas 96 horas, criando remoinhos colossais que se alteram continuamente nos pólos. Uma “neve” metálica cai sobre os vulcões e deixa marca sobre a superfície, onde a pressão atmosférica é cerca de 90 vezes superior à da Terra. Essa superfície é o ponto mais quente do Sistema Solar (excepto o Sol, evidentemente).
Com 4500 C, Vénus é ainda mais quente do que Mercúrio, mas a diferença entre as temperaturas diurnas e nocturnas (assim como entre as polares e as equatoriais) é de zero graus (um dado descoberto pelo nosso perito, Frank Drake). Isso acontece porque a espessa atmosfera que cobre o planeta (com 240 quilómetros de dióxido de carbono) retém e distribui o calor de modo uniforme. Sob esse manto, há camadas de nuvens ácidas e sulfúricas com elevada capacidade de reflexão. Apesar disso, alguns cientistas acham possível a sobrevivência biológica nas altas camadas da atmosfera venusiana, a qual, a partir dos 50 quilómetros de altitude, é muito parecida com a terrestre.
Vénus nem sempre foi o deserto que é hoje. Há milhares de milhões de anos, terá sido muito mais parecido com a Terra. Provavelmente, teria oceanos e, quem sabe, formas de vida. Mais tarde, por motivos que desconhecemos, os gases com efeito de estufa assolaram o planeta, evaporando os oceanos e transformando Vénus no mundo que hoje conhecemos.
Explorar Vénus
As imagens já vistas da superfície de Vénus foram captadas pelas sondas soviéticas Venera, lançadas nas décadas de 1970 e 1980, e pelas Pioneer e Magalhães da NASA, que cartografaram o planeta com radares capazes de atravessar as nuvens tóxicas que o envolvem. Até há pouco tempo, a sonda Venus Express, da Agência Espacial Europeia, orbitava o planeta. Ao fim de mais de oito anos de exploração, o combustível da nave acabou e, no início de 2015, esta fundiu-se lentamente nas brumas venusianas.
Cratera venusiana de Danilova, segundo os dados do radar da sonda orbital Magalhães. Larry Landolfi /Science Source
Marte
Avermelhado e vistoso, há muitos séculos que Marte alimenta a imaginação terrestre. Escritores e sonhadores viram nele o ponto de partida de invasões alienígenas e o próximo posto avançado da humanidade, ou um planeta coberto de vegetação, com canais de irrigação e decorado com rostos esculpidos por mão extraterrestre. Há que recordar que nada disto é garantido, exceptuando-se talvez a possibilidade de um dia podermos enviar seres humanos a Marte. Isto torna o planeta muito mais interessante do que as suas versões fictícias: morada de Olympus Mons, o maior vulcão do Sistema Solar, o pequeno Planeta Vermelho esteve em tempos coberto de água e foi um ambiente capaz de albergar vida.
Observar Marte
Baptizado com o nome do deus romano da guerra, distingue-se facilmente a olho nu, mas o seu tamanho e brilho sofrem variações acentuadas ao longo do seu ano, que dura 687 dias terrestres. Durando 24,6 horas, o dia marciano é ligeiramente mais longo do que o nosso.
A melhor oportunidade para avistar Marte é quando o planeta se encontra em oposição, ou seja, quando a Terra se interpõe entre ele e o Sol, algo que só acontece uma vez a cada 780 dias, aproximadamente, pois a sua órbita é bastante parecida com a nossa.
É possível apreciar a cor avermelhada do planeta com binóculo e, se a noite estiver limpa, um telescópio pequeno revela campos de lava escuros e as calotas polares geladas. As luas marcianas Fobos e Deimos são tão pequenas que não se consegue vê-las. Mais parecidas com batatas do que com esferas, crê-se que essas luas (cujos nomes significam “medo” e “fuga”) foram roubadas à cintura de asteróides.
O Planeta Vermelho tem calotas polares, desertos, campos de lava e desfiladeiros gigantescos. NASA/Laboratório de Física Aplicada da Universidade Johns Hopkins/Carnegie Institution de Washington
Paisagens Marcianas
Em Marte, existem algumas das paisagens mais impressionantes do Sistema Solar. Coberto por desertos e dunas, também possui vias fluviais e lagos que sugerem um passado aquático. Um dos seus vulcões é o maior de todo o Sistema Solar e o complexo vulcânico de Tarsis encontra-se na zona do equador marciano, onde também se situa o gigantesco Valles Marineris, um sistema de desfiladeiros com 4.000 quilómetros de largura que, em alguns lugares, chega a ultrapassar seis quilómetros de profundidade.
À semelhança da Terra, Marte tem estações do ano e clima atmosférico. O planeta é percorrido por tempestades de poeira e nuvens e os pólos encontram-se cobertos por calotas de gelo que avançam e recuam consoante as estações. Os cientistas suspeitam que parte da água que circulou outrora pela superfície de Marte está hoje retida numa camada subterrânea congelada. A restante ter-se-á evaporado, segundo conjecturam, embora desconhecendo a razão.
Explorar Marte
Há décadas que os seres humanos enviam sondas a Marte. É um planeta relativamente próximo, com uma história enigmática e paisagens que lembram vagamente as nossas, o que o torna um destino tentador para a exploração espacial. No entanto, o Planeta Vermelho já destruiu quase tantas sondas como aquelas que acolheu de bom grado e as missões a Marte continuam a ser um enorme risco.
Em Agosto de 2012, durante “sete minutos de terror”, o gigantesco veículo todo-o-terreno Curiosity, enviado pela NASA, desceu à superfície marciana com a ajuda de um pára-quedas e uma grua espacial equipada com retrofoguetes e explorou o interior da cratera Gale. Juntou-se, assim, à legião de robots que já estavam no planeta. Um deles, o Opportunity, da NASA, já explorava o planeta há mais de dez anos. Hoje, há ainda mais naves a cruzar o céu marciano, que ali se fixaram para observar a recente e fugaz passagem do cometa Siding Spring.
Em 2012, o robot Curiosity da NASA pousou na cratera Gale, onde procura indícios de vida na superfície. NASA/JPL-Caltech/MSSS
Nas próximas décadas, assistiremos à chegada de mais sondas e veículos de exploração. É possível que, um dia, quem sabe antes do fim deste século, enviemos seres humanos para lá.