Mais além de uma faixa de detritos rochosos, orbitam quatro planetas gigantes. Dois deles, Júpiter e Saturno, são conhecidos como gigantes gasosos.Os outros dois, Úrano e Neptuno, são os gigantes de gelo. Este quarteto de mundos com anéis alberga muitas das luas mais interessantes do Sistema Solar: em algumas delas, aliás, poderá ter existido vida.

JÚPITER

Grande e colorido, Júpiter é um dos planetas mais generosos para a observação. Baptizado em homenagem ao rei dos deuses romanos, Júpiter é o maior vizinho da Terra e a diferença de tamanho é enorme.

Apresenta manchas e riscas nebulosas visíveis quando observado com um telescópio. Com binóculo de boa qualidade, avistará quatro das suas 67 luas, as mesmas descobertas por Galileu em 1610. Por impressionante que pareça, os maiores tesouros do sistema joviano poderão não estar no planeta em si, mas num dos seus satélites.

Júpiter

Júpiter com as suas luas Io e Europa, observadas pela Voyager em 1979. Io é visível sobre a Grande Mancha Vermelha de Júpiter.

LOCALIZAR JÚPITER

A seguir a Vénus, Júpiter é o planeta mais brilhante do nosso firmamento. Embora a sua órbita seja cerca de 15 vezes mais distante do que a de Vénus, as dimensões de Júpiter facilitam a sua localização, mesmo quando não brilha com a sua máxima intensidade. Uma vez que demora cerca de 12 anos a descrever uma órbita completa em torno do Sol, Júpiter passa cerca de um ano em cada constelação do zodíaco, o que facilita a sua observação.

REI DOS PLANETAS

Gigante gasoso, a massa de Júpiter é igual a 318 vezes a da Terra. No entanto, nunca mostrará uma superfície firme quando observado a partir do espaço: o núcleo do planeta jaz sob uma atmosfera com milhares de quilómetros de espessura. As nuvens mais altas dessa atmosfera, na sua maior parte constituída por hidrogénio e hélio, explicam as riscas coloridas que circundam o planeta.

Essas cores devem-se a variações mínimas de temperatura e composição e também dependem de o gás estar a subir ou a descer.

Em Júpiter, ocorrem frequentemente tempestades, cujos remoinhos formam as manchas que polvilham essas faixas nebulosas. Uma delas, chamada Grande Mancha Vermelha, tem vindo a diminuir desde o início do século XX e os cientistas não sabem se ou quando chegará a desaparecer completamente.

Muito abaixo dessas nuvens, Júpiter possui um núcleo extremamente denso de ferro e níquel, possivelmente rodeado por uma camada de hidrogénio metálico líquido. Compactada neste estado exótico pelas enormes pressões que se registam no interior do planeta, a camada de hidrogénio está a ser estudada pela sonda Juno que alcançou o planeta em Julho de 2016. Suspenso acima das nuvens, encontra-se um anel finíssimo, muito mais ténue do que os anéis de Saturno e Úrano e, consequentemente, mais difícil de observar sem um bom equipamento.

EM BUSCA DE VIDA

As grandes luas de Júpiter figuram entre os mundos mais interessantes do Sistema Solar. Ganimedes é a maior de todas. Io a que possui vulcões mais espectaculares. Europa tem uma camada de gelo sob a qual existe um oceano global profundo e afigura-se um dos melhores lugares para procurar vida extraterrestre nas proximidades da Terra.

Há décadas que os cientistas anseiam por visitar o oceano de Europa, desde que as sondas Voyager e Galileu sugeriram a existência de um mar profundo, escondido sob a sua crosta coberta por cristas e fendas.

Com água, minerais e energia química, o oceano de Europa contém todos os ingredientes necessários para acolher vida tal como a conhecemos, mas ainda vamos ter de esperar várias décadas até a crosta da lua de Júpiter ser perfurada e as águas do seu oceano sondadas. A boa notícia é que observações recentes do Telescópio Espacial Hubble sugerem o aparecimento periódico de colunas de vapor de água na superfície de Europa. A NASA anunciou a sua intenção de enviar uma sonda durante este período e os cientistas interrogam-se sobre a possibilidade de fazê-la voar entre esses géiseres, recolher amostras e procurar nelas indícios de vida. 

SATURNO

Com os seus emblemáticos anéis, Saturno pode bem ser um dos planetas mais belos do Sistema Solar. Para vermos os seus enormes anéis, precisamos de um pequeno telescópio, mas o planeta é visível a olho nu. Baptizado em homenagem ao deus romano da agricultura, Saturno tem mais de 60 luas conhecidas, algumas das quais proporcionam oportunidades interessantes para a busca de vida extraterrestre.

Saturno

Os anéis de Saturno são diversificados e complexos. Têm milhares de quilómetros de diâmetro, mas poucos metros de espessura.

OBSERVAR SATURNO

Saturno, o mais longínquo dos planetas observáveis a olho nu, era bem conhecido pelos astrónomos da Antiguidade. Orbita ao dobro da distância do Sol que Júpiter e tem 95 vezes a massa da Terra. Como demora cerca de 30 anos a descrever a sua parcimoniosa órbita do Sol, Saturno passa mais de dois anos em cada constelação do zodíaco, o que facilita a sua identificação.

Ainda assim, mesmo observado com binóculo, nada mais é do que um pontinho de luz. Para distinguir os seus anéis, é necessário um pequeno telescópio: um instrumento com 15 centímetros de abertura já revela esses anéis, além de três das suas luas e alguns vestígios das suas nuvens amareladas. Tal como a Terra, Saturno está inclinado, o que significa que a nossa perspectiva dos anéis varia à medida que o planeta se desloca em volta do Sol. A cada 14 ou 15 anos, o fino sistema angular fica completamente perpendicular em relação à Terra, dando a impressão de ter desaparecido. A próxima ocasião para observar esse fenómeno será entre 2024 e 2025.

UM PLANETA MAGNÍFICO

À semelhança de Júpiter, Saturno possui uma atmosfera espessa, composta essencialmente por hidrogénio e gelo. No entanto, ao contrário do que acontece no seu irmão de maiores dimensões, as nuvens altas de Saturno são calmas e apresentam-se em diversas tonalidades de amarelo-pastel, pelo menos até chegarem ao pólo norte, que está coberto por um gigantesco hexágono azul. Essa estranha forma geométrica resulta das correntes de jacto da sua atmosfera. Os cientistas viram-na mudar de forma e gerar vórtices mais pequenos, à medida que o planeta se aproximava do Verão boreal.

Nos pólos de Saturno, também se observam belíssimas auroras, sem comparação no Sistema Solar. Muito esporadicamente, o planeta, como outros, é afectado por uma supertempestade. A última foi em 2010 e a sonda Cassini da NASA observou como o olho da tempestade, do tamanho da Terra, gerou uma cauda enorme que chegou a envolver o planeta inteiro antes de desaparecer.

OS ANÉIS E AS LUAS DE SATURNO

Embora com impressionantes 273.588 quilómetros de diâmetro, os anéis gelados de Saturno têm o equivalente a poucos pisos de altura. No sistema angular, existem pequenas luas e miniluas que abrem buracos nos anéis e alinham as partículas na periferia dos anéis.

Para lá dos anéis de Saturno, encontram-se algumas das luas mais carismáticas do Sistema Solar. Titã, gigantesca e coberta de neblina, contém hidrocarbonetos em estado líquido e apresenta uma superfície muito semelhante à da Terra que, segundo alguns cientistas, poderia ser capaz de acolher vida terrestre. No pólo sul da minúscula Encélado – outro potencial habitat alienígena –, há géiseres criovulcânicos que projectam água para o espaço e formam o anel E. Convém lembrar também Mimas, cuja cratera gigante parece a Estrela da Morte de Guerra das Estrelas, Jápeto com um hemisfério claro e outro escuro e uma afiada cordilheira equatorial, Hipérion que faz lembrar favos de mel, e a escuríssima Febe, que gera o seu próprio anel e foi, provavelmente, roubada à cintura de Kuiper.

ÚRANO

A acentuada inclinação do seu eixo de rotação impele Úrano a rodar de lado em torno do Sol. Embora, em teoria, seja visível a olho nu, sem telescópio e um mapa celeste é difícil avistar o gigante de gelo azul-esverdeado. Com efeito, só foi identificado como planeta em 1781. Embora observado muitas vezes, fora confundido anteriormente com uma estrela.

Baptizado em alusão ao deus grego do céu, Úrano completa o seu movimento de translação em 84 anos terrestres. Devido à sua inclinação, cada pólo recebe cerca de 42 anos de luz solar e depois permanece na escuridão. O planeta possui várias luas, muitas das quais baptizadas com nomes de personagens de obras de Shakespeare e um sistema com, pelo menos, 13 anéis bem definidos. É constituído principalmente por hidrogénio e hélio, mas também contém uma proporção significativa de gelo de metano, de água e de amoníaco, o que explica que seja considerado um gigante de gelo. A sua cor deve-se às nuvens de metano existentes na camada superior da sua atmosfera.

Úrano

É possível que uma colisão incomensurável tivesse entortado Úrano.

A ciência não sabe ao certo o que determinou a sua inclinação. Segundo uma teoria, um impacte gigantesco teria logrado inclinar o planeta, sem o destruir. Uma das luas de Úrano, Miranda, possui um dos terrenos mais estranhos do Sistema Solar e parece feita de remendos, como uma espécie de Frankenstein. Desfiladeiros profundíssimos e escarpas vertiginosas intersectam-se com superfícies estriadas que, por sua vez, dão lugar a planícies muito mais lisas e a zonas cobertas de crateras. Os cientistas ainda não descobriram uma explicação para este mistério, mas é possível que Miranda tenha sido fragmentada por uma série de impactes e tenha voltado a recompor-se, posteriormente, como um cubo de Rubik desorganizado.

NEPTUNO

Azul como o mar, este gigante de gelo é o planeta conhecido mais distante do Sol e a sua observação exige um telescópio. Baptizado em homenagem ao deus romano do mar, Neptuno deve parcialmente a sua cor ao metano presente na atmosfera.

Ao contrário do sereno Úrano, Neptuno exibe várias faixas, nuvens e sistemas dinâmicos de tempestades. Quando a sonda Voyager 2 passou ao seu lado, em 1989, detectou uma supertempestade que recebeu o nome de Grande Mancha Escura. Quando cinco mais tarde, o Hubble virou a sua lente para Neptuno, a tempestade já desaparecera.

Rodeado de fragmentos de anéis, Neptuno demora 165 anos terrestres a completar uma órbita em redor do Sol. Ao contrário dos outros planetas, a sua descoberta não foi visual, nem telescópica, mas matemática. No início do século XIX, vários matemáticos aperceberam-se de que Úrano não se deslocava pelo Sistema Solar segundo a sua rota prevista. Presumiram, então, que o gigante de gelo inclinado deveria estar a sofrer a atracção de um planeta desconhecido mais distante. Uma série de cálculos complexos acabou por prever onde se encontraria o dito planeta distante e, em 1846, quando vários astrónomos conseguiram finalmente explorar a zona, descobriram a beleza azulada de Neptuno.

Neptuno é o mais denso dos planetas gigantes e possui, pelo menos, 14 luas. Pensa-se que uma delas, Tritão, terá sido capturada à cintura de Kuiper, onde se encontra Plutão. Maior do que este último, Tritão descreve uma órbita retrógrada à volta de Neptuno. Com uma composição semelhante à de Plutão, conta também com uma atmosfera rarefeita de azoto. Tritão é um dos mundos conhecidos onde há actividade eruptiva constante: observou-se que projecta géiseres escuros de azoto e poeira para o espaço.

OS PLANETAS ANÕES

Pequenos e redondos, mas com órbitas que ainda não se livraram dos detritos, os planetas anões constituem uma categoria recentemente descrita de objectos do Sistema Solar. Definido em 2006 pela União Astronómica Internacional, a designação “planeta anão” inclui objectos como o ex-planeta Plutão, situado a uma enorme distância de nós, na periferia observável do Sistema Solar. Ceres, o maior corpo da cintura de asteróides, é também um planeta anão. Éris, Makemake e Haumea habitam na cintura de Kuiper, o domínio gelado transneptuniano. Os cientistas suspeitam que existam mais planetas anões do que planetas rochosos e gasosos juntos.

planetas

Este objecto avermelhado, chamado Sedna, encontra-se na fronteira exterior do Sistema Solar, muito para lá de Plutão.

ENCONTROS PRÓXIMOS

Em 2015, dois dos planetas anões mais conhecidos do Sistema Solar foram visitados por sondas espaciais. Em Março daquele ano, a Dawn da NASA começou a orbitar Ceres, um mundo estranhamente grande, quente e aquoso para o que é habitual na cintura de asteróides. Descoberto no dia 1 de Janeiro de 1801, Ceres distingue-se facilmente a partir da Terra.

Em Julho de 2015, a New Horizons passou junto de Plutão e Caronte, uma lua que se destaca pelas suas enormes dimensões. A aproximação foi um dos acontecimentos mais emocionantes da exploração do Sistema Solar, tendo em conta que permitiu observar pela primeira vez o último mundo clássico que nos faltava explorar no Sistema Solar. Ao contrário de Ceres, Plutão está

demasiado longe da Terra para ser observado. Nem sequer o nosso olho celeste mais apurado, o do Telescópio Espacial Hubble, conseguiu dar-nos mais do que alguns pixels esborratados. Para avistar Plutão com um telescópio doméstico, teríamos de usar uma abertura mínima de 20 centímetros e enchermo-nos de paciência para perceber o seu movimento durante várias noites, pois no início parecerá mais uma estrela do firmamento entre tantas outras.