Nesta quarta-feira, dia 12 de Abril, celebra-se o Dia Internacional do Voo Espacial Tripulado, implementado através da resolução 65/271 da Assembleia Geral das Nações Unidas. Os avanços no conhecimento sobre o espaço e no direito internacional para a sua exploração pacífica são lembrados no 62º aniversário da primeira viagem humana ao espaço, protagonizada pelo cosmonauta russo Yuri Gagarin, neste dia em 1961. 

 

Os Pioneiros 

Os animais foram os primeiros viajantes espaciais, abrindo caminho a astronautas que se tornaram famosos. Outros foram heróis quase anónimos

Yuri Gagarin, Alan Shepard, John Glenn e Neil Armstrong constituíram a primeira vaga de viajantes espaciais e eram astronautas com treino militar adequado para missões arriscadas.

No entanto, os primeiros voos espaciais não foram exclusivos para homens ou sequer para seres humanos. Moscas, macacos, ratinhos, cães, coelhos e ratazanas voaram no espaço antes dos seres humanos.

Mais de três anos antes de Gagarin se tornar o primeiro ser humano no espaço durante uma viagem em órbita da Terra a 12 de Abril de 1961, os soviéticos ficaram famosos por enviarem um cão para a órbita terrestre. Laika foi o primeiro animal a orbitar a Terra, mas morreu durante o voo. Os EUA lançaram depois um chimpanzé chamado Ham para o espaço. O animal sobreviveu, abrindo caminho para Shepard se tornar o primeiro ser americano no espaço, em Maio de 1961. 

Apesar da discriminação, as mulheres também foram pioneiras. Algumas, como a matemática Katherine Johnson (que calculou os pormenores da trajectória do voo que levaria Glenn a orbitar a Terra em 1962 sem recorrer a equipamento informático) ficaram nos bastidores. Valentina Terechkova, uma das primeiras cosmonautas, foi a primeira mulher a orbitar o nosso planeta em 1963. Só duas décadas mais tarde é que Sally Ride voou no vaivém espacial Challenger, tornando-se a primeira mulher norte-americana a chegar ao espaço.

As Roupas dos Astronautas

Desenhada para proporcionar oxigénio e pressão atmosférica estável, a nova geração de roupa espacial inspirou-se no vestuário dos pilotos de aviação de grande altitude. Permite que os astronautas sobrevivam em condições de quase vazio.

astronautas

 

roupa astronauta

O Caminho 

Os primeiros cientistas descobriram que um propulsor multifásico poderia levar os seres humanos à Lua. O Saturno V fê-lo, preparando o palco para o futuro.

Leitor compulsivo de ficção científica, Konstantin Tsiolkovsky acreditava que o destino da humanidade estaria entre as estrelas. No início da década de 1900, Konstantin resolvera a equação indispensável para que os seres humanos ultrapassassem a atracção gravitacional da Terra. Também imaginou como os foguetões destinados à Lua funcionariam: utilizando uma mistura de carburantes líquidos e múltiplas fases de ignição.

Entretanto, trabalhando independentemente, Hermann Oberth e Robert Goddard chegaram a conclusões semelhantes. Em 1926, Robert, um norte-americano, construíra e lançara o primeiro foguete com combustível líquido. Aproximadamente nessa altura, Hermann, que viveu na Alemanha, determinou que as fases múltiplas seriam essenciais para viagens longas.

Quatro décadas mais tarde, as ideias destes três homens ganharam vida nos foguetões Saturno V que conduziram as tripulações das missões Apollo até ao espaço. Com 111 metros de altura e funcionando a hidrogénio líquido, oxigénio líquido e querosene, o Saturno V foi o mais potente foguetão alguma vez construído. Concebido por Wernher von Braun, um cientista aeroespacial da Alemanha nazi que levou grande parte da sua equipa para trabalhar nos EUA depois da Segunda Guerra Mundial, o Saturno V requeria três fases que se activavam sequencialmente.

A ciência aeroespacial ainda se rege pela equação de Konstantin Tsiolkovsky, mas nenhum foguetão superou o Saturno V, que levou os seres humanos mais perto das estrelas do que nunca.

chegada à Lua

 

Destino: Lua

As missões Apollo focaram-se no lado próximo da Lua. Agora, as sondas não tripuladas revelam mais sobre a Lua e outros objectos celestes distantes.

Na década de 1960, a Lua ainda era um grande mistério. Para aprender o máximo com as missões Apollo, a NASA escolheu locais de alunagem numa grande variedade de superfícies, incluindo as planícies escuras e planas esculpidas por antigos mares de lava e terras altas formados pelo impacte de meteoritos.

Entre 1969 e 1972, os astronautas norte-americanos alunaram em seis locais, cada um escolhido por motivos científicos diferentes. Todos se situavam no lado próximo da Lua, cujo solo foi exaustivamente estudado por vaivéns lunares. Os controlos de missão queriam garantir que se manteria contacto directo com os astronautas.

As agências espaciais enviaram sondas não tripuladas e, por conseguinte, sem preocupações com segurança humana para visitarem locais distantes no Sistema Solar. Sondas espaciais exploraram 60 luas diferentes e até pousaram numa: Titã, uma das luas de Saturno. Veículos robóticos circularam em quatro regiões da nossa própria Lua.

A China fez história no início deste ano pousando o seu módulo de alunagem Chang’e 4 no lado distante da Lua.

O primeiro módulo privado a chegar à Lua despenhou-se em Abril, mas a organização sem fins lucrativos israelita que o financiava anunciou rapidamente nova tentativa.

Para não ficarem para trás, os EUA tencionam enviar novos módulos equipados com tecnologia que recrie as condições necessárias ao regresso dos astronautas.

O que trouxemos do espaço

Os astronautas recolheram rochas, solo e poeira. Também levaram para o espaço objectos pessoais que reflectiam os seus interesses, crenças e paixões.

Durante quatro anos, os astronautas da NASA transportaram 382 quilogramas de rochas lunares para a Terra. No entanto, as recordações mais comoventes não têm peso. Foram as imagens da Terra. O astronauta William Anders, da Apollo 8, captou uma fotografia icónica na véspera de Natal de 1968, representando o nosso planeta azul suspenso na escuridão junto do horizonte lunar, estéril e crivado de crateras. 

planeta terra

Uma das imagens espaciais mais requisitadas da NASA, esta perspectiva da Terra conhecida como “Berlinde Azul”, foi captada em 1972 a cerca de 29 mil quilómetros de distância, enquanto a Apollo 17 se dirigia à Lua. CENTRO ESPACIAL JOHNSON DA NASA

Os astronautas não se limitaram a tirar fotografias e a recolher rochas lunares. Também levaram para o espaço objectos terrestres. 

John Young (Gemini 3) celebrizou-se depois de levar clandestinamente uma sanduíche de carne enlatada para bordo e partilhá-la com Gus Grissom, seu colega de tripulação. Gus guardou-a no bolso quando as migalhas começaram a flutuar na cabina.

Buzz Aldrin (Apollo 11) levou vinho, pão e um cálice para celebrar a Eucaristia. O seu colega Neil Armstrong levou um pedaço do propulsor de madeira da aeronave de Wright. Alan Shepard (Apollo 14) usou uma meia para esconder a cabeça de um ferro número 6 de golfe, que anexou a um cabo de ferramenta para bater duas bolas de golfe na Lua. Charles Duke (Apollo 16) levou uma fotografia da família e deixou-a nas terras altas de Descartes.

A recordação mais comovente da superfície lunar é uma pequena figura humana de alumínio, ali deixada por David Scott da Apollo 15. Encontra-se junto de um cartaz com os nomes de 14 astronautas e cosmonautas falecidos.

A cultura Pop

Das séries televisivas e filmes, brinquedos e alimentos à maneira como nos exprimimos, o espaço continua a dominar o nosso imaginário.

Quando a corrida espacial ganhou ímpeto, capturou a imaginação da humanidade e transformou a forma como vivemos. O Sputnik inspirou réplicas e canções. A revista “Life” publicou histórias exclusivas sobre a vida dos aclamados Mercury Seven, os primeiros astronautas dos EUA. Seattle construiu a Space Needle para a Feira Mundial. Stanley Kubrick criou “2001: Uma Odisseia no Espaço”.
A era espacial floresceu em filmes, séries, edifícios e peças de design.
As linhas aerodinâmicas e elegantes dos foguetões inspiraram novas versões de automóveis e comboios.

lua

Promovido como “primeiro automóvel inspirado na era espacial”, o Firebird III, construído pela General Motors, era alimentado por um motor com turbina a gás.  O modelo conceptual de 1958 dispunha de um computador de bordo, controlos electrónicos e um controlo manual para acelerar, travar e conduzir. GENERAL MOTORS HERITAGE CENTER

O espaço ainda se encontra enraizado na cultura popular.
O logótipo da NASA está por todo o lado. Hollywood fez fortunas com os filmes “O Caminho das Estrelas” ou “A Guerra das Estrelas”. A actual avalancha de filmes sobre Marte e séries televisivas dedicadas a temas espaciais é outro exemplo. Há equipas desportivas que celebram a astronomia como os Houston Astros ou os Houston Rockets. Desenvolveram-se as canetas esferográficas antigravidade e a própria Disney propõe nos seus parques temáticos a montanha-russa Space Mountain. Expressões como “anos-luz” fazem agora parte das conversas do quotidiano.
E, perante uma situação perturbante, habituámo-nos a dizer: “Houston, we have a problem”. [“Houston, temos um problema.”]