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Nos últimos anos, um novo formato de ficheiro digital prometeu revolucionar a forma como as coisas podem ser possuídas, compradas e vendidas na Internet: o token não fungível, ou NFT. À medida que o interesse em NFTs – basicamente recibos ou assinaturas de bens digitais – continua a aumentar pelo mundo fora, artistas e editores começaram a fazer experiências com a tecnologia.

Quer saber mais sobre os NFTs? Nós contamos-lhe tudo.

O que são os NFTs?

Para perceber os NFTs convém conhecer a tecnologia subjacente: a blockchain.

Os blockchains são protocolos informáticos concebidos para fazer com que muitos computadores concordem em relação à mesma sequência de transacções sem confiarem uns nos outros. Em vez de recorrerem a terceiros para verificar as transacções, as blockchains recorrem a incentivos económicos e criptografia para tornar uma transacção falsa dispendiosa e fácil de detectar. Esta tecnologia permite que as redes informáticas mantenham bases de dados de uma forma descentralizada, redundante e pública.

O registo exaustivo de erros efectuado por blockchains permite às aplicações baseadas nestes protocolos criar segmentos de código que podem ser rastreados como entidades distintas e transferidos de utilizador para utilizador. Estes “tokens” podem ser “não fungíveis”, ou seja não podem ser trocados por outros.

A ideia subjacente aos NFTs é promover a escassez de objectos digitais, permitindo assim a existência um novo tipo de propriedade digital rastreável. Em princípio, um bem digital, seja uma imagem ou um vídeo, pode aparecer várias vezes na Internet, mas apenas algumas ocorrências, ou talvez até apenas uma, teriam a proveniência de um NFT. (A Walt Disney Company, a principal accionista da National Geographic Media, vende NFTs. A National Geographic Media associou-se à plataforma de NFTs Snowcrash para fazer o mesmo.)

É importante destacar que os NFTs não contêm necessariamente os dados do bem (embora alguns sim), nem transferem necessariamente os direitos de autor. Mais frequentemente, um NFT contém um URL que estabelece a ligação ao bem, que se encontra armazenado numa rede informática distinta.

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Vários ecrãs exibem imagens de NFT durante uma apresentação à imprensa num leilão de NFTs realizado pela Sotheby’s em Junho de 2021. O NFT da imagem ao centro, uma variante rara da colecção “CryptoPunks”, foi vendido por mais de 11,7 milhões de dólares. Fotografia de Cindy Ord, Getty Images.

Nos últimos dois anos, os NFTs chamaram a atenção devido às grandes somas de dinheiro que atraíam: enquanto bens coleccionáveis, investimentos especulativos e sinais de riqueza. Em Março de 2021, o artista digital Beeple vendeu um NFT por 69 milhões de dólares, num leilão, a uma empresa de investimento apostada em promover a arte digital. A Bored Ape Yacht Club, uma colecção de NFTs com uma série de 10.000 desenhos animados de primatas, viu o seu valor disparar no início de 2022 depois de ser promovida por uma série de celebridades. Estes NFTs são actualmente vendidos por dezenas de milhares de dólares.

No final de 2022, as vendas de NFTs relativas a esse ano tinham atingido um total superior a 11.000 milhões – mas o mercado foi extremamente volátil ao longo desse período. Avaliado em dólares, o volume de vendas do mercado de NFTs OpenSea caiu mais de 95% entre Janeiro e Novembro de 2022, segundo dados compilados pela empresa Dune Analytics. O mercado generalizado de NFTs e dos bens conhecidos como criptomoedas (“moedas” digitais tornadas escassas por blockchains e, consequentemente, transaccionáveis) perdeu 2 biliões de dólares em Julho de 2022, depois de ter ascendido aos 3 biliões de dólares oito meses antes.

Como podem ser usados os NFTs?

Os seus promotores dizem que os NFTs são um novo modelo de receita para os artistas, permitindo-lhes vender imagens, vídeos e outros bens digitais, como peças online coleccionáveis ou obras de arte. Também podem funcionar como ferramentas de angariação de fundos, como no caso da Ucrânia, que angariou dezenas de milhões de dólares em leilões de NFTs no ano passado para apoiar o seu esforço de guerra contra a Rússia.

Ao contrário dos ficheiros digitais comuns, os NFTs podem conter programas informáticos minúsculos chamados “contratos inteligentes”, que, por vezes, podem emitir royalties para um artista de NFTs quando o NFT é revendido. Uma vez que os NFTs são únicos e transferíveis, podem também funcionar como bilhetes, credenciais de adesão ou até como registos de créditos de carbono. Os videojogos baseados em blockchain como o Axie Infinity, usam NFTs como personagens e itens que os jogadores podem comprar (inclusive a outros jogadores).

Alguns artistas esperam que os NFTs e o movimento artístico por eles criado consigam agitar os modelos de negócio tradicionais da indústria criativa, dando aos artistas oportunidades mais lucrativas e equitativas. Os artistas já estão a utilizar os NFTs na organização de colectivos de fãs e patronos, denominados organizações autónomas descentralizadas (conhecidas em inglês pela sigla DAO).

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Um visitante da Sotheby’s observa o ecrã da Creation of My Metaverse (Between this World and the Next), uma obra de arte digital baseada em NFTs criada por Serwah Attafuuah. A obra foi vendida por mais de 25.000 dólares num leilão, em Junho de 2021. Fotografia de Tristan Fewings, Getty Images For Sotheby's.

Numa das suas aplicações mais ousadas, os defensores dos NFTs dizem que a tecnologia pode reforçar a identidade das pessoas no “metaverso”. Segundo esta visão, as pessoas utilizariam avatares virtuais para trabalhar e jogar dentro de diversos espaços digitais interoperáveis. Da mesma forma que possuímos itens únicos no mundo real, os promotores dos NFTs imaginam que estes poderiam funcionar como escrituras dos seus equivalentes no metaverso.

Para além da propriedade digital, a natureza descentralizada dos NFTs significa que podem ser utilizados para ajudar a proteger ficheiros digitais contra alterações ou para rastrear as cadeias de custódia de um ficheiro. Em Junho passado, o grupo de investigação Starling Lab, co-fundado por Stanford e pela USC Shoah Foundation, apresentou um dossier ao Tribunal Penal Internacional, que utilizou NFTs e outras tecnologias relacionadas para arquivar registos de ataques militares russos a escolas ucranianas.

Quais são algumas das críticas contra os NFTs?

Da mesma forma que atraíram uma comunidade fervorosa de apoiantes, os NFTs atraíram também críticas consideráveis.

Para começar, muitos dos usos propostos para os NFTs não exigem NFTs para funcionar (adesão a clubes de membros) ou ainda nem sequer foram desenvolvidos. Como tal, alguns críticos acham que a proliferação dos NFTs não é mais do que uma “corrida ao ouro” que pouco tem a ver com a tecnologia subjacente.

Existem também preocupações de ordem técnica. É discutível se um dos fins mais optimistas dos NFTs, um “metaverso” interoperável, é sequer tecnicamente viável. E se já tiver clicado num link corrompido para aceder a um website sabe quão difícil é manter um bem digital online. Os NFTs não costumam conter bens digitais por si, logo um determinado NFT é apenas tão estável como o computador (ou a rede) que armazena esse bem. Mesmo que o computador que armazena o bem seja devidamente monitorizado, é difícil prevenir o “apodrecimento de bits”, ou seja a tendência dos dados para se degradarem ao longo do tempo. Como tal, os programadores estão a desenvolver formas de armazenar os ficheiros num formato descentralizado e redundante.

À semelhança de outras tecnologias incipientes, os NFTs também atraíram pessoas más. Vigaristas inflacionaram os preços dos NFTs através de esquemas de transacção denominados “gold brick” e cunharam e venderam NFTs baseados em peças de arte roubadas. Com uma frequência alarmante, surgem projectos de NFTs prometendo aos compradores uma excitante visão de longo prazo, desaparecendo em seguida com o dinheiro dos compradores. O esquema tornou-se tão comum que até existe um termo para o definir: “puxar o tapete”.

Os vigaristas contaram com alguma ajuda da própria tecnologia blockchain. Os ladrões de NFTs usam regularmente ataques de phishing e outros métodos para enganar as pessoas, levando-as a esvaziar as suas carteiras digitais. Mais de 100 milhões de dólares de NFTs foram roubados só em 2022. No entanto, como as transacções de NFTs são descentralizadas à partida, as transferências ilícitas não podem ser revertidas por terceiros.

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A primeira máquina de venda de NFTs do mundo, da empresa “Neon”, começou a funcionar em Nova Iorque em Fevereiro de 2022. A máquina aceita cartões de crédito e de débito e fornece uma caixa com um código único no seu interior, que garante o acesso ao NFT escolhido pelo comprador. Fotografia de Michael M. Santiago, Getty Images.

Além disso, os NFTs têm sido criticados pela sua pegada de carbono. A maioria depende directa ou indirectamente da blockchain Ethereum, que até há pouco tempo era uma grande consumidora de energia. Num determinado dia de Janeiro de 2022, por exemplo, uma estimativa das emissões da Ethereum ultrapassou as 136 kg de CO2 numa transacção média. É o equivalente a pegar fogo a 60 litros de gasolina.

Em Setembro de 2022, porém, a Ethereum adoptou uma arquitectura com “provas de participação”, reduzindo o seu consumo de energia e emissões de CO2 em mais de 99,9%. O Crypto Carbon Ratings Institute, uma empresa analista alemã, estima que a electricidade consumida por uma transacção de Ethereum seja agora 0,0063 kilowatt-hora, ou cerca de 3 gramas de CO2, o equivalente ao emitido por um veículo de passageiros norte-americano ao longo de aproximadamente 12 metros.

Embora o consumo de energia dos NFTs tenha diminuído dramaticamente, os NFTs são uma rampa essencial para muitas pessoas acederem ao grande espaço “cripto”. A blockchain mais conhecida, a Bitcoin, consome milhões de toneladas de CO2 e produz milhares de toneladas de resíduos electrónicos todos os anos.

Qual o futuro dos NFTs?

De momento, os NFTs estão congelados no cripto-Inverno, um mercado de criptomoeda profundamente céptico que arrefeceu depois do seu auge no início de 2022. Após milhares de milhões de dólares de prejuízos e roubos e do colapso de algumas das maiores empresas de criptomoeda, reguladores de todo o mundo estão a desenvolver esforços para classificar e taxar os bens.

No entanto, os NFTs vieram para ficar. Talvez, à semelhança da queda das dot-com no início do século XXI, muitas startups de NFTs se desvaneçam sob o escrutínio intenso do mercado – e as poucas que sobreviverem vão refazer o mundo digital.

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