Assim, se a curva da Ursa Maior ou os quatro pontos do Cruzeiro do Sul lhe parecerem grandiosos, imagine quantos mais fenómenos existem para lá do que a visão alcança.
Foi com essa perspectiva que a astrónoma Natasha Hurley-Walker montou um radiotelescópio no interior da Austrália Ocidental. O Murchison Widefield Array é composto por milhares de antenas que conseguem “ver” através da poeira celestial e detectar ondas de rádio provenientes de corpos celestes, revelando cores e objectos num espectro não visível para o olho humano mesmo com a ajuda de telescópios ópticos como o Hubble. Espalhadas ao longo de quase dez quilómetros quadrados de deserto, as antenas, mais baratas e fáceis de manter do que os discos tradicionais, assemelham-se “a um exército de aranhas mecânicas” diz a investigadora.
A partir da esquerda: Raios Gama - NASA/DOE/Colaboração Fermi LAT; Raios X - ROSAT/Chromoscope e Visível - Nick Risinger, Skysurvey.
Nos últimos quatro anos, Natasha e uma equipa de investigadores do Centro Internacional para a Investigação em Radioastronomia de Perth e outras instituições juntaram mais de 450 mil imagens captadas pelo telescópio.
O resultado é um retrato inovador de todo o céu austral. Mostra centenas de milhares de galáxias a milhões de anos-luz. E mostra, em cores claras e fortes, o brilho do rádio da Via Láctea, iluminado com os restos de estrelas que explodiram e campos magnéticos intensos.
Infravermelho distante - IRAS/NASA e Microonda - C. Carreau, ESA, HFI e CONSÓRCIO LFI.
Com este projecto ainda em curso, a investigadora trabalha agora com uma equipa internacional no desenvolvimento de um radiotelescópio muito maior e mais sensível do que o Murchison Widefield Array. A sua tecnologia pode captar sinais mais fracos, o que permitirá revelar mais milhões de galáxias e, com sorte, talvez “o nascimento das primeiras estrelas”.