Numa grande variedade de vertebrados, como a rã, o elefante, o morcego ou o ser humano (à direita), os membros possuem o mesmo plano anatómico subjacente: cinco dedos ligados a um conjunto de ossos no pulso; a partir dali, um antebraço composto por dois ossos conduz a um osso longo, junto ao ombro.
Nós, os seres humanos, utilizamos as mãos para fazer fogueiras, coser colchas, pilotar aviões, escrever, escavar, remover tumores ou tirar coelhos da cartola. Com a sua criatividade ilimitada, o cérebro humano talvez seja aquilo que nos define como espécie única. Mas sem mãos, todas as ideias grandiosas que engendramos seriam inúteis.
A razão pela qual conseguimos utilizar as mãos para desempenhar tantas acções é a sua anatomia extraordinária. Sob a pele, as mãos são uma requintada integração de tecidos. Só o polegar é controlado por nove músculos distintos: alguns encontram-se associados a ossos no interior da mão e outros serpenteiam até ao braço. O pulso é um aglomerado flutuante de ossos e ligamentos entretecidos com vasos sanguíneos e nervos. Os nervos prolongam-se até à extremidade de cada dedo, depois de se ramificarem. A mão é capaz de gerar forças meticulosas e forças colossais. Um relojoeiro consegue servir-se das suas mãos para fixar molas no lugar certo, ao microscópio. Um lançador de basebol pode utilizar a mesma anatomia para arremessar uma bola a 160 quilómetros por hora.
Em 1833, num período em que a teoria da evolução começava a germinar, o grande cirurgião escocês Sir Charles Bell não tinha dúvidas. Bastava uma observação pormenorizada da mão para pôr termo à controvérsia. “Ela exibe a melhor e derradeira prova desse princípio da adaptação que é demonstrativo do plano da criação”, escreveu num dos seus livros mais famosos.
Na argumentação de Bell, existe apenas um problema: ela não explica por que razão há outras espécies também com mãos. Ninguém imagina que os cinco dedos na extremidade do braço de um orangotango sejam outra coisa qualquer. Noutros casos, porém, é preciso olhar com mais atenção. As asas de um morcego podem parecer tiras de pele, mas sob ela, o morcego tem os mesmos cinco dedos que um orangotango ou um ser humano, bem como um pulso ligado ao mesmo aglomerado de ossos do pulso, ligados aos mesmos ossos longos do braço.
Quando escreveu a “A Origem das Espécies”, Charles Darwin destacou esta coincidência. “Haverá coisa mais curiosa do que a mão de um homem, feita para agarrar, a de uma toupeira, feita para escavar, a pata de um cavalo, a barbatana de um golfinho e a asa de um morcego, todas construídas segundo o mesmo padrão?”, perguntou. Para Darwin, havia uma resposta directa: temos laços de parentesco com todos os animais com mãos e herdámo-las de um antepassado comum.
As mãos primitivas eram mais exóticas do que qualquer mão ainda existente. Algumas espécies possuíam sete dedos. Outras tinham oito.
Os investigadores dos últimos 150 anos escavaram fósseis em todos os continentes. Compararam a anatomia das mãos nos animais vivos. Estudaram os genes responsáveis pela construção das mãos. E encontraram sempre provas da alegação de Darwin.
As nossas mãos começaram a evoluir há pelo menos 380 milhões de anos, a partir das barbatanas robustas e musculadas dos parentes extintos dos actuais peixes pulmonados. No interior dos lobos dessas barbatanas, havia ossos grossos, correspondentes aos ossos dos nossos braços. Ao longo do tempo, os descendentes destes animais também desenvolveram ossos mais pequenos que correspondem aos ossos, pulsos e dedos. Os dígitos surgiram numa fase posterior, tornando-se separados, o que permitia aos animais agarrarem a vegetação subaquática.
As mãos primitivas eram mais exóticas do que as actuais. Algumas espécies possuíam sete ou oito dedos. Quando os vertebrados começaram a caminhar sobre terra, há 340 milhões de anos, a mão tinha apenas cinco. E nunca mais recuperaram a exuberância original dos dedos. Apesar disso, as espécies vivas apresentam uma grande diversidade de mãos, desde as barbatanas dos golfinhos, às asas das águias e aos ganchos de suspensão das preguiças. Os cientistas começam a perceber as alterações moleculares que conduziram a variações tão dramáticas, sublinhando que todas as mãos evoluem aproximadamente da mesma forma. Existe uma rede de muitos genes que compõem uma mão e todas as mãos são constituídas por variações dessa rede. Bastam mudanças subtis nestes genes para tornar os dedos mais compridos, para fazer alguns deles desaparecer ou para transformar unhas em garras.
Por mais diferentes que a asa de um abutre e a pata de um leão possam parecer no plano exterior, a diferença entre ambas poderá reduzir-se a alguns ajustes – um pouco mais de proteína aqui, um pouco menos de proteína ali. Darwin só podia reconhecer os sinais externos indicativos da evolução das mãos a partir de um antepassado comum. Agora, os cientistas estão também a descobrir os sinais internos.