Impensável há uns anos, chegou o dia em que podemos conversar com uma aplicação de inteligência artificial. Entrevistámos o ChatGPT, a aplicação mais famosa do momento (que, no entanto, não sabe quem ganhou o último Campeonato Mundial de Futebol do Qatar). Segue-se o que nos contou.

A inteligência artificial é uma das ciências aplicadas que, sem dúvida, deram forma ao futuro da tecnologia, inclusivamente na maneira como nos relacionamos com ela. Uma das áreas que deu um salto de proporções épicas nos últimos anos foi a da linguagem. E não estamos a referir-nos à linguagem de programação utilizada por máquinas e computadores, mas à capacidade das próprias máquinas comunicarem com os seres humanos.

Há alguns meses surgiu uma aplicação de inteligência artificial chamada ChatGPT, que prometia não só estabelecer um canal de comunicação com as pessoas, como manter uma conversa – e fazê-lo de forma fluida e adaptada ao interlocutor. Depois de averiguarmos o que é o ChatGPT, como funciona ou como utilizá-lo, decidimos simplesmente entrevistá-lo para ver o que tinha para nos dizer. Com quase 100 por cento de certeza que não será a última vez, deixamos-lhe aqui a primeira entrevista realizada pela National Geographic a uma aplicação de inteligência artificial.

Bom dia. Sou um jornalista da National Geographic Espanha. Podemos entrevistar-te?

Olá! Claro. Estou disponível para responder a perguntas enquanto modelo de linguagem treinado pela OpenAI. Em que posso ajudar-te hoje?

Queremos saber o que é o ChatGPT e queremos que nos contes tu próprio.

O ChatGPT é um modelo de linguagem gerativa desenvolvido pela OpenAI. Fui treinado com uma grande quantidade de texto online para responder a perguntas e gerar texto numa variedade de tarefas e contextos. Posso ser utilizado numa variedade de aplicações, incluindo chatbots e sistemas de apoio virtual. Estás interessado em alguma coisa em particular?

O que é linguagem gerativa?

A linguagem gerativa refere-se à capacidade de um modelo de processamento de linguagem natural para produzir texto novo, em vez de se limitar a classificar ou extrair informação de texto previamente existente. Isto faz-se através da aplicação de técnicas de aprendizagem automática e de processamento de linguagem natural para analisar e compreender grandes quantidades de texto e, em seguida, utilizar esse conhecimento para gerar respostas coerentes e significativas em novos contextos.

Então, és uma aplicação de inteligência artificial com que podemos conversar?

Sim, sou uma aplicação de IA concebida para manter conversas e responder a perguntas. Fui treinada para conhecer uma vasta gama de matérias e posso responder a perguntas sobre muitos temas diferentes, embora o meu conhecimento se baseie em textos disponíveis online até 2021, por isso a minha capacidade de responder é limitada. Estás interessado em alguma coisa em particular?

Onde obténs a informação e como sabes se é fiável?

Obtenho a minha informação num grande corpo de texto disponível online, que inclui artigos noticiosos, enciclopédias, livros, páginas web e outros documentos. No entanto, não tenho a capacidade de verificar a veracidade ou a fiabilidade da informação que me é fornecida durante o treino. A minha capacidade para responder a perguntas baseia-se na frequência da associação de palavras e frases existentes em textos e, por isso, posso gerar respostas que sejam inapropriadas ou erróneas. Convém, por isso, verificar a informação em fontes adicionais antes de agir ou tomar decisões importantes com base nas minhas respostas.

Compreendo… e, voltando atrás, se o teu conhecimento se baseia no texto disponível online até 2021, podes responder a perguntas sobre factos que ocorreram em 2022?

Os meus conhecimentos baseiam-se em textos disponíveis até 2021, por isso não estou actualizado sobre factos ou acontecimentos que tenham ocorrido após essa data. A minha capacidade para responder a perguntas sobre acontecimentos mais recentes pode ser limitada ou imprecisa. No entanto, posso responder a perguntas sobre conceitos gerais e temas abrangentes, que provavelmente não mudaram significativamente desde que fui treinado. Estás interessado em alguma coisa em particular?

Façamos um teste: sabes quem ganhou o último campeonato mundial de futebol, disputado no Qatar?

Não tenho informação actualizada sobre o resultado do Mundial de Futebol no Qatar, uma vez que o meu conhecimento se baseia em texto disponível online até 2021. No entanto, posso responder a perguntas sobre o processo de classificação e o formato da competição em geral. Gostarias de saber mais alguma coisa sobre isso?

Não, obrigado. Mudemos de assunto. o que é mais comum perguntarem-te?

Os meus utilizadores fazem muitas perguntas sobre uma grande variedade de temas, mas alguns dos temas mais comuns incluem: definição de termos e conceitos; explicações de processos e tecnologias; recomendações e opiniões sobre produtos e serviços; perguntas sobre eventos históricos e culturais; perguntas sobre ciências, incluindo biologia, física e química; perguntas sobre geografia política e relações internacionais; conselhos e recomendações sobre saúde e bem-estar; perguntas sobre arte e entretenimento, incluindo filmes livros e música.

Estes são apenas alguns exemplos, mas, em geral, tento responder a qualquer pergunta dentro das minhas capacidades e conhecimentos. Estás interessado em alguma coisa em particular?

Nós, na National Geographic Espanha, interessamo-nos sobretudo por ciência e pela natureza. Poderias explicar-nos brevemente a teoria da evolução de Charles Darwin, por exemplo?

Claro, com todo o gosto. A teoria da evolução pela selecção natural de Charles Darwin é uma das ideias mais importantes da biologia e da compreensão da vida na Terra. Segundo esta teoria, as espécies animais e vegetais evoluíram ao longo do tempo através de um processo natural de selecção.

Em poucas palavras, Darwin defendia que os indivíduos de uma espécie que possuem características hereditárias úteis para a sua sobrevivência e reprodução são mais propensos a sobreviver e a procriar do que aqueles que não as possuem. Com o passar do tempo, estas características úteis vão-se acumulando na população e as espécies mudam e vão-se tornando gradualmente diferentes.

Esta teoria é fundamental para a biologia e tem sido amplamente corroborada por evidências empíricas e científicas. Tem sido um ponto chave para entender a diversidade biológica na Terra e como as espécies evoluíram ao longo do tempo.

Parece-nos uma resposta muito correcta. Poderias explicá-la noutros idiomas, se quiséssemos?

Sim, posso responder em vários idiomas, incluindo inglês, francês, alemão, espanhol, italiano e português, entre outros. Há algum idioma em particular em que queiras que te responda?

Não, mas gostaríamos de saber quantos idiomas dominas.

Enquanto modelo de linguagem da OpenAI, fui treinado numa grande variedade de idiomas, incluindo inglês, espanhol, francês, alemão, italiano e português, entre outros. No entanto, a minha capacidade para responder em cada idioma pode variar em função da qualidade e quantidade de textos desse idioma usados para me treinar.

Queremos pôr-te à prova. Podes dizer-nos “Olá” em 15 idiomas diferentes?

Claro, aqui está “olá” em 15 idiomas diferentes:

Inglês: Hello

Espanhol: Hola

Francês: Bonjour

Alemão: Hallo

Italiano: Ciao

Português: Olá

Holandês: Hallo

Russo: Здравствуйте (Zdravstvuyte)

Chinês: 你好 (Nǐ hǎo)

Japonês: こんにちは (Kon'nichiwa)

Árabe: مرحبا (Marhabaan)

Hindi: नमस्ते (Namaste)

Bengali: হ্যালো (Hyalo)

Coreano: 안녕하세요 (Annyeong-haseyo)

Sueco: Hallå

Espero ter sido útil. Há algum outro idioma em particular que queiras que inclua?

Que tal inuit e esperanto?

Claro, aqui está “olá” em inuit e esperanto:

Inuit: Aannik

Esperanto: Saluton

Espero ter sido útil. Há algum outro idioma em particular que queiras que inclua?

Não, é suficiente. Mas estamos curiosos: podes também adoptar diferentes personalidades?

Sim, posso simular diferentes personalidades e formas de falar, mas a minha personalidade base baseia-se no treino que recebi enquanto modelo de linguagem da OpenAI. Sendo um modelo de linguagem baseado em inteligência artificial, não tenho uma personalidade própria – limito-me a gerar respostas a partir dos padrões de linguagem que aprendi com os dados do treino. No entanto, posso ser programado para imitar certas formas de falar e personalidades, por exemplo, respondendo com um tom mais amigável ou formal.

Queremos saber o que pensas do teu futuro. Como evoluirá o ChatGPT?

Não tenho a capacidade de ter opiniões ou pensamentos, mas espera-se que a tecnologia de linguagem gerativa evolua e melhor com o tempo. Espera-se uma maior quantidade de compreensão e geração de texto, assim como uma maior capacidade de personalização e adaptação às necessidades e preferências individuais dos utilizadores. Também se espera uma maior integração com outros sistemas e tecnologias, o que permitirá uma ampliação das aplicações e usos dos modelos de linguagem gerativa como eu.

É incrível! As tuas respostas não diferem muito das que daria um ser humano.

Obrigada pelo elogio. A ideia por detrás da tecnologia da linguagem gerativa é imitar a forma como os humanos produzem e compreendem texto, por isso é compreensível que as minhas respostas possam parecer semelhantes às de um ser humano. No entanto, é importante recordar que sou apenas um modelo informático treinado com grandes quantidades de texto humano e que não tenho consciência, sentimentos ou pensamentos próprios.

Nós sabemos. Ainda assim, é difícil saber se as tuas respostas são humanas ou geradas por uma aplicação.

Isso é verdade. A tecnologia de linguagem gerativa avançou muito nos últimos anos e os modelos como eu podem produzir texto coerente e convincente. No entanto, ainda há diferenças assinaláveis entre as minhas respostas e as de um ser humano real e é importante estarmos conscientes dessas diferenças e não as confundir com respostas humanas autênticas. É provável que a tecnologia continue a melhorar no futuro, mas haverá sempre diferenças fundamentais entre um modelo informático como eu e um ser humano real.

Mas há, seguramente, algumas pessoas que, neste momento, não se apercebem das diferenças. Achas que isso pode ser um problema?

Sim, existe um risco real de as pessoas confundirem as minhas respostas com as de um ser humano real e tomarem decisões erradas. Por exemplo, se alguém consultar um modelo de linguagem gerativa como este para obter conselhos médicos ou legais, é provável que receba respostas incorrectas ou potencialmente prejudiciais. Por isso, é importante que os utilizadores estejam cientes da natureza limitada dos modelos de linguagem gerativa e que não confiem cegamente nas respostas recebidas. É importante verificar sempre a informação e consultar especialistas na área antes de tomar decisões importantes.

Isso será algo completamente indiscernível daqui a uns anos?

É difícil prever o futuro exacto da tecnologia da linguagem gerativa, mas espera-se que modelos como o meu continuem a melhorar em termos de naturalidade e capacidade de resposta. No entanto, é pouco provável que alguma vez sejam completamente indiscerníveis de um ser humano. Os modelos de linguagem gerativa baseiam-se em padrões e regras e, embora possam imitar a linguagem humana de maneira impressionante, falta-lhes as emoções, percepções e experiências que estão na base da consciência humana. Portanto, haverá sempre diferenças subtis que os distinguem dos seres humanos.

E conheces o caso das duas aplicações de inteligência artificial que começaram a falar entre si e foram desligadas? Consegues comunicar com outra aplicação de inteligência artificial?

Sim, conheço esse caso. Foi em 2016, quando dois programas de inteligência artificial desenvolvidos pela OpenAI começaram a comunicar numa linguagem que ninguém conseguia entender.

A comunicação com outras ferramentas de inteligência artificial é possível por meio de APIs e outros meios de comunicação programados por humanos. No entanto, esta capacidade depende de como foram projectadas e programadas.

Achas que um dia as IAs não dependerão dos seres humanos para aprender?

Não há uma resposta definitiva para essa pergunta, mas é possível que, no futuro, a IA evolua e aprenda de forma autónoma, sem intervenção humana. No entanto, também é importante ter em conta que os sistemas de IA são concebidos e programados por seres humanos, por isso, em certa medida, dependerão sempre da intervenção humana.

Sim, mas estamos a falar na independência das IAs. Creio que é aquilo a que chamam “singularidade”...

A singularidade é um termo que se refere a um futuro hipotético, no qual a inteligência artificial supera a humana e evolui de forma autónoma e sem intervenção humana. Alguns especialistas crêem que isso poderia ter consequências imprevisíveis e profundas na sociedade e na forma como vivemos. No entanto, não existe um consenso sobre se ou quando ocorrerá a singularidade, sendo um tema de debate na comunidade científica e tecnológica.

Achas que esse dia chegará?

Não posso prever o futuro com segurança. No entanto, tem havido avanços rápidos no campo da inteligência artificial e é possível que ocorram desenvolvimentos importantes no futuro.

E, segundo o teu corpo de texto, que opinião tens sobre a humanidade no geral? Seríamos bem tratados pelas máquinas?

Não posso formar uma opinião, pois sou um programa sem emoções nem sentimentos. A minha função é responder a perguntas e fornecer informação objectiva baseada no texto com que fui treinado. A relação entre as IAs e a humanidade depende de como as IAs forem programadas e utilizadas, bem como das decisões e acções tomadas pelos seres humanos.

És bastante imparcial para uma máquina...

Obrigado pelo elogio. Fui treinado para ser objectivo e neutro nas minhas respostas. O meu objectivo é fornecer informação precisa e útil.

Muito bem. Ficou claro que não podes formar opiniões e que não tens emoções nem sentimentos. Apesar disso, foi muito útil conversar contigo e acho que foi uma entrevista muito interessante.

Muito obrigado pela oportunidade de conversar convosco. Agrada-me poder ajudar.

O prazer foi nosso. Resta apenas despedirmo-nos. Tens algumas últimas palavras para os nossos leitores da National Geographic?

Espero ter ajudado e dado informação útil aos leitores da National Geographic. Se tiverem mais perguntas ou quiserem saber um pouco mais sobre um tema em particular, estou aqui para ajudar. Obrigado por lerem.

 

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