Enquanto seres vivos, é difícil escaparmos à escravidão do relógio. Não dos números do relógio de pulso ou do smartphone, mas de um mestre muito mais exigente: o relógio biológico. O nosso ciclo de sono/vigília, temperatura corporal, agilidade mental, humor, desempenho atlético, apetite, desejo sexual e muito mais, aumentam e diminuem consoante um ciclo regular conhecido como ritmo circadiano. (Circa da palavra latina que significa “cerca” e dian de “dia”, ou seja “cerca de um dia.”)

O ciclo de sono/vigília é o nosso ritmo diário mais evidente e, ao longo da maior parte da história, as pessoas assumiram logicamente que era ditado pela luz solar. Uma experiência sombria realizada em 1938 provou que isso estava errado. Nathaniel Kleit, cientista especializado em sono da Universidade de Chicago, e o seu assistente Bruce Richardson, acamparam durante 32 dias na escuridão total de gruta Mammot Cave, no Kentucky, para descobrirem como os seus corpos reagiriam à ausência de referências externas.

O que descobriram: mesmo sem luz solar, os seus corpos aderiram a ciclos regulares de sono e subidas e descidas de temperatura corporal. No entanto, os ciclos não tinham exactamente 24 horas. Ao longo do tempo, aumentaram gradualmente para algures entre 24 e 28 horas.

O relógio do sono

Hoje em dia, sabemos que todos os organismos humanos são governados por um relógio biológico existente no cérebro, uma região minúscula denominada núcleo supraquiasmático.

No entanto, referências externas como a luz, a temperatura e as refeições também influenciam os ritmos circadianos. Conhecidas como zeitgebers (do termo alemão para “dar tempo”), estas pistas ajudam a manter-nos num horário com aproximadamente 24 horas que corresponde ao dia e à noite.

Existem vários químicos que promovem o ritmo de sono/vigília e são libertados pelo organismo num ciclo diário, entre os quais a adenosina e a melatonina. A adenosina é um composto que causa sonolência, acumulando-se no cérebro ao longo do dia e aumentando a nossa necessidade de dormir. Quando dormimos, os níveis de adenosina diminuem, voltando a aumentar no dia seguinte. A melatonina, uma hormona libertada ao início da noite pela glândula pineal, avisa o cérebro de que o sono está (ou deveria estar) iminente.

Embora estes mecanismos funcionem em todos os organismos humanos, cada pessoa tem um relógio ligeiramente diferente. As “cotovias” estão no seu melhor de manhã, levantando-se cedo e deitando cedo. As “corujas”, que se levantam tarde, demoram mais tempo a ligar o motor, mas ficam despertas até tarde. Os ritmos circadianos também afectam a temperatura corporal e a fome.

Compreender os seus próprios ritmos corporais pode ter um efeito positivo no seu desempenho diário. A maioria das pessoas estão mais alerta mentalmente ao final da manhã e ao início da noite e mais sonolentas ao início da tarde, sentindo-se prontas para dormir uma sesta depois do almoço. O desempenho atlético atinge o auge à tarde e ao início da noite. Durante a noite, as luzes brilhantes, incluindo o brilho de televisores e ecrãs portáteis funcionam como zeitgebersque enganam o organismo, levando-o a despertar.

como a luz NOS afecta

A vivacidade que sentimos em determinada altura depende da interacção de dois processos: “a pressão do sono”, que se pensa ser criada por substâncias que promovem o sono e se acumulam no cérebro enquanto estamos acordados, e o nosso ritmo circadiano, o relógio interno que mantém o cérebro e o corpo sincronizados com o Sol. O relógio pode ser atrasado ou adiantado pela luz. Somos particularmente sensíveis à luz azul (comprimento de onda curto), o tipo de luz do Sol do meio-dia e dos ecrãs dos nossos computadores, mas esta pode perturbar o nosso ciclo – sobretudo à noite, quando precisamos que a escuridão nos diga que é hora de dormir.

Artigo publicado originalmente em inglês em nationalgeographic.com.