Daniel Kish nasceu com cancro da retina e, para lhe salvarem a vida, removeram-lhe os dois olhos aos 13 meses de vida. Pouco depois, começou a emitir um som de cliques com a língua, o qual, aparentemente, o ajudava a deslocar-se. Hoje, com 47 anos, movimenta-se sobretudo recorrendo à ecolocalização. Como se fosse um morcego. É tão hábil que consegue circular de bicicleta. O seu grupo World Access for the Blind [“Acesso para os Cegos a Nível Mundial”] ensina a arte do clique.

Como funciona a ecolocalização humana?

Cada clique gera ondas de som. Estas ondas ricocheteiam nas superfícies e regressam aos ouvidos sob a forma de ecos débeis. O meu cérebro processa os ecos, transformando-os em imagens dinâmicas. É como se estivesse a conversar com o ambiente. 

O que vê na sua mente quando emite cliques?

Cada clique funciona como um flash ténue de máquina fotográfica. Construo uma imagem tridimensional que se prolonga dezenas de metros em todas as direcções.
De perto, consigo detectar um poste com dois ou três centímetros de espessura. A cinco metros, consigo reconhecer automóveis e arbustos. As casas ficam focadas a 50 metros. 

Mas continua a usar uma bengala branca comprida. 

Tenho dificuldade em detectar objectos pequenos em níveis baixos, ou locais onde o solo baixa de repente. 

Como é andar de bicicleta utilizando a ecolocalização? 

É excitante, mas exige que me foque na componente acústica do ambiente. Chego a emitir cliques duas vezes por segundo, uma frequência muito superior à habitual. 

É perigoso explorar o mundo desta maneira?

Grande parte do mundo vive com medo de ameaças à vida e aos braços e pernas que são, na sua maior parte, imaginadas. Apesar do meu hábito insaciável de trepar tudo e mais alguma coisa, nunca parti um único osso quando era criança. 

É um desafio ensinar a ecolocalização aos outros cegos?

O meu grupo já a ensinou a quase mil estudantes cegos em mais de trinta países. Muitos ficam surpreendidos com a rapidez dos resultados. Acredito que a capacidade de ecolocalização se encontra latente em nós e os humanos poderão tê-la utilizado quando a iluminação artificial ainda não existia. O equipamento neuronal parece existir, e eu desen-
volvi maneiras de activá-lo. A visão não está nos olhos: reside na mente. E os nossos estudantes celebram a descoberta de uma liberdade que nunca tinham imaginado.