Patrick Perotti troçou quando a mãe lhe falou num médico que usa ondas electromagnéticas para tratar a toxicodependência. “Pensei que era um charlatão”, conta.
Patrick tem 38 anos e vive na cidade italiana de Génova. Começou a inalar cocaína aos 17 anos. O seu prazer transformou-se gradualmente num hábito e depois numa compulsão que o consumia por dentro. Apaixonou-se, teve um filho e abriu um restaurante. Vergados ao peso da dependência, a família e o negócio soçobraram.
Começou a inalar cocaína aos 17 anos. O seu prazer transformou-se gradualmente num hábito e depois numa compulsão que o consumia por dentro.
Fez três meses de reabilitação e teve uma recaída 36 horas depois de sair do centro. Passou mais oito meses noutro programa, mas no dia em que regressou a casa, encontrou o seu traficante e repetiu o consumo. “Comecei a consumir cocaína furiosamente”, recorda. “Fiquei paranóico, obcecado, maluco. Não conseguia imaginar uma maneira de parar.”
Quando a mãe o pressionou a falar com o médico, Patrick cedeu. Descobriu que só teria de sentar-se numa cadeira parecida com a de um dentista e deixar o médico, Luigi Gallimberti, segurar um dispositivo junto da sua cabeça e, em teoria, isso reprimiria o seu desejo por cocaína.
Luigi Gallimberti, psiquiatra especializado em toxicologia, dedica-se há 30 anos ao tratamento da dependência e tem uma clínica em Pádua.
A sua decisão de experimentar a técnica de estimulação magnética transcraniana (EMT) enraizou-se em progressos significativos na ciência da dependência e na sua frustração face aos tratamentos tradicionais. A medicação pode ajudar as pessoas a deixarem de beber, fumar ou consumir heroína, mas as recaídas são comuns e não existe um medicamento eficaz para a dependência de estimulantes como a cocaína. “É muito difícil tratar estes pacientes”, afirma.
Analisando exames cerebrais em dependentes de cocaína em recuperação, a neurocientista Anna Rose Childress estuda como alusões subliminares a drogas podem excitar o sistema de recompensa do cérebro e contribuir para a recaída. Quando mostrou imagens como a fotografia de cocaína visível no monitor esquerdo a pacientes durante 33 milissegundos, o seu circuito de recompensa foi estimulado. Ela tenta descobrir medicamentos que permitam prevenir esta activação e impedir que as pessoas sejam vítimas de interruptores “invisíveis”.
Segundo o Gabinete das Nações Unidas contra a Droga e o Crime, mais de duzentas mil pessoas morrem anualmente em todo o mundo devido a sobredosagens de droga e doenças relacionadas com o consumo de droga (por exemplo, o VIH). Muitas mais morrem devido a tabaco e álcool. Mais de mil milhões de pessoas fumam e o tabaco tem relação com as cinco principais causas de morte: doenças cardíacas, acidentes vasculares, infecções respiratórias, doença pulmonar obstrutiva crónica e cancro do pulmão. Quase um em cada vinte adultos em todo o mundo é dependente de álcool. Nunca foi contabilizado o número de pessoas dependentes do jogo e de outras actividades compulsivas que têm vindo a ser identificadas como dependências.
Quase um em cada vinte adultos em todo o mundo é dependente de álcool.
Os cientistas desenvolveram uma imagem pormenorizada da forma como a dependência perturba as vias e os processos subjacentes ao desejo, formação de hábitos, prazer, aprendizagem, regulação emocional e cognição. A dependência causa centenas de alterações na anatomia e química cerebral e na sinalização celular, incluindo nos espaços existentes entre neurónios, chamados sinapses, que são a maquinaria molecular da aprendizagem. Tirando partido da maravilhosa plasticidade do cérebro, a dependência remodela os circuitos neuronais de modo a atribuir um valor supremo à cocaína, à heroína ou ao gin, em detrimento de outros interesses, como a saúde, o trabalho, a família ou a própria vida. “De certo modo, a dependência é uma forma patológica de aprendizagem”, diz o neurologista Antonello Bonci.
Mais de duzentas mil pessoas morrem anualmente em todo o mundo devido a sobredosagens de droga e doenças relacionadas com o consumo de droga (por exemplo, o VIH).
Luigi Gallimberti ficou fascinado ao ler um artigo num jornal sobre as experiências realizadas por Antonello e colegas do NIDA e da Universidade da Califórnia, em São Francisco. Ao medirem a actividade eléctrica nos neurónios de ratos dependentes de cocaína, descobriram que uma região do cérebro envolvida na inibição de comportamentos estava anormalmente calma. Utilizando optogenética, que combina fibra óptica com engenharia genética para manipular o cérebro de animais com uma velocidade e precisão outrora inimagináveis, os investigadores activaram estas células letárgicas nos ratos. “O seu interesse na cocaína praticamente desapareceu”, diz Antonello. Os investigadores sugeriram que o estímulo da região do cérebro humano responsável pela inibição de comportamentos, no córtex pré-frontal, poderia acalmar o impulso insaciável que impele o toxicodependente a consumir droga.
Luigi Gallimberti pensou que a ETM poderia ser uma forma de o fazer. Os nossos cérebros funcionam com impulsos eléctricos que correm entre os neurónios, a cada pensamento e movimento.
A estimulação cerebral, há muito utilizada no tratamento da depressão e da enxaqueca, afecta esses circuitos. O dispositivo é um simples fio enrolado em espiral no interior de uma vara. Quando atravessada pela corrente eléctrica, a vara cria um impulso magnético que altera a actividade eléctrica do cérebro. Luigi Gallimberti pensou que impulsos repetidos poderiam activar as vias neuronais danificadas pelas drogas, um processo semelhante ao reinício de um computador bloqueado.
QUEBRA DO CICLO - Com uma dependência grave de cocaína e após várias recaídas, Patrick Perotti acabou por recorrer a um tratamento experimental – a aplicação de impulsos electromagnéticos no córtex pré-frontal numa clínica de Pádua. O tratamento resultou. O psiquiatra Luigi Gallimberti utilizou estimulação magnética transcraniana noutros pacientes, com sucesso. Ele e os seus colegas estão a planear um teste de larga escala. A técnica está a ser actualmente testada por investigadores de todo o mundo noutros tipos de dependência.
Luigi Gallimberti e o seu sócio, o psicólogo especialista em neurocognição Alberto Terraneo, juntaram-se a Antonello para testar a técnica. Recrutaram um grupo de dependentes de cocaína: 16 foram submetidos a estimulação cerebral durante um mês e 13 receberam cuidados tradicionais, incluindo medicação para a ansiedade e a depressão. No final do estudo, onze pessoas do grupo da estimulação, contra apenas três do outro grupo, estavam livres da dependência.
Os investigadores publicaram conclusões na edição de Janeiro de 2016 da revista “European Neuropsychopharmacology”, dando origem a uma vaga de publicidade que atraiu centenas de consumidores de cocaína à clínica. Ao chegar, Patrick Perotti vinha agitado e irritável. Depois da primeira sessão, disse ter-se sentido calmo. Não tardou a perder o desejo por cocaína. Continuava sem senti-lo seis meses mais tarde. “Foi uma mudança completa”, diz. “Senti uma vitalidade e vontade de viver que não sentia há muito tempo.”
No final do estudo, onze pessoas do grupo da estimulação, contra apenas três do outro grupo, estavam livres da dependência.
Será necessário realizar ensaios demorados e com controlo de placebo para provar que o tratamento funciona e os benefícios são duradouros. A equipa planeia realizar mais estudos e já há investigadores em todo o mundo a testar a estimulação cerebral para ajudar pessoas a deixarem de fumar, beber, jogar, comer compulsivamente e consumir abusivamente opiáceos.
Até há pouco tempo a ideia de reparar as ligações cerebrais para combater a dependência pareceria improvável. Contudo, os progressos da neurociência modificaram radicalmente as noções convencionais sobre dependência. Se abrisse um manual de medicina há 30 anos, leria que a dependência é a subordinação a uma substância, acompanhada por um aumento da tolerância, exigindo mais para sentir os efeitos, e causando sintomas de abstinência terríveis quando o consumo é descontinuado. Esta explicação era aceitável para o álcool, a nicotina e a heroína, mas não para a marijuana nem para a cocaína, que não provocam os tremores, náuseas e vómitos da abstinência da heroína.
ANIMAL DE COMPULSÕES - Este rato é atraído pelo mesmo tipo de luzes a piscar e sons tilintantes que mantêm os seres humanos a jogar nos casinos. Perante uma variedade de aberturas que o recompensam com grânulos de açúcar, o rato toca insistentemente na que lhe promete uma recompensa maior, mas menos probabilidades de ganhar. Em estudos semelhantes, a neurocientista Catharine Winstanley descobriu que um medicamento que bloqueie um tipo de receptor de dopamina pode reduzir a tomada de decisões de alto risco associadas ao jogo compulsivo.
O modelo antigo também não explicava aquele que é, possivelmente, o aspecto mais insidioso da dependência: a recaída. O relatório da autoridade norte-americana de saúde sublinha o que a comunidade científica refere há anos: a dependência é uma doença e não um fracasso moral. Não é necessariamente caracterizada por uma dependência física ou abstinência, mas pela repetição compulsiva de uma actividade, apesar das suas consequências nocivas para a vida. Este ponto de vista levou muitos cientistas a aceitar a ideia, em tempos herética, de que é possível existir dependência sem drogas.
Alguns cientistas crêem que muitos atractivos da vida contemporânea (a comida rápida, as compras, os telefones inteligentes) são potencialmente viciantes devido aos efeitos poderosos que exercem no sistema de recompensa do cérebro.
A mais recente revisão do “Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders”, o manual da psiquiatria norte-americana, reconhece, pela primeira vez, uma dependência comportamental: o jogo patológico. Alguns cientistas crêem que muitos atractivos da vida contemporânea (a comida rápida, as compras, os telefones inteligentes) são potencialmente viciantes devido aos efeitos poderosos que exercem no sistema de recompensa do cérebro, o circuito subjacente à compulsão.
“Todos nós somos sofisticados detectores de recompensas”, afirma Anna Rose Childress, neurocientista do Centro de Estudos da Dependência da Universidade da Pensilvânia.
Durante anos, Anna Rose e outros cientistas têm tentado desvendar os mistérios da dependência estudando o sistema de recompensa. Grande parte da investigação implica introduzir pessoas dependentes de drogas no tubo de um equipamento de ressonância magnética (RM), que detecta o fluxo sanguíneo no cérebro como uma forma de analisar a actividade neuronal. Através de algoritmos complexos de aplicação de códigos cromáticos, os exames cerebrais são convertidos em imagens identificadoras dos circuitos que são activados quando o cérebro deseja algo.
Anne Rose está sentada no seu computador, a examinar uma galeria de imagens de cérebros. “Sou capaz de ficar horas a olhar para estas imagens”, comenta. “São pequenos presentes. Só de pensar que podemos visualizar um estado cerebral tão poderoso e simultaneamente tão perigoso.”
PRESOS AO JOGO - Em Seul, estádios electrónicos e salões de jogo cobram menos de um euro por hora e alguns estão abertos 24 horas por dia. Pouco depois de a Coreia do Sul ter tornado a Internet de alta velocidade barata e amplamente disponível, tornou-se claro que havia pessoas que estavam a arruinar as suas vidas devido ao jogo compulsivo online. O governo está agora a financiar o seu tratamento. A Associação Psiquiátrica Americana não reconhece o abuso de videojogos como dependência, mas inclui o distúrbio do jogo na Internet na lista de temas que carecem de mais estudo.
O sistema de recompensa, uma parte primitiva do cérebro que não é muito diferente nos ratos, existe para garantir que procuramos aquilo que queremos e alerta-nos para imagens, sons e odores que nos orientem até lá. Opera no reino do instinto e dos reflexos, tendo-se originado quando a sobrevivência dependia da capacidade para obter alimento e sexo antes da concorrência. Contudo, o sistema prejudica-nos num mundo com oportunidade de satisfazermos desejos 24 horas por dia.
O desejo depende de uma cascata complexa de acções cerebrais, mas a ciência defende agora que o seu interruptor é, provavelmente, um pico num neurotransmissor chamado dopamina.
O desejo depende de uma cascata complexa de acções cerebrais, mas a ciência defende agora que o seu interruptor é, provavelmente, um pico num neurotransmissor chamado dopamina. A dopamina é um mensageiro químico que transmite sinais pelas sinapses e desempenha diversos papéis no cérebro. Mais relevante para a dependência é o facto de a dopamina poder aumentar aquilo a que os cientistas chamam saliência ou o apelo motivador de um estímulo. O consumo de cada droga afecta a química cerebral de uma maneira específica, mas todas provocam um aumento dos níveis de dopamina para lá do normal. Wolfram Schultz, neurocientista da Universidade de Cambridge, chama “diabinhos do cérebro” às células responsáveis pela produção de dopamina, devido à maneira poderosa como o neurotransmissor causa o desejo.
Poderosa até que ponto? Vejamos os estranhos efeitos secundários induzidos por fármacos que imitam a dopamina natural e que são utilizados para curar a doença de Parkinson. A doença destrói as células produtoras de dopamina, afectando principalmente o movimento. Os fármacos de substituição da dopamina aliviam os sintomas, mas cerca de 14% dos pacientes com Parkinson medicados com estes fármacos desenvolvem dependências associadas ao jogo, compras, pornografia, comida ou ao próprio fármaco. Um relatório publicado na revista “Movement Disorders” descreve três pacientes que foram consumidos por uma “generosidade imprudente” e se tornaram dependentes de dar dinheiro a estranhos e amigos que consideravam ter necessidade dele.
O CONTROLO DO CÉREBRO - Novas investigações sugerem que o sistema de recompensa do cérebro tem mecanismos diferentes para a compulsão e o prazer. A compulsão é desencadeada pelo neurotransmissor de dopamina. O prazer é estimulado por outros neurotransmissores em “pontos quentes hedonistas”. Quando os comportamentos compulsivos sobrecarregam os “pontos quentes” do prazer, a dependência instala-se. Gráfico Jason Treat e Ryan T. Williams. Arte: Daniel Hertzberg. Fonte: Kent Berridge, Universidade do Michigan.
VIAS PARA A COMPULSÃO - O desejo é desencadeado quando a dopamina, produzida junto do topo do tronco cerebral, percorre as vias neuronais para actuar no cérebro. As drogas aumentam o fluxo de dopamina (1, 2, 3, 8).
PONTOS QUENTES DO PRAZER - Um sistema de zonas hedonistas, sem relação com a dopamina, gera sensações temporárias de prazer e forma um ciclo de retorno de informação com o circuito de recompensa que controla o desejo (4, 5, 6, 7).
1) Estriado dorsal - Os neurónios desta região contribuem para a formação de hábitos, identificando padrões agradáveis, como a expectativa da compra de droga; 2) Córtex pré-frontal - O aminoácido glutamato interage com a dopamina para gerar visualizações que dão lugar ao desejo compulsivo; 3) Amígdala - Os neurónios desta estrutura são estimulados por reacções emocionais, como recordações de desejo e prazer; 4) Córtex orbitofrontal - Esta área cerebral gera a sensação de gratificação, mas também é a primeira a desligar-se se um indivíduo se vincular demasiado a ela; 5) Núcleo accumbens - Uma estrutura nesta peça essencial do circuito da recompensa aumenta a reacção ao prazer; 6) Pallidum ventral - Experiências com animais mostram que danos nesta estrutura podem transformar uma antiga fonte de prazer em fonte de repulsa; 7) Tronco cerebral - As sensações viscerais básicas e as reacções ao prazer, como o sorriso, são originadas nesta estrutura; 8) Área tegmental ventral (ATV) - A dopamina é aqui produzida, fluindo depois ao longo dos neurónios distribuídos pelo sistema de recompensa do cérebro.
Através da aprendizagem, os sinais ou alusões a recompensas passam a provocar explosões de dopamina.
Através da aprendizagem, os sinais ou alusões a recompensas passam a provocar explosões de dopamina. É por isso que o cheiro de bolos no forno, o som de uma mensagem de texto ou a conversa animada que se ouve do lado de fora de um bar podem desencadear uma compulsão. Anne Rose Childress demonstrou que as pessoas com vícios não precisam de registar conscientemente uma alusão para o seu sistema de recompensa ser estimulado. Num estudo publicado na revista “PLoS One”, ela examinou os cérebros de 22 pessoas a recuperar da dependência de cocaína enquanto fotografias de cachimbos de crack e outros objectos relacionados com drogas passavam diante dos seus olhos durante 33 milissegundos, um décimo do tempo que demoramos a pestanejar. Os homens não “viam” nada conscientemente, mas as imagens activavam as mesmas zonas do circuito de recompensa estimuladas quando as alusões a droga eram claramente visíveis.
ESTADO DE EUFORIA NATURAL - Os nossos cérebros desenvolveram um circuito de recompensa à base de dopamina para incentivar comportamentos que nos ajudam a sobreviver, como comer, procriar e interagir socialmente (A e B).
VAGA QUÍMICA DE PRAZER - Drogas diferentes interagem com o circuito de recompensa de formas singulares para manter as sinapses artificialmente inundadas de dopamina. Essa vaga de dopamina pode reorganizar o cérebro de modo a exigir mais droga, conduzindo à dependência (C, D, E).
A) Actividade neuronal: Num estado normal - Os neurotransmissores libertados na sinapse podem inibir ou excitar a actividade neuronal, controlando activamente a propagação da informação no cérebro; B) Num estado de excitação - A dopamina inunda temporariamente uma sinapse quando uma actividade agradável, como jogar, fazer sexo, comprar ou jogar, é prevista ou concretizada; C) Sob o efeito de heroína - As sinapses ficam inundadas de dopamina quando a heroína bloqueia os inibidores de dopamina na ATV; D) Sob o efeito de metanfetamina - A droga inverte o fluxo natural e controlado da dopamina nos neurónios, libertando uma descarga rápida de dopamina nas sinapses; E) Sob efeito de cocaína - Ao interferir no transporte de dopamina, a cocaína impede a remoção do excesso de dopamina das sinapses.
Do ponto de vista da especialista, estas conclusões corroboram histórias contadas por pacientes cocainómanos que sofreram recaídas, mas sem conseguirem explicar o que as desencadeara. “Estavam a passear em sítios onde, muitas vezes, existia um indício simbólico de cocaína”, diz. “Estavam basicamente a ser postos no ponto, com o bom velho sistema de recompensa a tilintar. Quando finalmente tomavam consciência do que se passava, era como uma bola de neve a rolar pela montanha abaixo.”
O cérebro é, evidentemente, mais do que um órgão de recompensa. Aloja a maquinaria mais sofisticada da evolução para raciocinar, ponderar riscos e controlar desejos desenfreados.
O cérebro é, evidentemente, mais do que um órgão de recompensa. Aloja a maquinaria mais sofisticada da evolução para raciocinar, ponderar riscos e controlar desejos desenfreados. Então, de que modo a compulsão e o hábito se sobrepõem à razão, às boas intenções e ao entendimento dos danos causados pela dependência? “Há um demónio que mexe connosco”, diz um homem corpulento, de voz tonitruante, que fuma crack regularmente.
Sentado numa cadeira giratória numa pequena sala sem janelas da Faculdade de Medicina Icahn da Universidade do Monte Sinai, em Manhattan, aguarda que lhe façam um exame de ressonância magnética. Participa num estudo no laboratório de Rita Z. Goldstein, professora de psiquiatria e neurociência, sobre o papel do centro de controlo executivo do cérebro, o córtex pré-frontal. Enquanto o equipamento regista a sua actividade cerebral, ele verá imagens de cocaína acompanhadas por instruções para imaginar os prazeres ou os perigos evocados por cada imagem. A especialista e a sua equipa estão a testar se o retorno de informação neuronal (o neurofeedback) que permite às pessoas observarem os seus cérebros em acção, pode ajudar os dependentes a controlarem melhor os seus hábitos compulsivos.
BEBER MODERADAMENTE - Sylvie Imbert e Yves Brasey dizem ter-se libertado da dedicação à garrafa devido ao baclofeno, um fármaco utilizado no tratamento de espasmos musculares. Actualmente, Yves (na imagem, a beber uma cerveja no Hotel Luxembourg Parc, em Paris) só bebe pouco de cada vez. Sylvie consumia seis a nove bebidas quase todos os dias até iniciar a medicação com baclofeno. Agora só bebe ocasionalmente. Sylvie e Yves tornaram-se defensores incondicionais do fármaco.
“Não paro de pensar nisto: nem acredito que desperdicei aquele dinheiro todo em droga”, diz-me o homem enquanto é conduzido ao dispositivo de ressonância magnética.
Os estudos de neuroimagiologia de Rita Goldstein ajudaram a expandir o nosso conhecimento do sistema de recompensa, explorando a forma como a dependência está associada ao córtex pré--frontal e a outras regiões corticais. Alterações nesta zona do cérebro afectam as capacidades de juízos, de autocontrolo e outras funções cognitivas relacionadas com a dependência. “A recompensa é importante no início do ciclo da dependência, mas a reacção à recompensa diminui à medida que o distúrbio aumenta”, afirma. As pessoas com dependência persistem frequentemente no consumo de drogas para aliviar o sofrimento que sentem quando o interrompem.
As pessoas com dependência persistem frequentemente no consumo de drogas para aliviar o sofrimento que sentem quando o interrompem.
Em 2002, trabalhando com Nora Volkow, actual directora do NIDA, Rita Goldstein publicou aquele que se tornaria um modelo altamente influente da dependência, denominado iRISA, a sigla de impaired response inhibition and salience attribution [ou incapacitação da inibição de reacções e da atribuição de saliência]. É uma designação floreada para uma ideia relativamente simples. À medida que as alusões a uma droga ganham proeminência, o espectro da atenção estreita-se, como uma câmara a ampliar um objecto e retirando tudo o resto do enquadramento. Entretanto, a capacidade do cérebro para controlar o comportamento perante essas alusões diminui.
Rita Goldstein demonstrou que, enquanto grupo, os dependentes de cocaína têm um volume reduzido de matéria cinzenta no córtex pré--frontal, uma deficiência estrutural associada a um enfraquecimento da função executiva, apresentando resultados diferentes das pessoas não dependentes em testes psicológicos à memória, atenção, tomada de decisões e processamento de recompensas não relacionadas com drogas, como o dinheiro. Têm piores resultados de um modo geral, mas nem sempre. Depende do contexto.
Por exemplo, quando Rita Goldstein lhes pede para dizerem palavras relacionadas com drogas, tendem a superar os outros. Os consumidores de droga crónicos são frequentemente óptimos em tarefas de planeamento e execução relacionadas com o consumo de droga, mas esta propensão pode comprometer outros processos cognitivos, incluindo saber como e quando parar. As deficiências cerebrais e comportamentais são mais subtis do que noutras perturbações cerebrais, sendo afectadas mais intensamente pela situação.
O laboratório de Rita Goldstein descobriu provas surpreendentes de que as regiões frontais do cérebro começam a regenerar-se quando as pessoas param de consumir drogas.
“Pensamos que esta é uma das razões explicativas de a dependência ter sido (e ainda ser) uma das últimas perturbações reconhecidas como distúrbio cerebral”, diz ela. O laboratório de Rita Goldstein descobriu provas surpreendentes de que as regiões frontais do cérebro começam a regenerar-se quando as pessoas param de consumir drogas. Um estudo realizado em 2016 acompanhou 19 dependentes de cocaína que tinham parado de consumir ou reduzido dramaticamente a dose durante seis meses. Eles mostraram aumentos significativos no volume da matéria cinzenta em duas regiões envolvidas na inibição de comportamentos e avaliação de recompensas.
Marc Potenza caminha a passos largos pelo gigantesco casino Venetian, em Las Vegas. Marc, um psiquiatra afável e enérgico da Universidade de Yale e director do Programa de Investigação sobre Impulsividade e Perturbações do Controlo dos Impulsos, nem parece reparar no ambiente que o rodeia. Saindo do templo do prazer, atravessa um grande átrio até chegar a uma sala de conferências silenciosa no Centro de Congressos Sands Expo, onde apresentará a sua investigação sobre dependência do jogo a cerca de cem cientistas e médicos.
A conferência é organizada pelo Centro Nacional para o Jogo Responsável, um grupo apoiado pela indústria que financia investigações sobre o jogo. No pódio, Marc fala sobre a integridade da matéria branca e o fluxo sanguíneo cortical nos jogadores. Do lado de fora da sala, empresas que participam na exposição instalam equipamentos com inovações concebidas para pôr a dopamina dos millennials a circular. A exposição contará com a presença de 27 mil fabricantes de jogos, programadores e operadores de casino.
A comunidade que se dedica ao estudo de doenças psiquiátricas aceita agora a ideia de a dependência ser possível sem drogas e os investigadores estão a tentar determinar que tipos de comportamentos se qualificam como adicções.
Marc Potenza e outros cientistas convenceram a comunidade psiquiátrica a aceitar a ideia da dependência comportamental. Em 2013, a Associação Americana de Psiquiatria (AAP) retirou os problemas com o jogo de um capítulo denominado “Perturbações do Controlo dos Impulsos não Classificados noutro Lugar”, no “Diagnostic and Statistical Manual” (DSM), integrando-os no capítulo denominado “Perturbações e Transtornos Aditivos Relacionados com o Consumo de Substâncias”. Não foi um aspecto técnico. “Permite que outros comportamentos venham a ser considerados vícios”, afirma Judson Brewer, director de investigação no Centro de Atenção da Faculdade de Medicina da Universidade de Massachusetts.
A AAP pensou sobre o assunto durante mais de uma década, enquanto se acumulavam investigações sobre as semelhanças entre o jogo e a dependência da droga. Desejo insaciável, obsessão e compulsões incontroláveis. Emoção súbita e a necessidade de elevar a fasquia para continuar a sentir o coração a palpitar. Uma incapacidade de parar, apesar de promessas e resoluções. Marc Potenza conduziu alguns dos primeiros estudos de imagiologia de cérebros de jogadores e descobriu que as imagens eram parecidas com os exames dos dependentes de droga, com uma actividade mais lenta nas partes do cérebro responsáveis pelo controlo dos impulsos.
A comunidade que se dedica ao estudo de doenças psiquiátricas aceita agora a ideia de a dependência ser possível sem drogas e os investigadores estão a tentar determinar que tipos de comportamentos se qualificam como adicções. Serão todas as actividades que dão prazer potencialmente viciantes?
Nos Estados Unidos, o DSM inclui actualmente o jogo compulsivo na Internet como uma perturbação digna de estudo mais aprofundado, juntamente com o sofrimento debilitante e o consumo abusivo de cafeína. O vício de navegar na Internet não foi introduzido na lista.
O vício de navegar na Internet não foi introduzido na lista.
No entanto, faz parte da lista de adicções do psiquiatra Jon Grant, bem como as compras e o sexo compulsivo, a dependência da comida e a cleptomania. “Tudo o que seja demasiado satisfatório, tudo o que induza euforia ou seja calmante, pode ser viciante”, diz este homem que dirige a Clínica de Distúrbios de Dependência, Compulsivos e Impulsivos da Universidade de Chicago. Ser ou não viciante depende da vulnerabilidade de cada pessoa, pois tal é determinado por factores genéticos, traumas e depressão, entre outros. “Nem todos ficamos dependentes”, afirma Jon.
As “novas” dependências mais polémicas são, possivelmente, a comida e o sexo. Poderá um desejo primordial ser viciante? A Organização Mundial da Saúde recomendou a inclusão do sexo compulsivo como perturbação de controlo de impulsos na próxima edição da Classificação Internacional de Doenças, com lançamento previsto para 2018. No entanto, a Associação Psiquiátrica Americana rejeitou o sexo compulsivo no seu manual mais recente, depois de um debate sério sobre se o problema é ou não real.
DOENTES, NÃO PRISIONEIROS - Este homem, detido por suspeita de consumo de heroína em Seattle, foi conduzido a um programa de tratamento de droga para transgressores de menor gravidade relacionados com droga. Este programa inovador, em curso há mais de cinco anos, reflecte uma noção crescente de que o consumo de drogas deriva por norma da dependência e pode ser tratado como doença. O programa reduziu a reincidência entre os transgressores canalizados para lá do sistema de justiça criminal.
Nicole Avena, neurocientista no Hospital St. Luke’s de Monte Sinai, em Nova Iorque, demonstrou que os ratos continuam a consumir açúcar, se os deixarem, e que desenvolvem tolerância, compulsão e sintomas de abstinência, tal como acontece quando ficam viciados em cocaína. Nicole e investigadores da Universidade do Michigan examinaram recentemente 384 adultos: 92% relataram um desejo persistente por determinados alimentos e tentativas fracassadas sucessivas de pararem: dois marcadores da dependência. Os inquiridos classificaram a pizza, tipicamente feita com uma base de farinha branca coberta com um molho de tomate carregado de açúcar, como o alimento mais viciante, seguido pelas batatas fritas e o chocolate empatados no segundo lugar. Nicole Avena não tem dúvidas de que a dependência da comida é real. “É uma das principais razões para a luta das pessoas contra a obesidade.”
A ciência tem sido mais bem-sucedida a identificar o que corre mal no cérebro viciado do que em encontrar formas de corrigi-lo.
A ciência tem sido mais bem-sucedida a identificar o que corre mal no cérebro viciado do que em encontrar formas de corrigi-lo. Alguns medicamentos podem ajudar as pessoas a superar certas adicções. A naltrexona, por exemplo, foi desenvolvida para tratar o consumo abusivo de opiáceos, mas também é prescrita para ajudar a reduzir, ou travar, o consumo de álcool, a perturbação do comportamento alimentar e o jogo patológico.
A buprenorfina activa os receptores dos opiáceos no cérebro, mas de uma maneira muito menos intensa do que a heroína. “É um milagre”, diz Justin Nathanson, cineasta e dono de uma galeria em Charleston, na Carolina do Sul. Ele consumia heroína e submeteu-se a dois tratamentos e reabilitação, mas teve recaídas. Certo dia, um médico prescreveu-lhe buprenorfina. “Passados cinco minutos, senti-me completamente normal”, disse. Não consome heroína há 13 anos.
A maioria dos medicamentos para tratar a dependência existe há muitos anos. Os mais recentes avanços no campo da neurociência ainda não alcançaram uma cura inovadora. Os investigadores testaram dezenas de compostos, mas, embora muitos pareçam promissores em laboratório, os resultados em ensaios clínicos têm sido ambivalentes. A estimulação cerebral para tratamento da dependência, um derivado de recentes descobertas na neurociência, ainda é experimental.
A maioria dos medicamentos para tratar a dependência existe há muitos anos.
Embora os programas de 12 passos, a terapia cognitiva e outras abordagens psicoterapêuticas sejam transformadoras para muitas pessoas, não resultam em todas elas, e as taxas de recaída são elevadas. No mundo do tratamento da dependência, existem duas facções: uma defende que a cura consiste em tratar a componente química ou a ligação defeituosa do cérebro viciado com medicação ou através de técnicas como a EMT, coadjuvadas por apoio psicossocial; a outra defende que a medicação é o factor coadjuvante, uma forma de reduzir a compulsão e a agonia da abstinência, deixando a cargo das pessoas o trabalho psicológico essencial para a recuperação. Ambos os campos concordam num ponto: o tratamento actual ainda não é ideal.
Judson estuda psicologia budista. Também é psiquiatra especializado em dependência. Segundo ele, a melhor esperança para tratá-la reside numa mistura de ciência contemporânea com práticas contemplativas ancestrais. É um evangelista do mindfulness, que recorre à meditação e a outras técnicas para nos tornar conscientes daquilo que estamos a fazer e a sentir, sobretudo em relação a hábitos conducentes a comportamentos autodestrutivos.
Segundo a filosofia budista, a compulsão é a causa de todo o sofrimento. Buda não pensou em heroína, nem gelado, nem noutras compulsões que trazem as pessoas aos grupos de ajuda. No entanto, existem provas crescentes de que a procura do estado de espírito certo (o mindfulness) pode equilibrar o efluxo de dopamina da vida contemporânea. Investigadores da Universidade de Washington mostraram que um programa baseado em mindfulness era mais eficaz na prevenção de recaídas nos casos de dependência em drogas do que os programas de 12 passos. Numa comparação pormenorizada, Judson Brewer mostrou que o treino de mindfulness era duas vezes mais eficaz do que o programa de antitabagismo mais bem-sucedido.
Segundo a filosofia budista, a compulsão é a causa de todo o sofrimento. Buda não pensou em heroína, nem gelado, nem noutras compulsões que trazem as pessoas aos grupos de ajuda.
A mindfulness treina as pessoas para prestar atenção às compulsões, mas sem lhes reagirem. Também incentiva a reparar naquilo que impele a ceder aos impulsos. Judson e outros mostraram que a meditação acalma o córtex cingulado posterior, uma área cerebral envolvida no tipo de pensamento que pode conduzir a um ciclo obsessivo.
Judson exprime-se naquele tom apaziguador entre termos científicos e o páli, um idioma dos textos budistas. Numa noite recente, ele esteve diante de 23 pessoas que comiam compulsivamente devido ao stress.
Donnamarie Larievy, consultora de marketing e formadora de executivos, começou a participar nas reuniões do grupo para abandonar a sua dependência de gelado e chocolate. Passados quatro meses, come alimentos mais saudáveis e saboreia uma bola ocasional de fudge duplo, mas raramente anseia por ela. “Isto mudou-me a vida”, comenta. “Os meus desejos diminuíram.”
Nathan Abels parou de beber em várias ocasiões. Em Julho de 2016, deu entrada nas urgências, sofrendo de alucinações depois de três dias embriagado. Durante o tratamento, ofereceu-se como voluntário para participar num estudo de EMT com a neurocientista Colleen A. Hanlon.
Para Nathan, os conhecimentos actuais da neurociência proporcionam alívio. Ele não se sente preso pela biologia ou isento de responsabilidade pelo seu vício em álcool. Sente apenas menos vergonha. “Sempre achei que beber era uma fraqueza”, diz. “É muito importante compreender que é uma doença.” Está a usar todos os recursos disponibilizados pelo centro médico para se reabilitar – a medicação, a psicoterapia, os grupos de apoio e a estimulação electromagnética do cérebro. “O cérebro consegue reconstruir-se”, diz. “É espantoso.”
Viciados à nascença
CONSOLO DE RECÉM-NASCIDOS - Este rapaz é uma de quase trezentas crianças com síndrome de privação neonatal de opiáceos tratadas no Hospital Cabell Huntington todos os anos. Dorme sob o toque da mãe, Jordann Thomas, de 28 anos, consumidora em recuperação. Os médicos trataram o bebé com metadona e depois desmamaram-no do fármaco. Agora, ganha peso, dorme bem e em breve irá para casa. “Sem este programa, não sei o que seria de mim”, diz Jordann.
Os bebés que sofrem de síndrome de privação neonatal de opiáceos têm um choro característico: um lamento agudo, curto e angustiado, repetido sem cessar. Este som ecoa na unidade terapêutica neonatal do Hospital Cabell Huntington. Uma menina com uma semana de idade chora, inconsolavelmente, desde as seis horas da manhã. Às dez horas, Sara Murray, a chefe de enfermagem, suspira, e diz, com a sua voz suave: “Vai ser um dia frustrante.”
A crise de opiáceos é dolorosamente evidente neste hospital, onde um em cada cinco recém-nascidos foram expostos a heroína ou a outras drogas durante a gestação. “Aquilo a que estamos a assistir é apenas a ponta do icebergue do consumo de drogas”, diz Sean Loudin, director de medicina da unidade.
Os bebés que sofrem de síndrome de privação neonatal de opiáceos têm um choro característico: um lamento agudo, curto e angustiado, repetido sem cessar.
A Virgínia Ocidental tem a maior taxa de mortes por sobredosagem com opiáceos dos EUA. Em 2012, depois de a unidade de cuidados intensivos neonatais ficar tão sobrecarregada com bebés dependentes de droga a ponto de ter de rejeitar recém-nascidos com outras necessidades clínicas, o hospital abriu esta unidade. Por norma, há 18 bebés. Hoje há 23.
Eles esforçam-se para vencer os poderosos efeitos que as drogas viciantes exercem no cérebro. Os bebés tremem, suam, vomitam e mantêm o corpo rijo como uma tábua. Comem e dormem de forma intermitente. Envoltos numa trouxa, ficam em berços de plástico transparente ou nos braços de enfermeiros, pais ou voluntários que lhes dão colo. Estes bebés precisam de calma e sossego. Muitos também precisam de metadona para alívio dos seus sintomas e são desmamados do fármaco ao longo de vários dias ou semanas.
Os bebés tremem, suam, vomitam e mantêm o corpo rijo como uma tábua.
O grande problema costumava ser a exposição a analgésicos. Depois foi a heroína. Agora é heroína mais cocaína, metanfetaminas e, mais recentemente, um anticonvulsivo chamado gabapentina. Muitos bebés estão mais doentes e precisam de cuidados mais prolongados.
Sara Murray pega suavemente num rapaz de 41 dias e segura-o junto do peito. De seguida, põe-lhe uma chucha na boca. Enquanto a chupa como um pistão, rápida e furiosamente, ela agarra-o com firmeza e balança de forma quase imperceptível. Pouco depois, o queixo do bebé relaxa, as pálpebras começam a fechar-se e ele cai no sono.