É cada vez mais frequente questionarem-se factos demonstrados cientificamente e suportados por provas concretas e surgirem teorias da conspiração, que funcionam de uma forma completamente oposta, tentando ajustar a prova à teoria em vez de a teoria à prova.

Mostramos-lhe algumas das teorias da conspiração mais populares da actualidade e apresentamos alguns argumentos que as desacreditam.

1. A conspiração dos chemtrails

Teorias da conspiração em torno dos rastos do avião
ISTOCK

Os rastos de condensação são nuvens em forma de linha compostas por partículas de gelo, visíveis atrás dos motores de combustão dos aviões, que se costumam formar na atmosfera superior a altitudes de cruzeiro. Os rastos são um efeito normal dos aviões com motores de combustão desde os seus primeiros tempos.

A expressão inglesa chemtrail é a abreviação de duas palavras inglesas, chemical trail, que significam literalmente rasto químico. Algumas pessoas afirmam que estes rastos fazem parte de um plano secreto que pretende alterar o clima, provocar doenças, controlar a natalidade ou acabar directamente com a humanidade.

No entanto, quem se refere aos chemtrails está, na verdade, a referir-se ao rasto dos aviões, que deixam no seu encalço nuvens de condensação – que não são mais do que nuvens lineares produzidas pelo escape do motor de um avião ou por alterações na pressão atmosférica, geralmente a altitudes de cruzeiro vários quilómetros acima da superfície da Terra.

Os rastos de condensação são, portanto, nuvens em forma de linha compostas por partículas de gelo, visíveis atrás dos motores de combustão dos aviões, que se costumam formar na atmosfera superior a altitudes de cruzeiro. Ou seja, um efeito normal dos aviões com motores de combustão desde os seus primeiros tempos.

Dependendo da temperatura e do teor de humidade atmosférica, estes rastos evaporam-se rapidamente – se a humidade for baixa – ou persistem e aumentam, se a humidade atmosférica for mais elevada.

2. O vírus do VIH foi criado em laboratório

O vírus do VIH começou a propagar-se na década de 1980, dando imediatamente origem a várias teorias da conspiração. Uma delas, defendida pelos chamados negacionistas do VIH, contradiz as evidências científicas e médicas, argumentando que o vírus não existeOutros, em contrapartida afirmam que o vírus existe, mas longe de causar a terrível doença SIDA, é um vírus passageiro associado a determinadas condutas sexuais ou ao consumo de certas drogas recreativas.

De entre as teorias da conspiração em torno do VIH, uma das mais rocambolescas é possivelmente a que afirma que o VIH foi criado como uma arma biológica pelo governo dos EUA para debilitar certos grupos de pessoas, como as comunidades homossexuais ou os africanos.

A criação de um vírus como o VIH em laboratório é extremamente improvável devido às dificuldades que acarretaria. 
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A criação de um vírus como o VIH em laboratório é extremamente improvável devido às dificuldades que acarretaria. 

Contudo, a origem natural do VIH está actualmente provada por diversos estudos científicos. Crê-se que o vírus tenha surgido originalmente em primatas africanos. Com efeito, as evidências genéticas mostram que é muito semelhante a um vírus que infecta os chimpanzés, indicando que a sua origem, tal como a do SARS-COV-2, é uma zoonose, ou seja, uma doença infecciosa que foi transmitida de um animal para o ser humano.

A criação de um vírus como o VIH em laboratório é extremamente improvável devido às dificuldades que acarretaria. O VIH é um vírus muito complexo que ataca o sistema imunitário e pode ter efeitos devastadores na saúde humana e as consequências de criar um vírus com estas características em laboratório seriam imponderáveis até para os seus criadores. Além disso, a estrutura e as características do vírus sugerem que evoluiu ao longo de muitos anos e a sua grande diversidade em todo o mundo sugere que esta evolução ocorreu de forma natural e que o vírus se adaptou a diferentes populações humanas no planeta.

3. O homem nunca chegou à Lua

Outro dos temas mais recorrentes e que suscita mais paixões entre os fanáticos das teorias da conspiração é a chegada do homem à Lua. As evidências que desmontam esta teoria, porém, são numerosas e incontestáveis.

Para começar, a chegada à Lua ocorreu no âmbito da chamada Corrida Espacial, na qual os Estados Unidos da América e a União Soviética disputaram a posição de maior potência económica e militar do mundo. Foi uma autêntica guerra travada em diversas frentes, sobretudo, evidentemente, na propagandística. Se os EUA nunca tivessem chegado à Lua, seria de esperar que os soviéticos tivessem denunciado publicamente a façanha como uma fraude, algo que nunca aconteceu.

As mais de 8.000 fotografias das missões Apolo publicadas pela NASA devem ser um argumento mais do que fiável da chegada do homem à Lua. 
NASA

As mais de 8.000 fotografias das missões Apolo publicadas pela NASA devem ser um argumento mais do que fiável da chegada do homem à Lua. 

Para além da simples lógica, existem outras provas mais palpáveis. O homem não foi à Lua apenas uma vez, mas várias, e todas as missões colheram amostras. Os argumentos contra estas provas vão desde afirmar que são simples rochas terrestres, algo fácil de desmentir através de simples datação das rochas lunares, pois como a Lua deixou de ser geologicamente activa há milhões de anos, qualquer rocha dela trazida, por mais jovem que seja, será muito mais antiga do que a rocha mais antiga do nosso planeta – e é, de facto, esse o caso.

Quando se trata de provas, uma imagem vale mais do que mil palavras. Portanto, as mais de 8.000 fotografias das missões Apolo publicadas pela NASA devem ser um argumento mais do que fiável da chegada do homem à Lua. Pode encontrar aqui todas as fotografias publicadas pela NASA, captadas por todas as missões Apolo que viajaram pelo espaço, ordenadas em álbuns por missão.

Para além das fotos, temos ainda os equipamentos científicos que permaneceram na Lua durante anos. Entre estes, destacam-se vários retrorreflectores laser (LRRR em inglês), que consistiam numa matriz de espelhos instalada num painel que os astronautas montaram, num determinado ângulo, sobre a superfície lunar e apontaram para a Terra, a fim de medir a distância entre esta e o nosso planeta a partir de um raio laser instalado num telescópio. 

4. A teoria da Terra plana

Se a teoria de que o homem nunca chegou à Lua parece estrambólica, mais ainda é aquela que defende que a Terra é plana, sobretudo porque as primeiras provas da sua esfericidade foram apresentadas por Aristóteles no século IV a.C., quando a observou na sombra dos eclipses.

Também o “pai” da geografia Eratóstenes demostrou que a Terra é redonda ao comprovar que, na mesma altura do ano e em locais diferentes da Terra, a sombra projectada por duas colunas diferia em comprimento. Além disso, ele calculou a sua circunferência com uma exactidão extraordinária para a época. 

Outro dos argumentos que refuta a teoria da Terra plana é a curvatura da Terra, que pode ser observada directamente na linha do horizonte – algo que já os marinheiros de tempos idos constatavam ao ver que os barcos que se afastam no oceano desapareciam de vista mais cedo ou mais tarde. Do mesmo modo, quando um navio se aproximava do horizonte, via-se primeiro a parte superior do mastro e só depois o resto.

A repetida observação da Terra a partir do espaço, tanto através de imagens de satélite como de missões tripuladas também demonstrou claramente que a Terra é uma esfera. Por fim, temos a força da gravidade, a força que domina o nosso planeta e mantém a forma esférica da Terra ao atrair toda a matéria para o centro de gravidade da sua massa.

5. A 5G é perigosa para a saúde

Esta teoria é herdeira de uma outra que, há alguns anos, alegava que as antenas de telecomunicações móveis eram perigosas. Com efeito, a tecnologia sem fios é utilizada há décadas e foi submetida a estudos extensivos que concluíram ser segura para uso humano. A 5G é simplesmente a última geração de tecnologia sem fios e não há evidências que sugiram ser mais perigosa do que as tecnologias sem fios anteriores.

Além disso, a 5G usa ondas de rádio de alta frequência, que são ondas não-ionizantes, o que significa que não têm energia suficiente para ionizar os átomos do nosso organismo e causar lesões celulares. Os níveis de radiação emitidos pelas antenas 5G são muito baixos e encontram-se dentro dos limites estritos definidos pelas organizações saúde pública de todo o mundo, limites esses muito inferiores ao potencial limiar de risco de algumas radiações.

Mesmo assim, vários estudos científicos investigaram os possíveis efeitos para a saúde da exposição à radiação de tecnologias sem fios, incluindo a 5G, e nenhum deles encontrou provas de que cause lesões celulares, cancro ou qualquer outro problema de saúde.

Como tal, a maioria dos especialistas e organizações, como a Organização Mundial da Saúde e a Comissão Internacional de Protecção contra a Radiação Não-Ionizante, entre outras, concordam que a 5G é segura para uso humano e declararam que a exposição aos níveis de radiação das tecnologias sem fio é segura. 

6. Os movimentos anti-vacinas

 

Devido às suas consequências, esta é possivelmente uma das teorias da conspiração mais perigosas que existem. O movimento anti-vacinas baseia-se na crença de que as vacinas são perigosas e podem causar problemas de saúde, incluindo autismo e outros transtornos neurológicos.

Um dos mitos mais difundidos é precisamente que as vacinas provocam autismo. Esta ideia teve origem num estudo publicado em 1998 pelo doutor Andrew Wakefield e colegas seus na revista médica “The Lancet”, no qual afirmaram ter encontrado uma ligação entre a vacina tríplice viral e o autismo. Contudo, veio a descobrir-se mais tarde que o estudo era uma fraude e os resultados tinham sido manipulados. Wakefield perdeu a sua licença quando se demonstrou que o estudo fora encomendado e financiado por um grupo de influência que pretendia mover uma acção judicial contra alguns fabricantes de vacinas. Completamente desacreditado, o estudo foi retratado pela própria revista, uma das mais prestigiadas da sua área. Desde então, são várias as investigações que confirmam não existir qualquer relação entre a vacinação e o autismo. 

A experiência demonstrou que as vacinas são instrumentos altamente eficazes na prevenção de doenças graves (como o sarampo, a poliomielite e a varicela), muitas das quais, depois de terem causado milhões de mortes no passado, consideram-se agora completamente erradicadas.

O movimento anti-vacinas preocupa muitos profissionais e entidades da área da saúde pública, uma vez que a falta de vacinação já abriu várias janelas de oportunidade para o reaparecimento de algumas destas doenças.