O botulismo voltou a ser alvo de notícia, devido ao recente aumento de casos ocorrido em Espanha, associado ao consumo de tortilhas de batata embaladas do Grupo Palacios, que abastece também alguns operadores do mercado português.
A empresa retirou o produto dos supermercados voluntariamente enquanto aguarda mais informação sobre os casos existentes, alguns dos quais levaram os pacientes a procurar tratamento numa unidade de cuidados intensivos (UCI). Além disso, recomendou, através de um comunicado oficial, que “as pessoas que as adquiriram se abstenham de as consumir e as devolvam para serem reembolsadas.”
A Agência Espanhola de Segurança Alimentar e Nutrição (Aesan), alertou as Comunidades Autónomas e transmitiu-lhes toda a informação disponível para que tomem as devidas medidas de segurança.
Ainda assim, não existem, de momento, provas concretas que demonstrem que este produto foi o responsável pelo surto de botulismo, embora exista uma relação entre o seu consumo e os vários casos detectados recentemente.
Em Portugal, na sequência destes casos, por prevenção, a Direcção-Geral de Alimentação e Veterinária (DGAV) aconselhou os consumidores a não comerem tortilha de batata fresca pré-embalada comprada no Lidl (Chef Select), Minipreço (Dia) e Auchan antes da sua retirada do mercado.
UMA DOENÇA POUCO HABITUAL
As intoxicações alimentares por botulismo são graves, mas felizmente pouco frequentes, sendo causadas pela ingestão de produtos contaminados com uma bactéria denominada Clostridium botulinum.
Esta bactéria é termorresistente e desenvolve-se em ambientes pouco oxigenados, como os alimentos enfrascados ou enlatados, produzindo uma poderosa neurotoxina que ataca o sistema nervoso periférico e o sistema nervoso autónomo. Para que tal ocorra, o alimento tem de ter sido processado e conservado inadequadamente.
O principal perigo desta toxina é não poder ver-se, cheirar-se ou saborear-se, sendo por isso impossível saber se um alimento está infectado antes da sua ingestão.
Se não for tratado a tempo, o botulismo pode, no pior dos casos, causar a morte do indivíduo intoxicado. As autoridades sanitárias calculam que esta doença tenha um desfecho letal entre 5 e 10 por cento dos casos, uma percentagem bastante elevada em comparação com outras doenças graves.
QUAIS OS SINTOMAS DO BOTULISMO?
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a sintomatologia desta doença inclui:
- Fadiga e debilidade
- Vertigens, tonturas ou visão turva
- Secura na boca
- Dificuldade em engolir e/ou falar
- Vómitos, diarreia ou inflamação abdominal
- Dificuldades respiratórias
- Debilidade e/ou paralisia muscular
Estes sintomas costumam manifestar-se entre 12 e 36 horas após a ingestão de um alimento contaminado com a toxina produzida pela bactéria Clostridium botulinum. Para mitigá-los e reduzir a taxa de mortalidade, deve ser administrada uma antitoxina.
A CURIOSA UTILIZAÇÃO DESTA BACTÉRIA
A Clostridium botulinum é a mesma bactéria que produz a toxina botulínica de tipo A, que é utilizada no fabrico de um fármaco de uso médico: o botox.
Esta utilização inesperada deve-se à sua propriedade de paralisante muscular que, uma vez injectado em pontos faciais, consegue reduzir a contracção do músculo que causa o aparecimento de rugas de expressão.
Para este efeito, utilizam-se doses muito pequenas, cujos efeitos são imediatos duram entre quatro e seis meses.