Estes globos rosados semelhantes a ovos cozidos são estranhas eflorescências ao lado de outros organismos que se assemelham a ramos de flores amarelas. Este mundo paralelo, composto por cogumelos imperceptíveis, foi descoberto em pedaços de madeira morta no Parque Nacional da Floresta Negra na Alemanha.
“Quando encontrámos estes fungos com micélio, só conseguimos discernir uma penugem fina, pouco visível na madeira”, recorda o fotógrafo Oliver Meckes. Graças a um microscópio de varrimento electrónico, foi possível observá-los pormenorizadamente. Estes fungos da espécie Resinicium bicolor possuem dois tipos de cistídios facilmente identificáveis: um redondo e outro em forma de estrela”.
Os vigilantes da natureza ajudaram Oliver Meckes e Nicole Ottawa a identificarem os fungos, raízes e mixomicetos mais interessantes, facilitando a recolha de amostras de solo que foram mais tarde examinadas ao microscópio. “Estas criaturas são tão pequenas que nunca sabíamos o que esperar. Fomos constantemente surpreendidos”, conta o fotógrafo.
A maior surpresa foi a infinita quantidade de pequenos organismos que operam nesta floresta sem que nos apercebamos delas. “Pensamos que sabemos muito sobre o ciclo de vida das árvores, mas esta reportagem mostra a complexidade dos processos envolvidos. A maioria desenvolve-se a uma escala minúscula, com miríades de criaturas”, diz Oliver.
Outras pesquisas associadas, acompanhando o fluxo de carbono através das raízes das árvores, revelaram que a zona de influência de uma árvore ou de um aglomerado de árvores – a área à qual fornecem activamente micróbios e outros organismos minúsculos com moléculas ricas em carbono – se estende, em média, cerca de dez metros. Não será suficiente conservar manchas florestais em zonas de solo nu, mesmo que sejam manchas grandes. Fora de uma zona de dez metros em redor destas ilhas vegetais, as populações microbianas sofrem. A retenção dispersa é melhor para a saúde do solo, diz a especialista, porque tipicamente preserva uma árvore a cada 14 a 16 metros, o que permite a sobreposição das suas raízes e respectivas zonas de influência, fornecendo carbono aos micróbios que vivem no solo de toda a floresta.
A retenção dispersa e outros métodos de abate selectivo estão a tornar-se mais comuns em algumas regiões do mundo, embora o corte raso continue a ser generalizadamente praticado por ser mais eficiente, menos dispendiosa e exigir menos maquinaria complicada. A retenção agregada costuma ser favorecida em detrimento da retenção dispersa por motivos semelhantes.
“Precisamos de reconsiderar as práticas de silvicultura”, diz Petr Baldrian, do Instituto de Microbiologia da Academia Checa das Ciências. “O corte raso é económico, mas tem custos elevados para o solo. Precisamos de encontrar um equilíbrio entre as necessidades da indústria e as necessidades da floresta.”
Ao reflectir sobre o futuro das florestas do planeta, Sue Grayston mostra-se entusiasmada e preocupada: entusiasmada com o mistério de tudo o que permanece por descobrir, já que foi essencialmente por isso que escolheu estudar a vida microscópica desde o início. Em simultâneo, sente-se alarmada com o declínio constante das florestas em muitas regiões do mundo devido ao abate de árvores em excesso, ao mau ordenamento do território e ao stress causado pelas alterações climáticas.
Tendo em conta como os diferentes ecossistemas se sobrepõem e interligam e são tão fundamentais para a sobrevivência da vida complexa, os danos que infligimos às árvores e aos solos do planeta acabam por prejudicar-nos também a nós. “Estaríamos enterrados em lixo até ao joelho se não tivéssemos microrganismos no solo”, resume a investigadora. “Sem eles, a vida na Terra acabaria. Eles ficariam bem sem nós, mas nós não conseguiríamos muito sem eles.”
Oliver Meckes e Nicole Ottawa. Retrato: Eye of Science