Desde históricos presságios de desgraças a êxitos de bilheteira de Hollywood sobre salvar o planeta, os cometas e os asteróides são presenças importantes na ficção e no folclore. Existem boas razões para tal: uma destas grandes rochas ou bolas de gelo poderá um dia colidir com a Terra e mudar irreversivelmente o planeta. Segundo a crença generalizada, foi um impacto deste género, ocorrido há 66 milhões de anos, que matou os dinossauros.
No passado dia 25 de Março, um sábado, um asteróide passou junto à Terra. Devido ao seu tamanho, a NASA disse que o evento ocorria apenas uma vez numa década. Segundo a agência espacial, o asteróide 2023 DZ3 media entre cerca de 42 a 95 metros – o comprimento aproximado de quatro a oito autocarros. A EarthSky afirmou que o asteróide passaria entre a Terra e a Lua, o que significava que seria visível com um telescópio já na sexta-feira, parecendo uma “estrela deslocando-se lentamente”. Agora podemos dizer com certeza que o 2023 DZ3 passou pela Terra em segurança.
Aproveitamos este evento para lembrar o que são os asteróides – e quais as diferenças entre eles e os cometas? Ambos são vestígios de um processo iniciado há cerca de 4.600 milhões de anos depois de uma gigantesca nuvem de gás e poeira colapsar e condensar-se, formando o Sol. Os detritos remanescentes permaneceram na órbita do Sol e coalesceram, formando planetas, luas e outros objectos, como asteróides e cometas. Fique a saber as diferenças entre eles, a sua origem e se representam uma ameaça séria para a Terra.
O que são asteróides e o cinturão de asteróides?
Os asteróides são essencialmente pedaços de rocha que podem ter desde poucos metros a centenas de quilómetros de diâmetro. A NASA identificou mais de um milhão de asteróides e mais de 150 deles têm as suas próprias luas. Em 2022, alguns astrónomos publicaram provas de que o asteróide Elektra tem até três pedaços de rocha na sua órbita – sendo o primeiro asteróide quádruplo conhecido.
Os cientistas têm encontrado provas da presença de cinturas de asteróides em redor de outras estrelas, como se vê nesta ilustração.
Durante muitos anos, os astrónomos consideraram Ceres o maior asteróide, com cerca de 950 quilómetros de diâmetro. Em 2006, porém, a União Astronómica Internacional reclassificou Ceres como planeta anão – e Vesta tornou-se o maior asteróide, com 530 quilómetros de diâmetro. No entanto, esta alteração continua a ser contestada por alguns astrónomos, sendo que o Directório da Nomenclatura Planetária do Serviço Geológico dos Estados Unidos da América define Ceres simultaneamente como asteróide e planeta anão.
Os asteróides de pequena dimensão chamam-se meteoróides. Se entrarem na atmosfera da Terra, chamam-se meteoros ou estrelas cadentes – e, se um meteoro atingir o solo, transforma-se um meteorito.
Actualmente, a maioria dos asteróides do nosso sistema solar orbita o Sol numa região localizada entre Marte e Júpiter chamada cinturão de asteróides. Muitos astrónomos crêem que o cinturão está repleto de matéria-prima primordial que nunca se aglomerou num planeta devido à atracção gravítica de Júpiter. Outros teorizam que o cinturão pode ser um “campo de refugiados cósmico” para vestígios de planetas que se formaram noutros pontos do sistema solar.
O que são os cometas?
Os cometas são bolas de gelo e rocha cujas caudas brilhantes podem, por vezes, ser vistas a partir da Terra enquanto se deslocam pelo céu nocturno. As caudas surgem sempre que as órbitas dos cometas os aproximam do Sol, fazendo com que os objectos gelados aqueçam, expelindo um rasto de gás e poeira. O Sol ilumina a cauda, dando-lhe um brilho majestoso.
O cometa Hyakutake no céu nocturno. Um dos cometas mais brilhantes observados no século XX, o Hyakutake passou a 15 milhões de quilómetros da Terra no dia 25 de Março de 1996. É um cometa de longo período: apareceu pela última vez há pelo menos 10.000 anos e a sua próxima visita será daqui a cerca de 20.000 anos. Fotografia de Jerry Lodriguss/Science Photo Library.
Comparados com os asteróides, os cometas tendem a ter órbitas mais elípticas, com formatos ovais. Também contêm mais compostos químicos que se vaporizam quando aquecidos, como água. E, quando observados através de um telescópio, os cometas parecem mais difusos do que os asteróides.
Embora existam possivelmente biliões de cometas na região exterior do sistema solar, só vemos cometas brilhantes no céu nocturno da Terra cerca de uma vez em cada década. Dividem-se em dois tipos: cometas periódicos e cometas de longo período.
Os cometas periódicos demoram menos de 200 anos a orbitar o Sol e muitos deles vêm do cinturão de Kuiper - um anel de corpos gelados que se encontra para lá da órbita de Neptuno. O mais famoso é o cometa Halley, que aparece a cada 75 a 76 anos.
Pensa-se que a maioria dos cometas de longo período venha da Nuvem de Oort, uma colecção de objectos que teoricamente se encontra para lá do sistema solar exterior. Segundo a NASA, estes cometas podem demorar milhares ou até milhões de anos a orbitar o Sol. O seu aparecimento no céu nocturno é muito mais difícil de prever porque existem poucos registos do seu aparecimento no passado.
Os asteróides e os cometas representam uma ameaça para a Terra?
Atracção gravitacional, colisões orbitais e abanões espaciais perturbam ocasionalmente asteróides ou cometas, colocando-os em rotas transviadas – algumas passando suficientemente perto da Terra para representarem um risco de impacto. Felizmente, a maior parte dos objectos são demasiado pequenos para causar danos. Em vez disso, ardem na atmosfera e mostram-se como estrelas cadentes.
Em 2022, a NASA lançou uma nave espacial contra o asteróide Dimorphos, uma pequena lua de um asteróide maior chamado Didymos, para tentar desviá-lo da sua órbita. A nave espacial captou esta imagem do Dimorphos 11 segundos antes do impacto – foi um enorme sucesso. Fotografia de NASA/Johns Hopkins APL.
Os astrónomos est��o constantemente à procura de corpos de maiores dimensões que possam ter trajectórias mais catastróficas. O asteróide com mais probabilidades de chocar com a Terra nos próximos 300 anos chama-se Bennu, uma rocha com cerca de 0,5 quilómetros de diâmetro. No entanto, as probabilidades de colidir com a Terra nessa altura são pequenas – apenas 1 em 1.750 — e as datas mais prováveis para um impacto não seriam antes de finais do século XXII ou início do XXIII.
A Cratera do Meteoro, também conhecida como Cratera de Barringer, foi formada há cerca de 50.000 anos, quando um meteorito com aproximadamente 45 metros caiu no deserto do Arizona, a uma velocidade estimada de 4.184 km/h. A colisão criou uma cratera com aproximadamente 1.200 metros de diâmetro. Fotografia de Francois Gohier, Gamma-Rapho/Getty Images.
Entretanto, a NASA está a elaborar um plano para desviar asteróides assassinos. Em 2022, a agência lançou uma nave especial contra um asteróide com cerca de 150 metros de diâmetro. O teste foi um sucesso, desviando significativamente o asteróide da sua trajectória e desfazendo parte da sua superfície rochosa, criando um rasto de detritos. Embora a técnica só funcione em situações específicas, é reconfortante saber que podemos não ter o mesmo destino dos dinossauros.