Às vezes, os nossos céus estão cheios de objectos grandes como o Sol, a Lua, os planetas e as estrelas. No entanto, a verdade é que no nosso Sistema Solar predominam os corpos mais pequenos. Cometas e asteróides superam em grande número os seus irmãos maiores. Gravada nesses pedaços de rocha e gelo, sobrevive uma crónica do Sistema Solar.
Embora menos constantes, os cometas e os asteróides são muito mais numerosos do que os planetas. O seu aparecimento no céu pode ser um espectáculo impressionante e a sua interacção com o nosso planeta pode ser tão devastadora como essencial para a vida. Além disso, começamos agora a perceber que esses pequenos objectos não são exclusivos da nossa envolvente. Os astrónomos descobriram provas de colisões cometárias e cinturas de asteróides em sistemas exoplanetários longínquos.
OS ASTERÓIDES
Entre as órbitas de Marte e Júpiter existe um espaço povoado por corpos rochosos. Com formas que fazem lembrar uma batata ou outro tubérculo, estas rochas espaciais foram inicialmente confundidas com estrelas, o que lhes granjeou o nome de “asteróides”, do grego aster (“estrela”) e oide (“parecido com”).
Esta secção do espaço é conhecida como cintura de asteróides, pois não é por acaso que é povoado por mais de um milhão destes corpos celestes. Com dimensões que variam entre um metro e mais de 480 quilómetros, há asteróides com todas as formas, tamanhos e cores imagináveis. Alguns são densos e constituídos essencialmente por ferro. Outros são mais porosos, contendo quantidades significativas de água e até têm as suas próprias luas.
Os cientistas têm encontrado provas da presença de cinturas de asteróides em redor de outras estrelas, como se vê nesta ilustração.
No total, foram catalogados mais de 150 mil asteróides. Muitos milhares têm nome próprio, que habitualmente alude aos artistas e músicos preferidos dos seus descobridores ou de familiares destes.
PISTAS DO PASSADO
Estes fragmentos de rocha nasceram há 4.600 milhões de anos, juntamente com o resto do Sistema Solar. Aglomerados nos 165 quilómetros de largura da cintura devido à gravidade de Júpiter, os asteróides são, no essencial, uma colecção de peças planetárias não utilizadas. A mesma gravidade que os levou até onde hoje se encontram impediu que se unissem para formar planetas. Por conseguinte, têm a composição química do Sistema Solar recém-nascido.
É por esse motivo que os cientistas consideram os asteróides uma espécie de pistas deixadas no local do crime: a sua composição e organização são úteis para reconstituir as condições em que se formaram os planetas e a migração destes nos primeiros tempos do Sistema Solar.
Uma dessas pistas é fornecida pela estrutura da própria cintura, que se divide em duas zonas bem diferentes: a cintura interna, dominada por asteróides de composição maioritariamente metálica, e a cintura externa, onde imperam os asteróides ricos em carbono. Outra pista provém das múltiplas crateras que crivam os mundos do Sistema Solar. A presença destas crateras sugere que, quando o Sistema Solar tinha 500 mil a 1 milhão de anos, aproximadamente, uma reordenação cataclísmica dos planetas gigantes lançou enormes quantidades de asteróides por todo o lado que colidiram com luas e planetas, como numa mesa de bilhar.
Quando a situação acalmou, a cintura de asteróides estruturara-se em duas zonas e os quatro planetas gigantes ocuparam as suas órbitas actuais.
O cone de luz visível nesta imagem é poeira zodiacal, partículas formadas pela colisão de inúmeros asteróides.
CERES E VESTA
O primeiro asteróide identificado foi Ceres, em 1801. Com quase 950 quilómetros de diâmetro, foi desde então reclassificado como planeta-anão. Esférico e repleto de crateras, é de longe o maior objecto da cintura de asteróides. Também se destaca por ser surpreendentemente quente e possuir água em abundância. No início de 2014, os cientistas observaram emissões de vapor de água, o que sugere que Ceres contém um oceano congelado sob a sua superfície. É fácil localizá-lo com um pequeno telescópio.
Parecidos com estrelas. No dia 1 de Janeiro de 1801, o monge italiano Giuseppe Piazzi descobriu Ceres (em cima). Andava já há algum tempo à procura de um planeta entre Marte e Júpiter. Porém, encontrou algo mais parecido com uma estrela, mas em movimento. Cunhou-se o termo asteróide: em grego, aster significa estrela e oide “parecido com”.
O asteróide Vesta orbita muito mais perto do Sol do que Ceres e é mais fácil de identificar, apesar de mais pequeno. Com 525 quilómetros de diâmetro, é mais uma mini-semente planetária do que um planeta-anão. Além disso, não é totalmente esférico. Em 2011, quando a sonda Dawn se aproximou de Vesta para observá-lo de perto, reparou numa série de estrias existentes em redor do seu equador, interpretadas pelos cientistas como deformações resultantes de gigantescos impactes contra o pólo sul.
METEORÓIDES E CHUVAS DE METEOROS
Numa típica noite escura, costumam avistar-se cerca de cinco estrelas cadentes por hora. Não são literalmente estrelas, mas meteoróides: fragmentos de detritos e poeira interestelar ou pedaços de asteróides.
Por regra, os meteoróides desintegram-se ao atravessarem a atmosfera terrestre, deixando atrás de si um rasto flamejante quando atravessam o céu. De tempos a tempos, porém, um objecto pequeno chega a tocar no solo: falamos então em meteoritos. Na Terra, foram recuperados fragmentos de vários asteróides (Vesta, em particular, está bem representado), assim como estilhas da Lua e de Marte.
Na enorme maioria dos casos, os meteoritos são pequenos e inofensivos. Infelizmente, as excepções podem ser catastróficas. Se um fragmento significativo de um cometa ou de um asteróide colidir com a Terra, o impacte pode devastar o planeta inteiro ou desencadear um episódio de extinção em massa. Há cerca de 65 milhões de anos, ocorreu uma colisão com essas características que, provavelmente, causou a extinção dos dinossauros.
Há décadas que os cientistas vigiam o céu em busca de objectos com altas probabilidades de colidir contra a Terra. Alguns deles, como o meteoróide que explodiu no céu sobre Chelyabinsk, na Rússia, em 2013, escapam a essa vigilância, mas cerca de 30 vezes por ano ocorrem chuvas de meteoros previsíveis, sempre que a Terra atravessa zonas juncadas de detritos. Recebendo o nome da constelação de onde parecem emanar, estas chuvas de meteoros podem oferecer horas de espectaculares observações astronómicas, sempre que alguém esteja disposto a procurar um lugar suficientemente escuro e a suportar uma noite longa e fria.
OS COMETAS
Durante milénios, os cometas foram considerados presságios de desgraças.
A sua deslocação aparentemente imprevisível e a sua cauda longa e ondulante eram motivo de alarme para as culturas da Antiguidade. Os astrónomos chineses chamavam-lhes “estrelas-vassoura” e atribuíam-lhes toda a sorte de desgraças. Os astrónomos ocidentais também culpavam os cometas por tudo o que se possa imaginar, desde terramotos à peste negra.
O cometa Halley passa perto da Terra com intervalos de 75 a 76 anos. A sua próxima visita ocorrerá em meados de 2061.
Em finais do século XVII, o astrónomo britânico Edmond Halley deduziu que os cometas não eram mais do que um tipo de viajante interplanetário. Combinando essa observação com os seus cálculos matemáticos, previu a passagem do cometa que hoje conhecemos pelo seu nome. Os cálculos de Halley libertaram estes visitantes da sua carga terrível e permitiram-lhes ocupar o lugar que merecem na lista de habitantes do Sistema Solar.
BOLAS DE NEVE CÓSMICAS
Sabemos hoje que os cometas são, no essencial, bolas de neve cósmicas: pequenos corpos de gelo, gás e rocha que podem medir desde poucos metros até dezenas de quilómetros de diâmetro. Antigos e congelados, os cometas nasceram com o Sistema Solar e foram arrastados até reservatórios pela atracção gravitacional de Júpiter e Saturno. O habitual é permanecerem nesses reservatórios, mas, de vez em quando, um deles precipita-se em direcção ao Sistema Solar interior.
À medida que se aproximam do Sol e aquecem, os cometas começam a deixar um rasto poeirento de gás e vapor de água. Na actualidade, qualquer astrónomo com o olhar aguçado consegue identificar um cometa praticamente no instante do avistamento. Mais difícil é prever quais proporcionarão um bom espectáculo celeste ao passarem vertiginosamente perto da Terra – o que não significa que, ocasionalmente, não usufruamos da visita de um belo cometa de trajectória fiável. À vista desarmada, é possível contemplar, em média, um cometa por ano.
NUVENS REPLETAS DE COMETAS
Alguns cometas, como o Encke, têm um período orbital curto, ou seja, atravessam o Sistema Solar com intervalos de poucos anos. Outros, como o Halley, provêm de regiões muito mais distantes e seguem órbitas muito mais amplas, o que se traduz em visitas menos frequentes e mais espaçadas. No entanto, todos têm origem em reservatórios muito distantes do Sol.
Um desses reservatórios localiza-se nas proximidades de Júpiter, lar de um grupo de cometas conhecidos como a família de cometas joviana: o cometa Shoemaker-Lexy 9, que colidiu com Júpiter em 1994, era membro dessa família.
Outro desses reservatórios encontra-se um pouco mais longe, na cintura de Kuiper, uma grande faixa de mundos gelados transneptunianos. Não devemos ainda esquecer a nuvem de Oort que, segundo as estimativas astronómicas, acolhe biliões de cometas. Esta nuvem esférica é demasiado difusa e ténue para ser avistada directamente, mas os astrónomos inferiram a sua presença através de uma série de observações. Recentemente, o cometa Siding Spring, proveniente da nuvem de Oort, passou perto de Marte, deixando no seu encalço uma nuvem de poeira e partículas carregadas, obrigando a que as trajectórias das sondas que orbitam o Planeta Vermelho fossem alteradas para não serem afectadas.
Ilustração do possível aspecto da nuvem de Oort, uma região repleta de cometas.
EXPLORAÇÃO
Em 2014, a sonda Rosetta da Agência Espacial Europeia começou a girar em torno do cometa 67P/Churiumov-Gerasimenko, da cintura de Kuiper, e revelou que o seu núcleo bilobulado possui uma morfologia curiosa que faz lembrar um pato. Em Novembro de 2014, a Rosetta largou o módulo Philae sobre a superfície do cometa. Philae saltitou algumas vezes e supõe-se que terá pousado à sombra de uma enorme escarpa que o impediu de recarregar as suas baterias solares. O módulo voltou a emitir sinais em Junho de 2015, o que indica que as baterias se reactivaram quando o cometa se aproximou mais do Sol.