Um líquido refrigerante impede os motores de sobreaquecerem, mas também pode ser encontrado no gelado. Um mineral familiar presente no detergente para a roupa teve outrora de ser transportado por caravanas de 20 mulas numa extenuante viagem de 265 quilómetros através de um dos locais mais quentes do planeta. Um essencial da cozinha permitiu às civilizações antigas – desde o Egipto a Machu Picchu, no Peru — criar formas em moldes fechados, produzindo não só ferramentas complexas e armas, como obras de arte intemporais que vieram a ser descobertas pelos arqueólogos. Consegue adivinhar a que produtos do dia-a-dia estas histórias estão associadas? Seguem-se as respostas para estas questões e outras mais:

1. A história do anticongelante desde a dinamite ao gelado

O etilenoglicol, ingrediente que conhecemos como anticongelante, foi originalmente utilizado na dinamite, permitindo que o explosivo fosse fabricado em ambientes frescos e seguros.

Os primeiros motores automóveis usavam simplesmente água como refrigerante e funcionava magnificamente – no Verão. No Inverno, a água não se limita a congelar – expande-se à medida que congela, por isso não era prática num motor fechado.

Os fabricantes de automóveis começaram a acrescentar metanol, um álcool, à água. O metanol baixava o ponto de congelação do refrigerante, mas a sua tendência para se evaporar e corroer o motor fazia com que também não fosse o ideal. Em seguida, os fabricantes viraram-se para o etilenoglicol, um composto orgânico sintetizado em 1856 pelo químico francês Charles-Adolph Wurtz. Acrescentado à água, não só baixava o ponto de congelação como aumentava o ponto de ebulição, funcionando como anticongelante e inibindo o sobreaquecimento. Os fabricantes automóveis adoptaram o composto em 1926 e continua a ser usado ainda hoje.

O etilenoglicol é tão tóxico como útil. O etileno é uma hormona vegetal natural e o etilenoglicol tem um sabor doce e frutado que pode atrair animais de estimação e crianças pequenas. Por essa razão, alguns fabricantes acrescentam um aroma amargo ou fluido, enquanto outros estão a optar por outro químico: o propilenoglicol.

Este tipo de anticongelante é tão benigno que é utilizado na pasta de dentes e no gelado.

 

2. O bórax existe na lavandaria e na grande Muralha da China

O bórax, também é conhecido como borato de sódio, ou tincal, uma palavra sânscrita para designar o mineral macio e incolor que é utilizado e comercializado há séculos. Inicialmente foi extraído de lagos salgados em locais como o Tibete e Caxemira, sendo mais tarde comercializado ao longo da Rota da Seda, a partir do século IX.

Os ourives árabes que trabalhavam o ouro e a prata utilizavam o bórax para separar e purificar os metais. Ceramistas chineses do século X usavam-no para aumentar a durabilidade e o brilho das suas vasilhas – tal como os ceramistas contemporâneos.

Quando chegou à Europa na Idade Média, o bórax foi utilizado no processo de soldadura para limpar peças metálicas destinadas a fundição. Contudo, o bórax era caro – uma importação exótica. Foram descobertos depósitos em Itália em 1776, mas os EUA teriam de esperar mais cem anos. Foi então que Francis Marion Smith — “o Rei do Bórax” — desenterrou o mineral nas planícies de sal de Death Valley, no estado da Califórnia, e fundou a empresa Harmony Borax Works. As famosas caravanas de 20 mulas de Smith transportavam o mineral desde Furnace Creek até à via férrea junto a Mojave, uma extenuante viagem de 265 quilómetros através de um dos locais mais quentes do planeta. As mulas fizeram estas viagens durante apenas cerca de seis anos, antes de serem suplantadas pelos caminhos-de-ferro, mas o marketing do “20-Mule-Team Borax Soap” transformou as viagens em símbolos do Antigo Oeste.

Cerca de 50 por cento do bórax mundial vem agora do Sul da Califórnia. Os antigos poderiam utilizá-lo no fabrico de peças metálicas, mas o seu valor como amaciador natural da água faz com que hoje seja mais comummente encontrado no detergente para a roupa

Algumas vasilhas de barro descobertas num sítio do século XI junto à grande Muralha da China tinham um revestimento vidrado verde feito a partir de bórax.

Os velhos vagões e o tanque históricos permanecem no Death Valley
SHUTTERSTOCK / Bill Florence

Os velhos vagões e o tanque históricos permanecem no Death Valley (Vale da Morte, em português), no estado da Califórnia, como um símbolo das antigas operações de extracção de bórax.

 

3. O óleo de cedro pode repelir e regenerar

Se já meteu o nariz dentro de um baú de cedro, lembra-se certamente do aroma quente e reconfortante a madeira. No entanto, o óleo existente no cedro faz mais do que cheirar bem: desinfecta, conserva, suaviza e mantém os insectos à distância.

As civilizações antigas conheciam o poder do óleo de cedro para limpar e regenerar. Para os sumérios, o cedro era a árvore da vida. Usavam o seu óleo para fins medicinais e misturavam-no com adictivos como o cobalto e o cobre para fabricar tintas de cores vivas. Os egípcios utilizavam ocasionalmente óleo de cedro no processo de embalsamento e os gregos antigos descobriram que era bom para manter as infecções à distância. Na Idade Média, algumas pessoas acreditavam que queimar madeira de cedro e aplicar o seu óleo poderia livrar uma casa da peste (embora os ratos pudessem não concordar). Nicholas Culpeper, um ervanário inglês do século XVII, reparou que a madeira e o óleo de cedro aliviavam tudo desde problemas cardíacos e falta de ar a dores de parto. Hoje em dia, o “óleo de cedro” comercial é frequentemente obtido através da destilação da madeira, folhas e outras partes de uma variedade de coníferas para além do cedro, como o zimbro e o cipreste, mas o resultado é semelhante. O óleo de cedro continua a encantar como repelente de insectos e é um dos aromas preferidos da aromaterapia.

Os nativos americanos utilizavam óleo cedro para curar feridas, relaxar músculos doridos, curar dores de cabeça e obstipação e até para remover verrugas.

4. O escândio abunda na Lua – e pode ser usado para iluminar um campo de basebol

O escândio, um metal prateado quase tão leve como o alumínio, mas com um ponto de fusão mais alto, foi descoberto pelo químico sueco Lars F. Nilson em 1879. Dez anos antes, o russo Dmitri Mendeleev, o pai da tabela periódica, previra que deveria existir um elemento entre o cálcio e o titânio, ao qual chamou ekaboron. Nilson provou que Mendeleev tinha razão, mas preferiu chamar-lhe scandium, em homenagem à região onde foi descoberto.

Nilson encontrou o escândio por acaso, enquanto estudava as chamadas terras-raras. A maioria destes metais não são raros, mas o escândio era uma excepção: é mais abundante na Lua do que na Terra. O escândio puro é criado nas fornaças cósmicas das supernovas, mas, no nosso planeta, só aparece em quantidades pequenas e misturado com outros elementos. O primeiro pedaço de 450 gramas (uma libra) só foi produzido em 1960. Uma das poucas minas de escândio do mundo situa-se na Rússia, onde o mineral de baixa densidade foi misturado com alumínio para criar uma liga para fabricar aviões militares.

A produção de escândio é muito mais cara do que a de alumínio, por isso o mineral não é amplamente utilizado. No entanto, marca presença em algumas bicicletas de quadro leve e em bastões de lacrosse. E os bastões de basebol feitos em liga de escândio criam um “efeito trampolim” que os ajuda a impulsionar as bolas com a maior eficiência. O metal também é utilizado em componentes de produtos aeroespaciais.

O iodeto de escândio é usado em lâmpadas de vapor de mercúrio para fabricar as luminárias brilhantes como o Sol são usadas pelos estúdios de Hollywood e pelos estádios desportivos.

Escândio
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O escândio é um metal raro utilizado na indústria para melhorar o alumínio. 

5. Folha de estanho: de restos a obras de arte intemporais

Usámos folha de estanho para embrulhar restos durante tanto tempo que algumas pessoas de expressão inglesa ainda chamam tinfoil ao papel de alumínio.

Embora o estanho não tenha sido merecido o reconhecimento do bronze na designação das eras da humanidade, ajudou a dar origem à Idade do Bronze, quando as ferramentas em bronze começaram a aparecer no registo histórico, por volta de 3000 a.C. Os primeiros fabricantes de ferramentas descobriram, talvez por acidente, que acrescentar estanho ao cobre baixava o ponto de fusão e tornava o resultado mais resistente: bronze. Do Egipto a Machu Picchu, no Peru, foi o estanho que permitiu aos povos ancestrais criar formas em moldes fechados, produzindo não só ferramentas e armas complexas como as obras de arte intemporais que foram descobertas pelos arqueólogos. Os gregos antigos viajavam pelo mar em busca de estanho, obtendo-o em minas de Espanha e das Ilhas Britânicas e comercializando-o no mundo antigo.

O estanho foi utilizado em ligas com muitos outros metais incluindo aço, antimónio e prata. Até deu o seu nome a algumas das coisas que ajudou a criar. As latas de aço revestidas a estranho das conservas, foram patenteadas em Inglaterra como “tins” em 1810. Na Austrália, ainda há quem chame tinnies às latas de cerveja. O assobio de estanho recebeu este nome porque foi originalmente produzido em massa com aço banhado a estanho. O estanho é funcional, mas também pode ser decorativo. O estanho perfurado foi, outrora, uma forma popular de permitir a circulação do ar nos recipientes de alimentos e ainda enfeita muitas mesas actualmente.

Este conteúdo foi recolhido e adaptado de "An Uncommon History of Common Things Volume 2". O livro da National Geographic explora a origem de centenas de objectos que povoam os nossos dias e a nossa imaginação e as histórias de como se tornaram tão importantes nas nossas vidas.