Uma pesquisa no Google devolve mais de 55 milhões de resultados para a questão “como viver com”. Se usar “como viver com as alterações climáticas”, os resultados caem para uns 44 mil.
Ainda assim, parece um volume razoável de ideias e sugestões. Entre elas, encontraremos seguramente algumas que nos podem ajudar a adaptar-nos ao que não conseguimos corrigir. Na escola primária, aprendemos qualquer actividade ao fazê-la. No caso das alterações climáticas, o período de aprendizagem começou e o desafio que enfrentamos é assustador: vagas de calor, períodos de seca, condições climáticas extremas, escassez de água, colheitas agrícolas incertas e novas ameaças para a saúde. Com tecnologia e engenho, encontraremos formas de gerir a nova realidade.
RISCOS SANITÁRIOS
As alterações climáticas não afectam apenas a saúde do planeta, pois têm também implicações para os seres humanos. Os efeitos variam de acordo com a idade, género, geografia e estatuto socioeconómico. Um estudo internacional recente publicado na revista “Lancet” defende que muito mais pessoas estarão expostas a eventos climáticos extremos ao longo do próximo século do que se pensava anteriormente. Esse “risco potencialmente catastrófico para a saúde humana” poderá desfazer os avanços de saúde pública dos últimos 50 anos a nível mundial.
Para além do impacte directo das condições meteorológicas extremas, as alterações climáticas podem afectar o bem-estar de formas menos directas, como a exposição à poluição atmosférica, a doenças transmitidas através da água, fome ou subnutrição. Novos passos estão em curso.
No Benin, onde ocorrem frequentemente inundações, as apólices de seguros já abrangem agora despesas com a malária e infecções intestinais, que tendem a aumentar à medida que o planeta aquece e o nível do mar sobe. Nas Filipinas, país de clima quente e húmido, programas específicos dedicados aos bairros desfavorecidos ajudam a gerir riscos relacionados com o clima, providenciando pequenos empréstimos monetários, educação para a higiene e controlo de resíduos e água. Enquanto isso, especialistas de saúde pública em todo o mundo pedem medidas de grande alcance para ajudar as populações a manterem-se saudáveis apesar das inundações, das secas e das vagas de calor, solicitando acesso mais amplo à água potável, a sistemas de saneamento, a vacinação e a cuidados de saúde infantil.
OUTROS RISCOS
- A poluição com origem em fogos florestais pode dar origem a problemas respiratórios. O ozono também pode ser mortal e foi apontado como causa associada a metade dos óbitos registados durante a vaga de calor de 2003.
- Cortes de energia em condições meteorológicas extremas podem paralisar hospitais e sistemas de transporte quando mais precisamos deles.
- Quebras na produção agrícola podem levar à subnutrição, fome e preços mais elevados dos alimentos. Mais CO2 no ar poderá tornar culturas básicas, como a cevada e a soja, menos nutritivas.
- Doenças profissionais como o risco de insolação, irão aumentar, especialmente entre agricultores e operários da construção civil. O horário de trabalho poderá mudar para o amanhecer e o entardecer, períodos do dia em que há mais insectos portadores de doenças.
- Dias mais quentes, mais chuva, e níveis de humidade mais altos produzirão mais carraças, que espalham doenças infecciosas como a doença de Lyme.
- Refugiados climáticos são pessoas forçadas a mudarem-se devido a condições climáticas extremas ou à subida do nível do mar. Enfrentam mais riscos de saúde, como a subnutrição, doenças associadas à água, sarampo e infecções respiratórias.
- A má qualidade atmosférica pode interferir com as actividades desportivas ao ar livre, contrariando a sua eficácia no combate à diabetes e à obesidade.
- A degradação dos solos, a escassez de água potável, as pressões demográficas e outros problemas relacionados com as alterações climáticas são causas potenciais para conflitos.
- A subida do nível do mar pode ameaçar as reservas de água potável das regiões de baixa altitude. A maior frequência de tempestades severas pode fazer transbordar os sistemas de esgotos das cidades.
- Traumas com origem em inundações, secas e vagas de calor podem dar origem a problemas de saúde mental como a ansiedade, a depressão e o suicídio.
- A subida do nível do mar pode ameaçar as reservas de água potável das regiões de baixa altitude. A maior frequência de tempestades severas pode fazer transbordar os sistemas de esgotos das cidades.
- Mais calor pode significar uma estação de alergias mais longa e mais doenças respiratórias. Mais chuva faz aumentar o bolor, os fungos e os poluentes do ar nas habitações.
- A febre de dengue transmitida por mosquitos aumentou 30 vezes nos últimos 50 anos. Três quartos dos indivíduos expostos à doença vivem na região da Ásia-Pacífico.
- Pessoas mais idosas e crianças pobres, especialmente aquelas já atingidas por malária, subnutrição e diarreia, tendem a ser mais vulneráveis a doenças relacionadas com o calor.
- Seca e escassez crónica de água atingem áreas rurais e 150 milhões de habitantes urbanos. Se as cidades não se adaptarem, o número poderá chegar a mil milhões até 2050.
- Fenómenos climáticos extremos afectam normalmente mais pessoas idosas e sedentárias do que pessoas jovens com maior mobilidade.