Uma bebida vegetal, tem origens diversas como aveia, soja, cânhamo e muitas outras. Se quiser largar os lacticínios, as opções podem deixá-lo confuso. Segue-se aquilo que precisa de saber sobre os efeitos ambientais de cada bebida.
Na próxima vez que estiver no supermercado e for buscar um pacote de leite gordo, talvez possa pensar, para bem do ambiente, em mudar de atitude e preferir uma bebida de soja ou aveia ou até, se conseguir encontrar, de cânhamo.
A produção de lacticínios é um pesadelo ambiental. As vacas são dos maiores contribuintes agrícolas para as alterações climáticas e a poluição da água. Todos os anos, uma vaca normal arrota cerca de 100 kg de metano, um gás com efeito de estufa que, embora com uma vida muito mais curta do que o dióxido de carbono, é cerca de 28 vezes mais potente no aquecimento da atmosfera. Além disso, quando se descompõe, o estrume liberta ainda mais metano, bem como poluentes como a amónia. Os lacticínios também precisam de 12 vezes mais terra por unidade produzida do que a bebida de soja e consomem 23 vezes mais água doce do que a soja. Segundo a WWF, são necessários 545 litros de água para produzir 3,8 litros de leite nos E.U.A., quase toda utilizada no cultivo de produtos para ração de gado.
É verdade que milhões de pessoas em todo o mundo gostam de lacticínios. O leite é uma fonte rica de proteína e as vacas são simpáticas. E, pelo menos nos Estados Unidos da América, a indústria de lacticínios diminuiu significativamente a sua pegada ambiental ao longo das últimas décadas, sobretudo reduzindo o número de vacas e aumentando, simultaneamente, o seu rendimento, entre outras medidas.
Felizmente, há cada vez mais bebidas vegetais. Segundo o relatório da Plant Based State of Industry, de 2021, redigido pelo Good Food Institute (GFI), as vendas de bebidas vegetais nos Estados Unidos da América aumentaram 4 por cento no último ano, para 2,6 milhões de dólares. E embora algumas dessas bebidas sejam melhores do que outras em termos de impacto ambiental, até aquelas que ocupam mais terra e consomem mais água têm um desempenho idêntico ou melhor do que o dos lacticínios, esclarece Priera Panescu, do GFI. “Em todos os aspetos, as bebidas vegetais são inegavelmente a escolha mais amiga do ambiente”, diz.
Descobrir a bebida mais amiga do ambiente não é fácil
As altas emissões de gases com efeito de estufa, juntamente com a ocupação de terra e o consumo de água fazem com que os lacticínios sejam uma das piores escolhas para os consumidores do ponto de vista ambiental. Embora diferentes alternativas à base de plantas tenham vantagens e desvantagens, todas exercem menos pressão no ambiente.
Lucas Petrin, NGM. Fonte: Joseph Poore and Thomas Nemecek, Science, Junho de 2018
Mas qual é menos nociva? De um ponto de vista estritamente ambiental, diferentes bebidas têm os seus próprios pontos fortes e pontos fracos. Vejamos.
Os principais concorrentes de bebida vegetal
Amêndoas
Prós: A alternativa mais popular ao leite, a bebida de amêndoa tem uma das contribuições de gases com efeito de estufa mais baixas por unidade de qualquer bebida vegetal. É mais baixa do que a da aveia, do arroz ou da soja, sobretudo porque os pomares de amendoeiras captam e armazenam o carbono acima e abaixo do solo, nos seus sistemas radiculares. Além disso, segundo um estudo de 2015, o uso de co-produtos de amêndoa, como a biomassa dos pomares, as cascas, como combustível e ração animal podem tornar as amêndoas neutras ou até negativas em carbono.
Contras: Cultivar amêndoas consome imensa água. Segundo o estudo, são necessários mais de 11 litros de água para cultivar apenas uma amêndoa da Califórnia. Além disso 80 por cento do fornecimento de amêndoas mundial é cultivado na Califórnia, onde a água é escassa e as secas se tornaram um modo de vida. Polonizar as amendoeiras também é cada vez mais difícil, sendo necessário um número estimado em 70 por cento de todas as abelhas comerciais dos Estados Unidos da América para esse efeito. E perante o número crescente de mortes de abelhas, pensa-se que o excesso de trabalho as torna mais suscetíveis à exposição a pesticidas e parasitas.
Coco
Prós: A quantidade de água utilizada na produção da bebida de coco compara-se de modo extremamente favorável com qualquer outra opção. A contribuição de gases com efeito de estufa das plantações também é negligenciável, uma vez que os coqueiros armazenam o carbono, tal como todas as plantas.
Contras: Os cocos são, por vezes, cultivados como uma só cultura, designada monocultura, o que pode prejudicar a biodiversidade e a qualidade do solo. A crescente procura por cocos está alegadamente a causar a desflorestação de algumas regiões. Como os cocos são cultivados em regiões tropicais, sobretudo na Indonésia, a expedição de produtos à base de coco consome muitos combustíveis fósseis. Também há preocupações relacionadas com as condições de trabalho e até com o bem-estar animal na colheita dos cocos em algumas regiões. Verifique as etiquetas Fair Trade nos produtos à base de coco.
Aveia
Prós: A bebida de aveia marca pontos em todas as áreas. Um estudo (embora encomendado pela indústria) concluiu que, comparada com os lacticínios, é responsável por menos 80 por cento de emissões de gases com efeito de estufa, 80 por cento menos utilização do solo e consome menos 60 por cento de energia. Também consome aproximadamente 18 por cento da água doce exigida pelo arroz, 13 por cento das amêndoas e apenas 7,5 por cento dos lacticínios.
Contras: A maioria do cultivo de aveia é em monocultura de grande escala, embora a maior parte desta se destine a ração animal e não a bebidas vegetais. Um estudo do Environmental Working Group de 2018 descobriu o pesticida glifosato em todos os alimentos contendo aveia testados – resultado de os agricultores pulverizarem a aveia com Roundup antes da colheita. No entanto, a Oatly, a maior produtora de bebidas de aveia, assegura que o seu fornecedor não usa glifosato.
Arroz
Prós: A bebida de arroz ocupa menos terra do que a bebida de soja ou de amêndoa e muito menos do que os lacticínios.
Contras: A sua produção consome quase tanta água como a bebida de amêndoa e as suas emissões de gases com efeitos de estufa excedem todas menos as dos lacticínios, maioritariamente porque as bactérias que crescem nos arrozais emitem muito metano. Algumas bebidas de arroz também podem conter arsénico e os adubos utilizados para cultivar arroz podem poluir as vias aquáticas.
Soja
Prós: As emissões de gases com efeito de estufa da soja estão a nível das da amêndoa, mas esta não chega a consumir um décimo da água exigida pelas amêndoas. Dora Marinova, professora de sustentabilidade na Curtin University, no Oeste da Austrália, refere que “a soja tem sido chamada ‘planta miraculosa’ por conter todos os aminoácidos essenciais para os humanos e também por ajudar à fixação de azoto no solo”. Os feijões de soja, tal como outras leguminosas, absorvem o azoto da atmosfera e convertem-no em compostos que podem ser utilizados por formas de vida animais e vegetais.
Contras: O maior problema dos feijões de soja é, de longe, os seus requisitos de espaço, mais especificamente onde se localiza a terra onde são cultivados. A limpeza de terrenos para o cultivo de soja está a contribuir para a desflorestação da Amazónia. Um estudo concluiu que um litro de bebida de soja exige aproximadamente 259 hectares de terra.
No entanto, Panescu sublinha que “quando estamos a considerar a soja culpada da monocultura da desflorestação temos de nos lembrar que uma enorme parte dela se destina a ração animal e não à produção de bebida vegetal. Cerca de 14 calorias dadas às vacas produzem cerca de uma caloria de leite para consumo humano. Por isso em vez de as darmos à vaca, podemos usar essas calorias diretamente no consumo humano”, nas bebidas vegetais.
As novidades
Outras plantas podem oferecer ainda maiores benefícios. A bebida de avelã consome menos água do que a de amêndoa, pois estes frutos secos são cultivados em zonas com mais precipitação e são polinizados pelo vento e não por abelhas. A ervilhas também crescem em climas húmidos e, à semelhança da soja, fixam o azoto no solo. A bebida de ervilha, tal como a de soja, é rica em proteínas.
E depois temos o cânhamo. Os benefícios ambientais da bebida de cânhamo são tantos que Marinova e a sua colega Diana Bogueva dizem que vem mudar todo o negócio. O cânhamo consome mais água do que a soja, mas menos do que as amêndoas e os lacticínios. As suas raízes profundas melhoram a estrutura do solo e a planta cria sombra limitando o crescimento de ervas daninhas e prevenindo a necessidade de adubos. Além disso, as partes da planta não utilizadas no fabrico de bebida vegetal podem ser usadas de várias maneiras, desde fabrico de vestuário a papel ou alternativas ao plástico.
Qual é, então, a melhor?
A escolha acaba por ser sua, mas Panescu reforça: “se pudermos utilizar culturas ainda menos exigentes em termos de água, como a soja e a aveia, isso poderá ter benefícios ambientais mais positivos. Por isso, acho mesmo que a soja e a aveia se destacam do ponto de vista ambiental, bem como o cânhamo e outras escolhas que nos permitam valorizar a cultura inteira e reduzir significativamente o desperdício alimentar.
“As bebidas as vegetais são muito melhores do que o leite em todos os aspetos.”
Mas espere! Há mais
As escolhas não acabam necessariamente aqui. E se quiser os benefícios ambientais das bebidas vegetais, mas não quiser prescindir do sabor e valor nutricional de um lacticínio? Marinova diz que os investigadores estão a fazer progressos na produção de leite em laboratório. No entanto, diz que “para o leite produzido em laboratório ser verdadeiramente sustentável, com uma pegada de carbono reduzida, seria necessário que a sua produção utilizasse apenas fontes de energia renováveis e que a sua pegada de água diminuísse”.
Entretanto, uma empresa chamada Nobell Foods desenvolveu uma estirpe de feijões de soja capaz de produzir caseína, a principal proteína do leite de vaca. É possível que não tenhamos de fazer uma escolha difícil, diz Panescu.
“Se for bem-sucedida, poderemos desfrutar de bebidas vegetais exactamente com as mesmas propriedades nutricionais e textura que o leite de vaca”, afirma. “E eu gostaria mesmo de fazer parte de um mundo onde pudéssemos cultivar os produtos que adoramos de uma forma humana, através de culturas, e fazê-lo de uma forma que fosse saudável para o planeta e saudável para nós.”