No imaginário coletivo a imagem do naturalista pioneiro encaixa provavelmente na figura de Charles Darwin com uma barba branca abundante, mesmo tendo-a ele deixado crescer muitos anos após concluir a mítica viagem abordo do Beagle. Apesar da importância do trabalho deste, ele esteve longe de ser o único na sua época. O iluminismo criou as condições para que das longas viagens das potências que queriam dominar o mundo fizessem sistematicamente parte naturalistas. Estas não eram motivadas apenas pela curiosidade científica, mas também por questões absolutamente pragmáticas relacionadas com a procura de novos alimentos, medicamentos e recursos. Tem sido inclusivamente sugerido que o próprio Iluminista terá pelo menos em parte sido possível graças à chegada de estimulantes como a cafeína à Europa. Do equipamento destes homens faziam sempre parte as armas de fogo, para capturar animais e as prensas para preservar espécimes de plantas. Na maioria dos casos, os métodos de recolha de informação de espécimes de animais mudaram bastante, mas os botânicos continuam no essencial a utilizar e a dar continuidade aos herbários que em muitos casos começaram a ser organizados nesta época.

O registo mundial de herbários lista atualmente cerca de três mil coleções organizadas que, no seu conjunto incluem cerca de 380 milhões de exemplares de plantas. Muitas destas plantas foram colhidas há décadas ou até séculos, muito antes da descoberta do ADN e das suas potencialidades filogenéticas. Hoje no entanto estes exemplares constituem um preciso acervo de informação para botânicos em todo o mundo.

Herbário

A ARTE DAS PRANCHAS.
1. Silene rothmaleri é uma espécie endémica do cabo de São Vicente no Algarve. Foi colhida no dia 20 de Abril de 1945 pelo botânico António Rodrigo Pinto da Silva e colegas.
2. Para fixar as plantas à cartolina, utilizam-se adesivos com cola impregnada numa essência aromática (timol) que evita que os insectos se alimentem desta cola.
3. Sempre que se encontram disponíveis, os botânicos recolhem materiais além das plantas: as sementes podem ser arquivadas em pequenos sacos ou envelopes, constituindo material genético suplementar.
4. As flores e pétalas podem ser reidratadas com água morna para recuperar a sua forma original, permitindo assim observações citológicas, extracção de DNA ou técnicas que ainda venham a ser desenvolvidas.
5. O restritivo específico rothmaleri homenageia Werner Hugo Paul Rothmaler, um importante botânico alemão, que trabalhou neste herbário entre 1938 e 1940.
6. A etiqueta assinala que este exemplar é particularmente precioso porque constitui a referência material do nome científico da espécie.
7. Apesar do valor, estes são registos vivos e em permanente actualização. Uma nota a lápis assinala que o exemplar foi estudado e fotografado em 2011.
8. Rubia agostinhoi é uma espécie endémica da laurissilva dos Açores que presta homenagem ao naturalista (José Agostinho) que primeiro reparou nela. Existem espécies semelhantes na Madeira e Canárias que até há pouco se pensava serem uma só.

O Herbário sediado em Oeiras, na Quinta do Marquês, possui uma das coleções de plantas vasculares mais importantes de Portugal Continental e dos Açores, composta por cerca de 190 000 exemplares. No seu nome o herbário presta homenagem ao agrónomo, taxonomista e pioneiro da ciência da vegetação em Portugal, António Rodrigo Pinto da Silva. Emtre os milhares de espécimes que recolheu encontram-se várias que até então nunca tinham sido descritas. A Silene rothmaleri foi recolhida por ele no dia 20 de Abril de 1945 e é uma espécie endémica do Cabo de São Vicente no Algarve. O restritivo específico rothmaleri homenageia Werner Hugo Paul Rothmaler um importante botânico alemão, que trabalhou naquele herbário entre 1938 e 1940. Igualmente endémica, mas da floresta laurisilva dos Açores, a Rubia agostinhoi também foi colhida e classificada por Pinto da Silva e presta homenagem ao homenagem ao meteorologista e naturalista açoriano José Agostinho que primeiro reparou nela. Ambos os exemplares exibem uma etiqueta que assinala que são particularmente preciosos porque constituem a referência material do nome científico da espécie. Apesar do seu valor, estes são registos vivos e em permanente actualização e por isso notas a lápis realizadas posteriormente podem adicionar ao resisto novas evidências que vão surgindo.

Para fixar as plantas à cartolina utilizam-se adesivos com cola impregnada numa essência aromática (timol) para evitar que atraia insetos se alimentem desta cola e sempre que se encontram disponíveis os botânicos recolhem para além das plantas as sementes que podem ser arquivadas em pequenos sacos ou envelopes. As flores é pétalas podem ser reidratadas com água morna para recuperar a sua forma original permitindo assim observações citológicas, extração de ADN ou técnicas que ainda venham a ser desenvolvidas.

Na sua aparência os herbários podem-nos transportar para um passado distante de velhos naturalistas, mas eles permanecem actuais e indispensáveis para os botânicos do Presente e do Futuro e o seu potencial vai se expandindo com o avanço da ciência e tecnologia.