Usando os quadros de ardósia como tela, os matemáticos criam novas formas de linguagem e arte.
Obsoletos? Dificilmente. Os quadros de ardósia continuam a ser uma ferramenta intemporal para resolver os problemas mais complexos.
Os detractores bem podem troçar da matemática, dizendo que é difícil, abstracta, rígida, aborrecida. Para os seus admiradores, contudo, a matemática é fascinante, criativa e até uma forma de arte. Para estes indivíduos, as telas são quadros de ardósia cobertos de rabiscos, uma estranha mistura de terapia e engenho.
A fotógrafa Jessica Wynne descobriu a beleza da matemática através dos seus vizinhos de Verão, em Cape Cod. Ambos eram matemáticos teóricos e quando os seus amigos – igualmente matemáticos teóricos – os visitavam, Jessica reparava que eles comunicavam ideias complexas e resolviam problemas intrincados, escrevendo as suas ideias em quadros de ardósia. Usavam-nos para colaborar e debater e, acima de tudo, para explorar as fronteiras conhecidas da matemática. Havia quem descrevesse o acto como meditação.
Num mundo cheio de papel, quadros brancos e ecrãs digitais, que papel ainda resta ao giz? “É como perguntar a um pintor por que motivo pinta com tintas de óleo”, resume Jessica, embora também existam aspectos práticos. Os marcadores mancham a roupa e as mãos. Depois, há a questão do som do giz e da sensação que temos ao manuseá-lo: uma pancadinha suave e o ritmo quase como o de um metrónomo. Um matemático da Universidade de Chicago jurou que, se o Departamento de Matemática substituísse os quadros de ardósia por quadros brancos, o corpo docente iria revoltar-se.
Os dilemas da matemática teórica são muito mais difíceis do que encontrar o valor de X ou do que resolver uma equação do segundo grau. Alguns matemáticos tentam descobrir novas verdades universais, como Arquimedes descobriu pi e Pitágoras definiu um triângulo rectângulo. O trabalho no quadro também pode ser um fim em si mesmo, um espaço onde o investigador pode registar os seus pensamentos, sem pressas. Jessica Wynne fotografou um quadro repleto de anotações, na Universidade de Yale, sobre o qual o professor escrevera, num canto: “PF não apagar.” Ninguém lhe tocava há cinco anos.